Faminto

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Draco

Eu odiava ele

Odiava sua pose aristocrata, seu nariz arrebitado, sua tolerância fria e seu narcisismo

Odiava amar ele, odiava odiar ele

Odiava, pincipalmente  por ser tão igual a ele

Eu não queria. Mas dizem que a fruta não cai tão longe assim da arvore. Eu fui criado para ser ele, para sorrir igual a ele, falar igual a ele, pensar igual a ele, agir igual a ele. Até achar que ser um supremacista de sangue era normal e adorável, como os amigos dele adoravam pronunciar

"Você tem um papel a interpretar Draco" Chicotada

"Você tem que aprender a ser um Malfoy, Draco" Chicotada

"Você foi um ser humano descente Draco?" Chicotada

Por favor, não me julgue por amar ele, ele não era sempre mal. Acho que uma parte dele, que não morreu, sabia que devia amar o filho. Ou ele sabia que um animal em cativeiro não sobreviveria muito tempo sem alimento. O meu alimento era a aprovação dele

Ver ele dar um sorriso mínimo e acenar uma vez.

Eu gostava de chamar de "aprovação Malfoy"

Ele contava histórias para mim, normalmente racistas e cruéis, que apontavam a importância de ser poderoso e temido. Ele me ensinou a voar em uma vassoura, mesmo depois tendo quebrado meu braço quando não consegui fazer o movimento certo pela terceira vez seguida. Ele sussurrava palavras gentis, limpava o sangue, curava os cortes causados pela bengala dele, mas já era alguma coisa

Ele me deixava faminto por amor e depois me alimentava com afeto. Dizia que me amava, que era pelo meu bem, que quando eu crescesse eu iria entende-lo, que o mundo era cruel e ele só estava me preparando, tudo isso enquanto rasgava minhas costas, pinceladas vermelhas em um quadro branco, movimentos fluidos e sincronizados

1..

1,2...

1...

1,2,3 ...

Eles recebiam aulas? Recebiam apostilas? 'Aprendam a chicotear seus filhos: primeiro volume grátis!'

Eu me treinei para não sentir. "Pense em outra coisa Draco", eu dizia no eco de dor em minha mente, "Conte as brechas no papel de parede, decore a cor do escritório, conte todos os títulos de livros nesta estante histórica. Pense, pense, pense, não sinta, não sinta, nunca sinta. Acaba mais rápido se você se distrair, apenas não sinta, em hipótese alguma"

13 brechas, em todas as 4 paredes. Vermelho desbotado, uma parte minha se perguntou se aquelas machas mais escuras eram de sangue. Meu sangue? Sangue de Malfoy's de outras gerações? Será que o sangue dele estava naquelas paredes vermelhas desbotas? 156,897 livros na estante no escritório, devia tirar um tempo e ir contar os da biblioteca

Acho que treinei minha mente bem demais. Ficou mais fácil depois de um tempo. Não sentir a dor excruciante que rasgava minhas costas, ou o sangue quente que descia pelo meu corpo, até pingar em um som oco no chão de madeira polida. Ignorar a dor o suficiente para não precisar mais gritar, apenas alguns suspiros audíveis. Não deixar mais as lagrimas salgadas escorrer pelo rosto pálido. Malfoy's não choravam. Nunca

Você me deu a aprovação Malfoy quando eu entrei para a sonserina, me bateu quando contei sobre o incidente do trem. Aprovou quando entrei para o time de quadribol, mesmo tendo sido você que comprou minha entrada, me bateu quando perdi o primeiro jogo oficial. Acho que foi a última vez, em um bom tempo que você sorriu mínimo e acenou uma vez.

Deve ter sido isso, essa a conclusão que me fez lutar por anos até conseguir ter ela de volta

E eu consegui, quando senti a pior dor da minha vida. Quando senti o sangue queimar em minhas veias, quando senti me pulmão dobrar sobre si mesmo atrás de ar, meus nervos querendo escapar por minha pele, meu cérebro vibrar em meu crânio. Eu não chorei. Nenhuma lagrima. Malfoy's não choram

E ali estava ela. A marca. De um preto tão escuro, que dava a impressão de sugar toda a luz do mundo, talvez realmente o fizesse.

E ali estava você, e seu sorriso mínimo estupido. Seu aceno estupido. Minha aprovação estupida

Um pedaço de mim morreu naquele dia. Depois de vomitar no vaso, tremer e gritar sob um feitiço silenciador, eu jurei que não ia deixar você tomar mais nada de mim

Mas uma coisa você conseguiu pai. Acho que dominei a expressão fria Malfoy

Por que, enquanto um Dementador sugava sua alma podre do seu corpo impotente. Tudo que eu fiz foi encarar neutro, mesmo quando tudo que eu queria, era sorrir aliviado

Scars - DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora