Harry
Não sei como isso pode ser uma boa ideia
Refazer o sétimo ano
Não me leve a mal, e apoio a ideia de estudar, rever meus amigos, passar com boas notas nos N.I.E.M.s
O que me apavora e me preocupa, na verdade, é a ideia de voltar ao castelo
Ver a destruição no lugar que eu chamei de lar por 8 anos. Ver o olhar de luto nos familiares e amigos daqueles que eu não consegui salvar. A dor das lembranças, que cada corredor carrega. A devastação em cada sombra, os gritos e lagrimas em cada risada alta, lembrar dos imperdoáveis toda vez que alguém entoar um feitiço
Vou conseguir evitar que esses fantasmas não me sufoquem?
Quando eu recebi a carta, pela oitava vez, o sentimento de euforia e excitação foi inevitável, só de pensar que eu poderia tentar de novo, uma última chance de um ano simples. Mas foi quase imediatamente sufocado pelo medo.
Sinceramente, não sei do que estou com mais medo, do julgamento e atenção desnecessários, das lembranças dolorosas, ou de mim mesmo
Não sei como isso pode ser uma boa ideia
E mesmo assim, aqui estou eu, vendo as árvores passarem correndo pela janela do expresso, fingindo prestar atenção enquanto Ron comenta, com os olhos brilhando, sobre suas férias, sobre sua família voltando aos trilhos e seu namoro com minha melhor amiga. Não nos falamos muito nos meses que passamos longe. Culpa minha, que evitei cada coruja, cada carta enviada por correio, as mensagens de fogo, os patronos.
Hermione o olha sorrindo, como se todas as respostas que ela ainda não encontrou estivessem ali, seu futuro, presente e passado. Um olhar tão insuportavelmente apaixonado, parece intimo demais, me forço a desviar olhar
Estou feliz por eles. É bom saber que nem tudo foi perdido na guerra
- Harry? Harry! – Saio de meus devaneios quando escuto Ron gritando meu nome
- Oi? – Tento fingir que estive focado o tempo todo. Falho miseravelmente
- Você está bem Harry? Está meio distraído, parece preocupado – Diz Hermione docemente
- Na verdade, você parece que vai você vomitar cara – afirma Ron, se afastando levemente
Me forço a dar uma risada anasalada, pois eu realmente não faço ideia do que responder. Não posso realmente dizer a verdade
"Ah Hermione, talvez eu esteja preocupado de ter um ataque de pânico em meio ao salão principal, quando as lembranças de todas as mortes e toda a dor, se tornarem inevitáveis". Ou melhor ainda "Sabe Ron, eu estou apavorado por saber que serei o foco de todos os olhares, de novo. Olhares de raiva, admiração, inveja e tudo mais. E saber que todos estão prestando atenção em cada movimento meu"
Limito a dar de ombros e, ao invés de mentir, apenas diminuir as dimensões da sensação que aperta meu coração, com punhos de ferro e gelados como o mais frio dos icebergs
- Não sei como vai ser estar de volta. Não sinto que superei completamente. Só quero um ano normal
Problema: Eu nunca tive um ano normal
- Harry, nunca tivemos um ano normal – afirma segurando a risada, parece que ela leu minha mente
- Eu sei, mas não custa tentar – dou de ombros, pelo que parece ser a milésima vez no dia, acho que se tornou um habito. Não fazer ideia do que vai ser daqui para frente, mas fingir indiferença quanto a isso
...
- 20 Minutos para chegarmos, acho melhor ir me trocar antes que lote todo o espaço disponível – digo já me levantando. Divaguei tanto que já estamos quase em Hogwarts
Tudo que recebo é um aceno positivo, mostrando que eles escutaram. Não demoro demais e saio logo dali
Eu realmente amo meus amigos, mas isso não significa que eu goste de ficar de vela para eles. Me sinto um intruso, como alguém que perdeu uma parte importante da conversa e não entende a piada no final, ou uma criança no meio de uma conversa de adultos. Um telespectador da história que eles começaram
Tem esse sentimento engraçado e agoniante, já que todos estão seguindo com suas vidas. Superando o luto, sorrindo mais, fazendo novas amizades, se apaixonando. E eu estou aqui, parado no mesmo lugar
Me troco o mais rápido possível, já que uma fila enorme se formava atrás da porta.
Mas, mesmo depois de trocado, não sinto a mínima vontade de voltar a cabine, então opto por perambular pelo trem
Encontro Neville, Gina e Luna em uma cabine, comprimento eles educadamente, mas não me demoro muito ali. É meio constrangedor interagir com a Gina desde o termino, acho que isso se deve principalmente pelo fato de não termos conversado devidamente sobre isso
Não que eu queira voltar com ela. Amo Ginny, mas não acho que seja mais que um amor fraterno, e sinto que ela era apaixonada pelo herói, e eu apaixonado pela simplicidade, facilidade. Era simples estar com ela, as risadas eram fáceis, e os assuntos fluíam, mas acabava por aí. Não acho que o simples se encaixe mais na confusão que me tornei. E talvez o Herói que ela queria morreu na guerra
Não sei por quanto tempo andei. Mas assim que percebo, Hogwarts já está visível pelas janelas, me adianto a voltar para meus amigos, quando meus olhos veem algo que faz meu corpo travar
Malfoy
Draco Malfoy
E não estava sozinho, estava beijando
Um garoto
Beijando com vontade
Eles estavam sozinhos, em uma das últimas cabines, Malfoy já estava sem o blaiser, e o garoto, que eu não consegui distinguir, já estava sem blusa
Eu sei não devia estar olhando, não devia estar reparando como os dedos cheios de anéis apertavam o cabelo preto, ou como os cabelos brancos de Malfoy estavam em uma bagunça sexy, nem estar reparando como as mãos do garoto apertavam a cintura do loiro
Eu simplesmente não conseguia desviar o olhar, ou apenas seguir em frente. E tinha aquele sentimento não identificado revirando meu estomago, subindo e queimando por onde passava, que fazia eu querer vomitar e fazia minha cabeça girar
A boca do garoto começou a descer pelo pescoço pálido, fazendo com que os olhos de Malfoy se abrissem e mirassem exatamente em mim, como se soubesse que eu estava ali o tempo todo. E...
Eu estava errado
Eu tinha comparado um sentimento com o frio dos icebergs
Isso por que eu não sabia o que era frio
Esses olhos...
Eles eram frios. De um gelo tão frio que queimava. Um mercúrio líquido tão congelante quanto nitrogênio, mas ao mesmo tempo, tão azuis quanto os mais profundo dos mares
Me encaravam com mais sentimentos do que eu já tinha os vistos expressar. Mas eu não conseguia nomear nenhum deles com exatidão
Por um segundo, apenas um segundo, o mundo não parecia importar realmente. Como se as minhas preocupações evaporassem e o garoto no seu pescoço não existisse. Era apenas eu e ele ali. O verde no quase cinza.
Tinha algo naquele olhar, e eu não sabia por que queria tanto descobrir
E ele ficou ali, me encarando, enquanto um garoto aleatório beijava o pescoço dele, e eu fiquei ali, encarando ele hipnotizado, travado
Ele deu um sorriso de lado, como se soubesse de algo que eu não sei, um segredo que ele descobriu, e se divertia com isso, e aquilo me despertou.
Sai o mais rápido que pude, sem ao menos olhar para trás, e pensando
Por que diabos meu coração batia tão rápido?
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Scars - Drarry
FanfictionEu tinha cicatrizes que não deixava ninguém ver Ele fez questão de beijar cada uma