คาธ -The Eclipse

Oculto

O barco sacolejava tanto que era quase impossível se manter em pé. Ayan e Akk estavam imersos em seus pensamentos. Akk havia se deixado levar por tudo que Ayan lhe havia dito e, num ímpeto apaixonado, o havia beijado de surpresa. Seu rosto permanecia quente pelo ato impensado. Seus olhos estavam evitando os de Ayan, pois sabia que se os olhasse, seria novamente seduzido por eles, novamente capturado por eles e ele não aguentava mais sua imprudência e fraqueza perante aqueles olhos. Temia que sua imprudência os levasse ainda mais longe.

Ayan observava Akk que tinha sua cabeça levemente baixa, com o olhar fixo no chão do barco. As ondas continuavam ruidosas e o sol brilhava soberano sobre eles. Ayan pensava em Akk e como parecia envergonhado com o que acabara de fazer. Ayan conseguia sentir a profundidade de seus sentimentos e como o jovem os combatia, tentando abafá-los, sem sucesso. Contudo, sabia também que acabaria sufocado com tudo que sentia. Pois, o próprio Ayan também estava prestes a sufocar com tudo que ainda não pudera lhe dizer. O amor que sentia precisava ser expresso em toda sua amplitude, pois trazê-lo em seu coração, em segredo, era um ato criminoso. Não ser claramente sincero com Akk sobre seus sentimentos era injusto para com o amor que despertara entre os dois.

"Akk? Você está me evitando?"

"Não". Akk respondeu, desviando o olhar do chão do barco para o mar à sua volta, pois estava determinado a evitar, ao máximo, olhar para aqueles olhos solares novamente.

"Eu já te disse... Quando eu estiver falando com você, olhe pra mim!", a voz de Ayan soava penetrante, convidativa e, novamente, enervantemente íntima. Akk pensava, sentindo uma onda de temor que parecia percorrer sua espinha.

Akk, novamente, obedeceu ao comando de Ayan.

Ambos se olharam longamente. Seus olhares não conheciam reserva, não julgavam, nem racionalizavam o que profundamente sentiam, penetravam-se, apenas; avidamente, amorosamente, intensamente e se amavam, tornando-se um único ser de puro amor. Seus olhares nunca mentiram ou se repeliram, pois eram sinceros e transparentes. Ambos conheciam precisamente o que sentiam um pelo outro, pois seus olhares lhe diziam tudo que não tinham coragem de colocar em palavras.

Seguindo o que o olhar de Akk lhe pedia tão devotamente e seu coração lhe sussurrava. Ayan se aproximou do rosto de Akk que brilhava com as cores da paisagem que se mesclavam ardentemente a ele. Segurando com uma das mãos no banco, Ayan se inclinou em direção a Akk.

Akk estava hipnotizado pelos olhos de Ayan. Que luz é essa que faz seus olhos brilharem tanto, Ayan? Via o universo inteiro naquele olhar e podia ficar horas tentando entender o porquê de parecerem tão preciosos, tão belos, tão queridos. O que era esse brilho, afinal? Akk sentia seus sentidos deixarem-no, enquanto Ayan se aproximava cada vez mais... Não havia como recuar, não conseguia desviar, impedir, recusar... Olhava seu belo rosto e a audácia nele. Sentia o cheiro do sol e do mar envolvendo-os.... E se eu apenas me entregasse? E se eu me deixasse fundir a essa sensação de conforto que parece me fazer derreter, a esse calor agradável e amoroso? Os lábios de Ayan são macios. Seus cabelos são macios. Seu corpo é macio, assim como seus sentimentos por mim. Tudo é gentil e carinhoso, então, por que lutar? Akk sentia a respiração cálida de Ayan soprar em seu rosto. Sentiu a proximidade ...

Mas eu não posso, Ayan! Não sou tão corajoso quanto você! Não é tão simples pra mim! Nunca é simples pra mim...Você é livre e eu sou um condenado, um prisioneiro de mim mesmo. Enquanto você caminha na luz do sol, eu vago nas sombras, preso aos meus medos, à minha insegurança ... Isso nunca vai mudar. Você merece alguém melhor! Sentenciava Akk, das profundezas de seu abismo mental.

Quando Ayan estava prestes a tocar seus lábios nos de Akk, estes foram ocultados por uma mão de dedos longos, delicados, trêmulos, mas impiedosos ao afastarem levemente seu rosto. Akk o impedira de beijá-lo.