Hoje à noite teríamos um encontro com Juliano Tchula, um dos nossos amigos e melhores compositores. Maiara e eu estávamos animadas com a ideia, apesar de que a pequena não faria parte da composição mas participaria da gravação. Estava nervosa, fazia tempo que não nos reunimos para gravar, e fazia muito tempo também que não revia a minha ex.
Inalei fundo todo o ar, inspirando e soltando os meus dedos. Decidi ir de coque, com alguns fiapos na frente e com um batom claro somente para hidratar os meus lábios. Ajustei minha camisa, subindo ainda mais as mangas. O short marcava bastante o meu corpo, mas não adiantava fugir, qualquer roupa realçaria as minhas pernas e os demais detalhes.
Cumprimentei todos em volta, até mesmo Maraisa que não olhou em meus olhos mas por educação respondeu o meu boa noite. Juliano estava com violão na mão e ela também, uma das suas pernas estava cruzada e a morena tinha o braço apoiado no violão. Vê-la daquela forma, concentrada e com o lápis na boca como de costume, me trouxe lembranças das nossas composições quando éramos mais novas.
Maraisa, Maiara e eu nos conhecemos em um SPA, não tínhamos pretensão de nada além de sermos amigas. Há exatos 10 anos partilhamos as nossas vidas, com uma carreira cheia de legados e principalmente cheia de amor. Nesse meio tempo, por um descuido — ou talvez não —, Maraisa e eu nos envolvemos. Tudo surgiu através de um beijo em um bar, havíamos bebido o suficiente e não resistimos quando os nossos olhos se encontraram.
Sentei sobre o estofado, com os olhos focados no Juliano que nos passava os acordes. Com o pé, toquei o chão seguindo o ritmo e totalmente envolvida com a melodia.
— Me mostra suas anotações, Maraisa. Depois você me mostra as suas, Mari. E assim complementaremos, ok? — Fizemos sim com a cabeça e Maraisa entregou o seu caderno.
Juliano dedilhou o violão enquanto lia o que ela tinha escrito, seus olhos brilhavam e eu estava curiosa para saber.
— "Eu sem querer me apaixonei
Não lutei, não evitei
Esse amor natural, nasceu em mim." -Enquanto Juliano cantava, por um descuido os meus olhos se encontraram com o de Maraisa, e a sensação que eu tive foi como se nós duas voltássemos para aquela noite em que nos conhecemos. A morena não desviou o olhar nem um por um minuto sequer, ela ergueu seu rosto e fechou seus olhos por alguns segundos, retornando a atenção para o violão para acompanhar o nosso amigo na melodia. Retomei minha atenção e comecei a estalar os dedos ajustando os acordes da música.
— "Quero você do jeito que quiser,
mesmo em segredo eu sou sua mulher,
só você sabe como a gente faz."— Um minuto do seu tempo já me satisfaz. — Complementei, naturalmente, arrancando um sorriso orgulhoso do Juliano.
Maiara bateu palmas, sorrindo igual criança.
— Coisa linda! Eu bati palmas porque achei maravilhoso! - A ruiva comemorou.
— O que você escreveu, Marília? — Entreguei o caderno para o meu amigo.
Juliano parou para ler e me olhou com os olhos arregalados, surpreso, eu diria.
— Você deu um Google, não foi? — Ele perguntou, olhando para nós três.
Neguei com a cabeça e ri, como ousa falar que Marília Mendonça deu um "google"?
— Gostou ou achou melancólico demais? — Havia escrito após uma discussão com a Maraisa, há um tempo atrás.
— "Quando você chega perto, eu me desconcerto. — Ele deu ênfase na palavra. — Sem fazer esforço, tira a minha roupa com os olhos. Me deixa tonta com os seus olhos."
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