CAPÍTULO 2

366 57 11
                                    

ALGUMAS SEMANAS ANTES
Ela abriu os olhos e olhou em volta, paredes cinzas e nenhum cheiro, estaria no hospital da Reserva?
"Olá?" Ela apurou os ouvidos, nada. É claro que eles eram muito silenciosos, eficientes e falavam baixo, mas ela não ouvia nenhum barulho.
"Oi?" Ela chamou de novo. Nada. Ela estava ligada naqueles montes de aparelhos, havia um acesso em seu braço. Ela olhou para seu braço, sua pele estava mais morena. Suas mãos pareciam menores, suas unhas também estavam diferentes. Ela aproximou sua mão do rosto, havia alguma coisa errada.
Ela tocou em seu rosto e soltou um grito. Aquele ali não era seu rosto!
"Bem na hora! Então deu certo!" Ela olhou para a porta e aí sim, ela se deseperou e gritou de novo e de novo até que se sentiu desfalecer.
Quando acordou continuava no mesmo lugar e a mesma pessoa que tinha entrado no quarto e a assustado continuava também ali.
"Se gritar apagamos você de novo." Ela engoliu o grito e desviou o olhar.
Tinha de pensar. Pensar em como foi parar naquele lugar e com aquela aparência.
"Isso. É bom lidar com pessoas espertas que controlam o pânico em nome da sobrevivência. E você é uma sobrevivente. Não é?" Era muito difícil olhar para a outra, ou parar de sentir os relevos de sua nova cara.
"Tome." Um espelho foi colocado a frente dela, ela arregalou os olhos.
"Bonita, não?" A outra riu.
"Bem melhor que da última vez."
"Quanto..."
"Anos." Ela fechou os olhos e deixou uma lágrima rolar por seu rosto. Não, aquele não era o seu rosto.
"Eu tenho duas alternativas a seguir e gostaria muito mais de seguir por uma do que por outra." Ela devolveu o espelho. Sobreviver. Ela precisava sair dali. Se saísse, aquela cadela iria pagar, simples assim. Ia pagar por tudo.
"Na alternativa um, a que eu gostaria de seguir, você será resgatada, levada para a Reserva. Seria bom, não seria? Lá você vai fazer algumas coisinhas para mim, mas vai viver lá sem ser importunada. Viu? Não é uma boa alternativa?" 
Um lindo bebê Nova Espécie apareceu na mente dela, gordinho com olhos e cabelos castanhos, canino. O coração dela se encheu de amor pelo bebezinho. Quem seria ele? Ela sorriu, mas depois voltou a expressão atenta.
"Já a segunda alternativa acontece se você se negar. Eu terei de te tirar desse corpo, acabar com você e colocar outra pessoa. Uma pessoa que não se importa muito com eles, que irá fazer do lugar um inferno. Resumindo, vai me dar trabalho, não é de confiança e não tenho como segurar os cordões dessa pessoa como posso segurar os seus."
"O que vai me impedir de contar?" Ela perguntou, a outra sorriu.
"Eu tenho o controle sobre você, sempre tive. Mas você pode tentar se rebelar e aí você morre." Ela encarou a outra e não sentiu nada. Mas só de pensar em voltar a Reserva!
"Há, é claro, a tentativa de me superar, isso é o que eu ofereço. Se conseguir se libertar, estará livre." A outra sorriu segura de si. Muito segura, a vadia.
"O que vai ser?" Ela deu de ombros, nunca perderia a chance de vencer aquela puta.
"Sabe muito bem a resposta, puta!" A outra riu, riu muito. A arrogância era uma fraqueza não uma força, e ela se agarraria nisso.

Honor olhou para Olívia, ela deu um passo para trás tirando as mãos das costas dele, o que ele agradeceu. O toque dela o queimou.
"É mentira!" Ela disse, Honor foi abrir a porta. Adriel entrou, Honor trancou a porta. Se fosse uma armadilha ele o mataria. Adriel olhou com cautela ele trancar a porta, o medo visível em seus olhos, isso era bom.
Livie cobriu a boca com a mão quando o viu, os olhos dela estavam muito abertos, ela estava espantada e admirada ao mesmo tempo. Honor franziu as sobrancelhas, Adriel devia provocar admiração nas fêmeas, ele parecia um anjo de asas negras.
"Não estou mentindo. Você recuperou a memória com poucas semanas, mas decidiu apagar suas lembranças, não me pergunte por quê."
Ela o encarou, eles travaram uma luta de olhares, ela foi a primeira a ceder.
