Marília.
É estranho como tudo pode mudar ao deparar-se com quem tenta fugir há todo momento. Tudo torna-se lento o suficiente para seu subconsciente agir, deixando-te vulnerável e refém de um sentimento que, às vezes, é necessário não darmos atenção. As pessoas em volta se tornam insignificantes para você, já que a sua atenção está completamente voltada para quem faz-te pulsar em diversos pontos em sua vida. Estou errada por querer reviver o pecado que conheço, mas não há nada que a minha alma queira se não for relembrar os momentos em que possuía a verdade e singela felicidade.
Poderia eu correr e tentar solucionar todos os meus problemas correlacionados à tal, na terapia. Mas como superar algo que você não quer superar? É como retroceder os minutos do seu filme favorito, torcendo para que o roteiro mude e você não lembre do final... Mas droga, você lembra! Você lembra minuciosamente dos detalhes. De cada passo.
Maraisa está há poucos metros de mim, com seu cabelo preso em um coque alto e concentrada em um assunto que quisera eu saber para somente assim receber sua atenção como alguém digno. Nos beijamos. Nos beijamos tão precisamente, que ainda sinto o passear da sua boca sobre mim. Eu não sei por quê ela me tem, desse jeito tão gostoso e ao mesmo tempo traumático. Vivemos um relacionamento conturbado, convenhamos, eu conturbei. Magoei a quem tanto dizia amar, em prol de quê? Não sei. Tolice a minha ainda amar alguém que és inalcançável, em todos os pontos.
Tudo que eu queria agora era poder reviver as nossas noites de amor, sob a luz do luar, que sempre infiltrava em nosso quarto. Saudade sinto de despejar-me nela. Ah, pudesse eu reviver quem fomos e quem pretendíamos ser.
- Eu não sei Marília, eu não sei como agir. Olhar para você é como relembrar todos os meus traumas cenográficos, mas alojado em um só olhar.
- Maraisa - coloquei uma mecha de cabelo atrás da minha orelha - você precisa entender que eu amo você. As pessoas cometem erros e, infelizmente, só aprendem após perder, mas você não acha que é torturante demais não nos termos?
- Não, não acho!
Eu sabia que era mentira.
- Você não precisa me amar de volta, mas precisa respeitar e compreender que por mais que algumas pessoas sejam burras, e sim estou a falar de mim, elas ainda possuem um pouco de consciência e se arrependem. E eu me arrependo de ter perdido você, e por isso sofrerei as consequências de te olhar e não ter. Você acha que não me rasga a alma olhar todas as declarações de amor que você faz referente ao Fabrício? Cara, nem de homem você gosta, Maraisa! Que droga! - desabafei, soltando todo o ar rapidamente.
A morena me olhava como quem desejava me matar, mas ao mesmo tempo como quem desejava me amar. Nos amávamos e não era segredo para ninguém. Tolo é quem acredita que Maraisa nunca amou Marília.
- Eu sou o seu amor, Maraisa! Eu, Marília Dias Mendonça, sou a porra do amor da sua vida! Você não vê? Você não entende? Estou bem aqui na sua frente, me declarando para você como sempre fiz. E eu sei que errei, você não precisa me mostrar todas as vezes que me ver. Eu sei que fui tola. Eu fui idiota! Era isso que você queria ouvir? Não há dúvidas em que te perder foi como arrancar-me a pele. Você me lembrar disso não ajuda.
Eu sei onde isso acabou. Eu sei quem ousou incendiar. Eu assumo o erro, eu sempre assumi. Assumi em nome do que fomos, temporariamente. E para ela, entender que há consciência em pecado, é inexplicável.
- E se você quiser me odiar, odeie, é direito seu... Mas por favor, Maraisa, me odeie em silêncio. Não me deixe ouvir seu coração gritar que você me odeia, é demais para mim. Eu peço para que não proclame, não em minha presença, que não ama mais quem você vibrava ao tocar. Me chame de egoísta, me trate como sua pior inimiga, transcreva em suas músicas o quão machucada você foi, mas por favor, não proclame que não me ama mais! Eu prefiro a dor de não te ter, do que ouvir mentiras que eu sei que não passam de mentiras.
