●26. suicídio

354 25 8
                                    

Suicídio: Pôr termo à própria vida; cometer suicídio, matar-se. Causar a própria ruína; arruinar-se.

---------

Bruce estava morto. Albert carregou o corpo amolecido, sem vida e violado do garoto para fora da cozinha, a sola do sapato deixando pegadas de sangue no piso. Eu o acompanhei com o olhar, ainda presa com as algemas sob a mesa. Eu estava suja, apavorada e descrente do que realmente havia acontecido. Era impossível suportar, era inacreditável e inaceitável... Mas era real.

Ouvi o barulho da porta traseira da van batendo e não demorou muito, Albert retornou. Ainda sem camisa, a camada de suor cobrindo o tórax e abdômen se misturava com sujeira. Ele se adiantou para perto de mim e agachou para me encarar. Ainda usava a máscara de boca trágica envergada pra baixo.

Me analisou por um tempo, enquanto eu o encarava de volta com pavor, como se visse um monstro na minha frente. Depois, arrancou a máscara de sobre a face. Eu vislumbrei seu rosto úmido e levemente marcado. Não sabia o motivo, mas quando ele retirou a máscara foi pior. Talvez porque mostrou que não se tratava de um monstro, afinal... Me lembrou que era só um homem comum. Porém desumano, capaz de cometer brutalidades com a frieza de um animal primitivo.

- Precisamos de um banho... - ele suspirou a frase, despreocupado.

Pegou a chave no bolso traseiro da calça e soltou minhas algemas da perna da mesa. Eu continuei em estado de choque, ainda o fitando sem piscar.

- Você vai tomar banho, eu vou enterrar Bruce antes. Você tá bem? Por que tá me olhando assim?

Abaixei a cabeça e permaneci calada. Ele esperou que eu dissesse algo mas logo desistiu, se colocando de pé novamente.

- Tsc, que seja. Eu já volto.

Ouvi os seus passos se afastando. Ele se retirou da casa e me deixou sozinha por enquanto. Era pra eu ir tomar banho mas eu não conseguia sair do lugar. Continuei sentada debaixo da mesa, olhando a outra mesa na minha frente que gotejava sangue pro chão, lento e suavemente, gota após gota formando uma poça. Bruce estava lá há instantes atrás, e agora seria enterrado no porão da outra casa, junto com os outros meninos.

Só havia restado o sangue dele e o eco de seus gritos. Eu não conseguia mais. Me levantei com dificuldade e vi a faca com a qual Albert havia matado Vance, e agora havia matado Bruce, em cima da mesa, coberta de sangue também, do cabo à lâmina. Peguei a faca com cuidado. Me arrastei devagar em direção ao quarto de Albert. Entrei no banheiro, abri a torneira da banheira e esperei encher. Arranquei a calça que eu ainda usava e entrei na banheira sentindo meu corpo submergir na água morna.

A faca afiada estava comigo. Quando a mergulhei, filetes avermelhados se soltaram. Lavei-a gentilmente e apoiei a ponta sobre meu pulso direito. Eu não chorava, não sentia dor, não sentia sede nem abstinência, o medo e o pânico me abandonavam devagar. Quando passei a lâmina contra minha pele e afundei na artéria, não senti nada, além de um grande alívio que se espalhou pelo meu corpo, a medida que minha vitalidade se esvaia e manchava a água de vermelho.

Sem quase conseguir segurar a faca, tentei repetir o mesmo corte no pulso esquerdo. Mais sangue fluiu para fora. Apoiei a cabeça na beirada e fechei os olhos, me deixando levar pela fraqueza.

O mundo ficou em câmera lenta e o oxigênio ficou pesado. Quanto mais sangue abandonava meu corpo, mais escuro o banheiro se tornava, e a escuridão dele me tomava me levando embora.

Eu estava quase inconsciente quando Albert chegou. Letárgica, enxerguei a imagem dele gritando comigo, me arrancando da banheira e tentando me trazer de volta, porém, eu o via através de um véu negro e espesso. Esse véu me envolveu fazendo mais e mais sombra, me cobrindo e me acalmando, e eu me deixei levar. Albert se tornou um pesadelo distante preso em um mundo que eu não fazia mais parte.


The Final Girl  ◇The GrabberDonde viven las historias. Descúbrelo ahora