Adriel era fraco fisicamente entre os Novas Espécies, mas era um mestre no campo mental, Honor entendia que havia poderes diferentes. Sua mãe era poderosa de várias formas, por exemplo, ainda que fosse pequena e humana.
"Mesmo que o que está dizendo seja verdade, eu não saberia fazer o que você está me pedindo."
Ele assentiu, ela esperou.
"Eu preciso de sua palavra de que não vai mudar a minha personalidade." Ela sorriu, Honor desviou o olhar do rosto dela. Ela já deveria ter ido embora, ele já estava sentindo seu controle fraquejar.
"Eu só vou fazer o que você me ensinar." Adriel acenou. Ele se ajoelhou ante Olívia, os olhos dela foram para suas asas, ela parecia uma criança.
"Pode tocar." Ela sorriu e olhou para Honor como se perguntasse o que ele achava dela tocar as asas de Adriel, Honor estava com os dentes travados, Adriel estava muito perto dela, perto demais. Ela baixou os olhos, o que ela queria, um sorriso? Que ele dissesse, 'isso, toque em outro macho'?
Ela alisou as penas, Adriel fechou os olhos, Honor rosnou. Olívia retirou a mão da asa dele e deu um passo para trás.
"Diga o que eu tenho de fazer." Ele assentiu, os olhos dela ficaram vagos.
"Se fizer mal a ela, eu destroço você." Honor ameaçou, Adriel o encarou.
"Não sou idiota, sei que você me mataria." Ele fechou os olhos, Livie abriu a boca, Honor rosnou. Ela e Adriel ficaram imóveis, e depois de vários minutos, ele não sabia o que fazer, seu corpo aqueceu com o perigo que ela corria. Algo estava errado! Honor rugiu e ia torcer o pescoço de Adriel, quando ela abriu os olhos.
"Desgraçado!" Ela disse, Adriel ficou de pé.
"Foi o preço que Samantha cobrou para que eu e a minha mãe fôssemos livres. Me perdoe por isso."
Ela respirou fundo e fechou os olhos.
"Agora, você vai morrer." Adriel se voltou para Honor.
"Ela não é capaz de me matar. Se tentar, ela morrerá. O que escolhe?" Honor ficou confuso, ele não entendeu nada. Livie abriu os olhos, ela estava concentrada em Adriel, mas não parecia estar causando dano algum. como Honor era alguém prático, ele pegou Adriel pelo pescoço.
"Ele libertou minhas memórias. Eu me lembro de tudo." Ela disse. Honor jogou Adriel contra a parede, ele fez um som estranho.
Ela foi andando de costas e se sentou no sofá. Honor se agachou a frente dela, as lágrimas vieram, os lindos olhos dela transbordaram.
"Gatinho tímido." Ela tocou no rosto dele, ele não conseguiu olhar para ela. Ele não era mais o Honor de antes.
"Eu sei que você entende. Minha mãe, não é a melhor mãe do mundo, mas é a minha mãe." Ele disse, Honor se forçou a se levantar, os olhos dela voltaram a ser os olhos de antes.
"Vai me deixar ir?"
Honor olhou para Olívia, ela deu de ombros.
"Ele pode ser útil. Eu tenho acesso a mente dele agora. Se ele aprontar de novo, você o mata." Honor sorriu cruelmente para Adriel, o medo foi facilmente detectado nas íris azuis.
Honor destrancou a porta, Adriel saiu, Honor ficou vendo ele andar até que tivesse espaço para abrir as asas e voar.
"Esse idiota nem deve saber correr."
"Na verdade, ele alcança uma velocidade incrível, superior a de vocês. Ai, meu Deus, como eu sei disso? Eu entrei bem fundo na mente dele." Ela entrou no banheiro falando consigo mesma.
Honor andou de um lado a outro, tentando tirar de sua mente que ela estava nua debaixo do chuveiro. Ele sabia que ela não poderia ficar ali muito tempo. O controle dele estava por um fio.
Ele se sentou a mesa e resolveu comer o resto da carne de gosto horrível de Vengeance. Como ele conseguia deixar a carne daquele jeito?
Ela saiu do banheiro vestida com um vestido longo, decotado. Os seios dela eram pequenos, no vestido pareciam maiores.
"Só tem a carne que papai mandou?" Ele abriu a geladeira e retirou de lá a carne que Candid tinha mandado e ligou o fogão.
"Quer que eu faça?" Ele balançou a cabeça de costas para ela.
"Penteie seu cabelo, está parecendo um ninho de passarinho." Ela riu, ele apertou os dentes.
