●20. caçada

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Caçada: Ação ou efeito de perseguir, de ir atrás de algo ou de alguém.

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Eu definhava com a pressão de Albert. Ele me chamou pra uma espécie de "parceria" macabra, mas pra mim isso mais se parecia com uma brincadeira, um jogo sádico pra ele se divertir, me persuadindo a sequestrar um menino pra ser torturado e morto. Sentada na mesa do escritório, o homem estava de pé a frente entre as minhas pernas, segurando firme nas minhas coxas.

- O que vou ganhar com isso? - questionei insegura e indefesa. - Se eu fizer o que o senhor deseja... se eu for procurar um garoto com você, pra você... O que eu ganho com isso?

- A pergunta certa é "o que eu não vou perder?" - corrigiu. - Você não vai perder essa casa, bebida sempre que quiser, a comida que eu faço pra gente, uma cama pra dormir...

- Isso exige muito de mim. Mais do que já me doei e me entreguei pro senhor e pelo senhor. - constatei, os olhos enchendo de lágrimas. - Eu não planejava que fosse assim. Se eu recusar essa ideia louca, o que acontece? Vou ser jogada na rua? O senhor tava cuidadoso antes com o fato de eu me expor por aí, pois caso a polícia me pegue, podem descobrir onde eu me escondia e isso vai foder pro seu lado.

- Não, criança. - ele respondeu com calma. - Eu ainda sou cuidadoso. Quando eu disse que você perde a serventia, era porque eu te descarto caso recuse minha parceria. Mas eu não vou te largar na rua. Quando eu te mandei embora, eu tava jogando com você, porque eu tinha certeza que não ia. Se fosse pra ir, eu sei que já teria ido faz tempo na primeira chance de fugir. Eu te falei que não sou louco de te abandonar, que somos parte de um do outro, lembra?

Eu o encarava confusa e respirando lentamente pra não deixar as lágrimas escorrerem.

- Então o que fará comigo se eu recusar??

- Vou te jogar no porão de novo e depois decido o que fazer.

- Não! - exclamei, horrorizada e descrente que ele cogitava fazer aquilo comigo, depois de tudo o que sacrifiquei e fiz por ele. - Não pode fazer isso comigo! Eu cuidei do senhor! Te levei no hospital! Salvei sua vida! Até enterrei o Vance, limpei sua casa, alimentei o Samsão! Fiz tanto pelo senhor, acabei de me declarar, Al! - falava aumentando a voz e com a mão trêmula sobre meu tórax, as lágrimas insistentes caíram pesadas. - Falei de amor pro senhor e agora pensa me jogar de novo no porão como se eu fosse um monte de bosta qualquer!

Albert ouviu as primeiras queixas mas a medida que eu me exaltava, ele soltava as minhas coxas, onde ainda estava com as mãos repousadas, e começava a bufar cansado olhando pro teto demonstrando impaciência.

- Jesus, Blair. - falou quando terminei. - Que escândalo. Será que não vê que tudo que você passou até agora foi um preparo pra esse momento? Eu tô pondo nas suas mãos. - ele lembrou, como se eu tivesse controle de alguma coisa. - O que vai ser?

- O senhor é um... é um... - eu queria xingar tanto, empurrá-lo de perto, bater, puxar aquele cabelo grisalho, esmurrar a cara de afronta dele, mas era impossível... era como se algo me impedisse, algo barrava, como uma força invisível que me tomava e segurava feito uma marionete.

- Sou um o quê? Fala, criança... - ele desafiou, erguendo o queixo, o sorriso de canto de lábio se esticando com os olhos afiados ansiosos por um motivo pra me bater.

Não suportei, algo em mim insistia em se rebelar ou minha loucura culminaria em mais e mais submissão, e eu não estava preparada pra ajudá-lo a tirar a vida de uma criança, não podia chegar a isso! Unindo forças de onde não tinha, estiquei os braços e empurrei o homem de perto de mim, me debatendo para me livrar da aproximação, garras e manipulação dele. Num ímpeto, me preparei para descer da mesa, mas Albert me segurou pegando firme pela cintura e agarrando. Eu grunhi agonizada e empurrei de novo, numa rápida e inesperada luta, choquei o joelho contra a barriga dele.

The Final Girl  ◇The GrabberOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz