Capítulo 3

11 2 0
                                    

Era completamente absurda a realidade de que os gêmeos Montserrat estavam sentados na mesa de jantar da minha casa, comendo o tradicional frango tikka masala e palak paneer (um prato feito com espinafre e queijo paneer) que meu irmão sabia fazer tão bem quanto minha mãe.

— Então desde quando você mora aqui? — Sabina Montserrat perguntou, brincando com o garfo em um pedaço de frango. — Você não fez a graduação aqui, fez?

Amir balançou a cabeça, com um sorriso simpático. Agora que os gêmeos já estavam aqui, tinha recuperado toda sua confiança. Ele tinha essa personalidade tranquila, como se estivesse sempre confortável debaixo da própria pele, algo muito distante da minha realidade.

Tinha também o fato de que meu irmão se iluminou como uma árvore de Natal no momento em que viu Karim. Parecia um adolescente vendo seu crush chegar, todo borbulhante e cheio de risadinhas que me fizeram encará-lo como se eu não fizesse ideia de quem era aquela pessoa. Meu Deus.

Karim era facilmente uma das pessoas mais descoladas que eu conhecia. Ele tinha o cabelo castanho-claro repartido no meio como o de um astro de K-pop, o que eu achava que era proposital, e usava um brinco de argola em uma orelha só. Vestia uma camisa de seda aberta até o peitoral e tinha aquela energia de fanfarrão que te fazia crer que, se você colasse com ele, teria a melhor noite da sua vida — o que eu não sabia se era verdade.

Ele era alguns centímetros mais alto do que Amir e fiquei completamente chocada quando a primeira coisa que fez quando botou os pés na minha casa foi segurar meu irmão pelo rosto e lhe tascar um beijo. Meus olhos saltaram do rosto, sem acreditar no que eu estava vendo, mas o mais chocante ainda era o que estava por vir.

Sabina Montserrat.

Ela, um pouco atrás do irmão, fez uma careta de nojo debochado quando Karim fez sua grande entrada dramática. Eles eram gêmeos, mas não se pareciam muito. Os longos e espessos cabelos de Sabina estavam presos em um rabo de cavalo, sua marca registrada, e os enormes olhos dela no mesmo tom de castanho-escuro observavam tudo com minúcia. Ela era magra e elegante, parecendo ser exatamente a menina malvada e esnobe que eu sabia que era. Sua outra marca registrada, as sobrancelhas grossas e escuras, permaneceram inexpressivas enquanto ela ficava parada ali na porta de entrada da minha casa como um objeto que foi posto no lugar errado.

Sabina tinha a capacidade de fazer qualquer um se sentir deslocado na sua presença imponente de superioridade. A última coisa que eu esperava era que ela um dia estaria comendo tikka masala na mesma mesa que eu enquanto jogava conversa fora com meu irmão.

— Eu resolvi fazer mestrado aqui — Amir explicou. — Quando as aulas voltaram a ser presenciais, no início do ano passado, eu e a Hanna fomos morar juntos. Ela já morava aqui em uma república, mas fez mais sentido pra gente alugar algo juntos.

Sabina, que estava sentada de frente para mim, me encarou pela primeira vez desde que nos sentamos. Ela não disse nada, mas aquele simples olhar foi o que bastou para fazer meu rosto arder em uma combinação de constrangimento e raiva.

Ela logo desviou, como se não valesse a pena prestar atenção em mim por muito tempo.

— Karim me disse que você é biólogo — continuou a conversa. Então soltou uma risada de escárnio e encarou o irmão. — Na verdade, ele me disse primeiro que você estudava dinossauros.

— Ei, dinossauros são répteis — Karim se defendeu, apontando o garfo para a irmã.

— Sim, mas dinossauros estão mortos — Sabina rebateu. — Acho que o Amir dá preferência a estudar os répteis que estão vivos.

Como Viver Para Sempre (degustação)Where stories live. Discover now