Ele retirou as sacolas da mesa, ainda havia frutas, ele colocou numa fruteira, uma vasilha com arroz e outra com uma salada verde. Ele dispôs a salada e o arroz na mesa e a carne que ele acabara de fazer.
Ela comeu com gosto, Honor olhava para todos os lados menos para ela. A mudança era nítida. Ele estava desconfortável. Ela suspirou e o encarou.
"Eu acho que devo te explicar algumas coisas." Ele se levantou.
"Talvez deva explicar para Sheer e Lily, ou para Pride, ou para seu pai. Eu? Quem sou eu na sua vida, Olívia?"
Ela sorriu.
"Se eu tivesse descoberto isso a tempo! A primeira vez que eu vi você foi no hospital, no meio da bagunça que foi quando Harmony nasceu. Todos queriam vê-la, eu achei estranho um simples bebê ter turnos de visitas. Quando um grande homem bem loirlo apareceu e se ajoelhou ante a cama, eu entendi que não era sobre apenas um bebê, era o futuro dos Novas Espécies." Ela disse.
"Era o Oaks. Ele é todo durão, mas se derrete ante os bebês. Torrent  ajudou os da zona Selvagem a se encontrarem, a aprenderem a viver em sociedade, eles o amam. Harmony é uma estrela para eles." Honor disse olhando para a parede. Não poderia olhar para ela.
Não quando descobria que ela também o viu naquele dia.
"Você tinha os olhos baixos e esperava pacientemente para se aproximar. Quando Grace perguntou se a parede estava em vias de cair, você sorriu e respondeu que como engenheiro recém formado você podia dizer com certeza que não. Eu ri. Grace me olhou naquele momento. E a tia Mari me chamou e eu saí do quarto."
Honor a encarou e disse:
"Por quê?" Ela sorriu.
"Por que sentimentos atrapalham. Eu amei meus filhotes, mas num impulso idiota eu fui embora. Eu tive medo de Pride. Um medo muito grande. Um medo paralisante. Então eu fui. E menti para mim mesma que estar presente na mente e nos sonhos deles era suficiente para eles e para mim. Outro erro. Lily vive num mundo a parte, mas Sheer vive num mundo literal. Ter a mãe nos sonhos não foi suficiente para ele, ele se rebelou e cortou nosso laço. Ele se voltou para sua mãe e assim que conheceu Minerva ele a acolheu." Honor segurou na mão dela.
"Consequências, Olívia. Não dá pra fugir." Ela acenou.
"E aí tudo o que restou foram as noites com Pride. Escavações no Egito, touradas na Espanha, castelos mau assombrados na Escócia. Tudo muito batido, muito clichê. As drogas fizeram seu trabalho, o tempo passava , monótono, vazio. Até que eu me vi nos olhos de Lily e lá estavam seus olhos. Os olhos mais lindos que eu já vi. E então vieram as conversas. E depois as risadas bobas. Até que Evan me levou para um lugar e fez coisas comigo, eu não era mais eu. E Violet veio logo quando vovó tinha me achado. Ela me trouxe antes do tratamento do Bill surtir efeito e daí você sabe o resto."
"Samantha." Ela acenou.
"Sim. Eu me fingi de fraca, a mente dela era densa, era suja. Se ela sentisse que eu era uma ameaça, me mataria. Ela tinha esse poder. Só quando eu entendi como retirar o chip dela de mim, é que eu agi. Pride ajudou, ajudou muito. Mas você pagou."
Honor a encarou, ela olhava para as mãos deles unidas.
"Eu enterrei tudo isso por que eu precisava proteger a todos nós. Sentimentos me enfraquecem, minha mente é forte, mas eu preciso de uma certa insensibilidade. As ameaças estão mais fortes do que nunca. E também por que..."
"Por quê..." Ela olhou para o chão.
"Assim que eu fiquei livre de Samantha, assim que as memórias voltaram, eu vi as coisas sob outro prisma. Eu vi o meu egoísmo, ao deixar os meus filhotes, e ao prender Pride num mundo de fantasia sendo que toda a manhã ele acordava para um mundo de solidão. E eu o prendi a mim de uma forma totalmente canalha anulando na mente dele o vínculo com Minerva. Ele não merecia isso. Eu me vi como uma pessoa horrível. Isso aliado ao fato de descobrir que ainda estou conectada a Samantha, mesmo que em menor grau, me fez tomar a decisão de apagar a minha memória. E eu fiz."
Honor pensou em tudo o que Olívia disse, e entendeu que era outra forma dela fugir das consequências. Ainda que seu motivo fosse plausível.
