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A semana tinha sido difícil, Carmen havia anunciado que estava esperando um bebê e Miguel havia reagido de forma pouco entusiasmada. Claro que ele sabia que a mãe seria maravilhosa, como havia sido para ele, mas Johnny era uma incógnita. Miguel amava o cara, mas Robby tinha vinte e quatro anos e ainda estava começando a lidar com os traumas de infância que ele havia causado, então ninguém podia culpar Miguel por estar desconfiado. Sem contar que, se ele realmente mudasse e fosse um ótimo pai, isso seria muito difícil para Robby que certamente se culparia por ter sido abandonado e negligenciado.

Quando os dois chegaram do trabalho e se sentaram para comer algo juntos, Miguel notou a energia carregada e se arrependeu de estar certo tantas vezes. Robby confessou que não estava tão feliz com a notícia quando deveria estar e que se sentia cruel e egoísta. E disse exatamente o que o moreno achou que ele diria, que talvez a culpa fosse mesmo dele e que Johnny tivesse tentado com ele também, mas percebeu que não valia a pena. Miguel o abraçou tão apertado quanto conseguiu, tentando dissipar aquela insegurança.

"Eu lembro quando eu tinha uns 5 anos, sabe. E meu pai disse que ia me levar pra pedir doces no dia das bruxas. Eu nunca tinha feito isso, fiquei tão feliz! E aí ele e minha mãe perguntaram que fantasia eu queria..." Robby disse, olhando fixamente para a mesinha de centro. Miguel segurou sua mão e o incentivou a continuar, ouvindo com atenção.

"E eu disse que queria uma fantasia de princesa." Robby disse, com o rosto ficando vermelho de vergonha. "Obviamente foi uma idiotice, mas como eu ia saber? Eles começaram a brigar e a culpar um ao outro por eu ser... daquele jeito. E disseram que era pra eu escolher uma fantasia normal se eu quisesse ir. E eu não conseguia entender o que tava acontecendo e minha mãe me mandou pro quarto e depois de eles brigarem muito, meu pai foi embora. E claro que ele não falou mais naquilo e nem me levou pra pedir doces."

"Robby... você não pode realmente achar que isso é culpa sua." Miguel sussurrou, chocado.

"Se eu não tivesse dito nada... Eu acho que ele ficou com vergonha de mim. Agora ele vai ter uma segunda chance." Robby concluiu, decepcionado.

'E você também', Miguel pensou. E ali surgiu a ideia para a primeira surpresa que ele faria para Robby desde que ele havia começado a praticar regressão.

Na última semana de outubro, quando estava tudo pronto e planejado, Miguel começou a ficar inseguro. E se Robby não quisesse lidar com isso? Ou se sentisse encurralado por ser surpresa? Ou achasse a ideia idiota? Ele quase desistiu ali mesmo, mas tinha feito tudo com tanto carinho... iria arriscar e, se desse errado, enfrentaria as consequências com maturidade.

Robby aceitou o pedido de Miguel de regredir no dia 31 de outubro, mesmo estando inseguro. Claro que ele sabia que o moreno jamais o trataria mal ou o faria sentir vergonha de ser quem era, mas certos medos têm raízes tão profundas que são impossíveis de arrancar. Ele tomou banho quente para relaxar a mente, meditou e entrou no estado necessário para iniciar a regressão. Miguel veio procurá-lo na hora combinada e o achou em pé no colchão macio demais, usando a cama como um brinquedo.

Depois de ver a cena e quase morrer de fofura, ele percebeu que talvez fosse a hora de ser um adulto funcional e ensinar limites. Principalmente porque não queria uma cama quebrada por um adulto que achava ter cinco anos.

"Para de saltar, Bambi. Você vai cair!" O apelido tinha surgido quando Robby lhe disse que esse era seu filme da Disney preferido.

Robby deu um último pulinho e olhou para ele com aquela cara culpada de cachorro que roeu o sofá e o sorrisinho de lado que sempre fazia Miguel desistir de dar bronca nele. Não dessa vez. Bem, talvez não precisasse ser uma bronca.

"Vem cá, senta aqui." Miguel disse, batendo na cama ao seu lado, e Robby sentou, obediente.

"Eu sei que é divertido, mas você não pode pular na cama, é perigoso e você pode se machucar, entende?" Miguel disse, calmamente.

Segunda ChanceWhere stories live. Discover now