"E agora você quer ir para a Inglaterra. Eu não consigo ver de outra forma que não uma outra fuga."
Ela bufou.
"Eu não vou para a Inglaterra. Eu quero fugir de você. Você está me fazendo sentir, mesmo sem me lembrar." Honor se enfureceu.
"Para onde você iria então?" Ela foi até um cesto, onde as roupas sem lavar estavam. Ela pegou uma calça e tirou um desenho do bolso. Ela entregou o desenho a ele.
"O que é isso?" Ela abriu bem o papel amassado e uma mansão estava em primeiro plano, a direita havia um helicóptero quebrado e uma árvore ao lado de uma cabana.
"Harrison riu muito quando eu perguntei o que significava. Primeiro eu só vi a mansão. Essa é a casa da minha avó. Depois veio a notícia da quebra dos helicópteros e depois eu vim aqui e fiquei presa." Honor ergueu as sobrancelhas.
"Há um pássaro aqui." Ele apontou para o céu." Ela acenou.
"Eu não iria para a Inglaterra. Há uma cabana depois das terras de Lash. Eu e Harrison iríamos para lá."
"Mas iriam mentir?" Ela deu de ombros.
"Bom, e agora?" Ele perguntou.
Ela baixou os olhos.
"Eu preciso me isolar. Eu preciso disso para expandir minha mente. Antes eu tinha de te achar, Agora tenho de ir atrás de Samantha."
"Mas você pode fazer isso sem precisar apagar as suas memórias." Ela balançou a cabeça.
"Ainda há um elo. Esse elo se fortalece com o meu medo, com a saudade, com a tristeza. Eu preciso da anestesia que vem com a minha mente sem memórias e sem a sua presença também. Você me fez sentir coisas de novo, raiva e frustração e desejo. Isso nubla minha força mental."
"E se você sentisse amor? Ou carinho, afeto, paixão?" Ela sorriu.
"Isso a afasta, mas ainda assim, ela teria seu espaço. Um espaço pequeno, mas que poderia aumentar se eu estiver ocupada sentindo amor por você. Eu tenho medo de dar a ela uma mínima chance de machucar vocês. Ela ter mandado Adriel restaurar minhas memórias só confirma o fato de que eu não posso dar nenhuma chance a ela."
Honor fixou os olhos nos dela, estavam quentes, muito verdes. Ele sentiu seu corpo aquecer e uma coisa que não acontecia em muito tempo, tanto tempo, que ele tinha esquecido do quanto era bom.
"Olívia..." Ele se afastou. Ela suspirou.
"Eu bloqueei muito de mim, mesmo estando sem memória. Mas agora parece impossível bloquear a minha..." Ela olhou para a virilha de Honor, ele inspirou e cambaleou.
Uma das coisas que o permitiu ficar ali com ela sem tocá-la era exatamente o fato de não sentir excitação da parte dela. Mas agora...
Ele correu para a porta e a destrancou.
"Vá. Vá antes que eu tome você." Ela sorriu e não se levantou.
"Acha que consegue tirar antes de gozar? Ou haveria camisinhas nesse lugar? Por que a única coisa que me impede de ter você dentro de mim é a porra da salada de frutas." Ele deixou o queixo cair. A Olívia que foi para Homeland ovulando e compartilhou sexo com Pride nas escadas estava de volta?
"Você não pode estar falando sério." Honor rosnou. Ele ficou parado segurando a porta de madeira maciça, quando viu tinha furado a madeira com as garras.
"Você acha que eu sou inconsequente, não é? Talvez eu esteja sendo, mas eu queria muito te sentir. Sentir seus lábios, suas mãos. Isso é tudo pelo que eu quis durante tanto tempo! Acha errado eu querer isso pelo menos uma vez? Por que depois, eu vou atrás de Simple, ele pode me ajudar, eu devo continuar como eu estava. Seca, vazia..." Uma lágrima desceu pelo rosto dela.
"Você não precisa, você pode..."
"Você não ouviu tudo o que eu expliquei? Adriel vir aqui significa que eu acertei em esvaziar minha mente, em não reter sentimentos por ninguém, por que isso me ajuda a me focar, ajuda a identificar a ação de Samantha aqui. Não vou deixar aquela desgraçada magoar, ou pior fazer mal a ninguém aqui. Eu a trouxe, eu a expulsarei." Ela gritou, seus olhos eram agora da cor das folhas das roseiras de sua mãe, verdes escuros, intensos.

FILHOTES DE VALIANT - HONORWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu