CAPÍTULO 2 - ESTRANHO DO MERCADO

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ANGELINA DIAMORE

Conhecer Kurt e Blaine foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos. Eu os amava com todo meu coração, mas as vezes eles me testavam.

Blaine não podia me ver indo ao mercado que me pedia cinquenta coisas e isso quase, repito quase tirava minha paciência.
Blaine sempre foi o mais espontâneo, brincava demais, sonhava demais e era romântico demais. Kurt costumava dizer que ele sentia medo de se prender a alguém, até conhecer Blaine. 

O amor deles era tão lindo e verdadeiro que me fazia acreditar no "felizes para sempre".

Eles lembravam os meus pais. Que mesmo depois de tantos anos de casados ainda se amavam da mesma maneira. Minha mãe vivia suspirando de amores por meu pai e ele a olhava como um artista olha para sua obra.

Era único. Era genuíno. Eram almas que estavam destinadas a ficarem juntas.

Quando eu tinha 19 anos minha mãe faleceu, câncer no estômago em um estágio avançado. Foi um período doloroso para minha família, meu pai entrou em uma depressão profunda, meu irmão tinha apenas 11 anos e se isolou de todos. E eu tentei segurar as pontas.
Antes de partir minha mãe me disse que ela sabia que todos iríamos ficar bem. "Você é o nosso raio de sol Angel. Mantenha todos aquecidos."

Ela costuma dizer que o amor nos mantinha aquecidos. O amor nos mantinha vivos.
Minha mãe amava a vida, a família, as pequenas coisas e eu a amava.

Desde então eu sempre fiz tudo para manter esse legado dela na nossa família.
Aos poucos fomos superando, depois de um ano meu pai conseguiu se reerguer e meu irmão voltou a sorrir.

Foi um ano de luto, um ano muito difícil. Mas nós superamos.

Eu sinto falta da minha família todos os dias, das risadas do meu irmão, das comidas da vovó e dos abraços apertados do meu pai.

Mas eu não podia voltar para lá, não depois dele. A perda foi dolorosa demais, eu precisava de novos ares.

O que me leva a estar subindo esse elevador cheia de compras.
Abro a porta e escuto gritos de Blaine e Kurt. Reviro os olhos e respiro findo. Dizem que os italianos gritam, mas é porque não moram com esses dois.

- Cosa sta succedendo? - grito assim que fecho a porta do apartamento.

- Angel, graças a Deus você chegou! - Blaine falava enquanto vinha atrás de mim na cozinha.

- O que o Kurt fez dessa vez ? - perguntei sem muita emoção, enquanto tirava as compras da sacola.

- Perguntinha. - Kurt falou entrando na cozinha e botou as mãos na cintura. - Porque você acha que eu fiz algo? - olho para ele levantando as sombrancelhas como quem diz "porque voce sempre faz".

- Porque ela te conhece. - Blaine diz revirando os olhos. - Você acredita que ele não quer ver os miseráveis comigo? - eu olho de um para o outro e começo a rir. Eu amo esses dois.

- B... Você já assistiu esse filme essa semana e ela ainda nem acabou. - Kurt bateu palmas e levantou as mãos pra cima.

- Obrigada Angel, alguém tem que me entender nessa casa. - Blaine olha para mim como se eu tivesse cometido um crime.

- Você devia ficar do meu lado, sua italiana traidora. - reviro os olhos e volto às compras.

- Eu estou do lado dos meus ouvidos que não estão afim de escutar os gritos de vocês essa noite. - Ele faz uma cara ofendida e eu pego o sorvete que tinha comprado para ele e estendo na sua direção. - Toma vai ser feliz que eu vou fazer janta. - ele pega o sorvete e me abraça.

- Eu te amo mesmo você não ficando do meu lado. - ele diz, pega uma colher e vai embora. Kurt me olha revirando os olhos.

- As vezes acho que casei com uma criança. - resmunga pegando taças no armário.

- O paladar infantil ele já tem. - brinco e o mesmo ri.

- O dia que você resolver sair dessa casa, não sei como vou controlar esse homem. - dou risada e encho as taças de vinho.

- Você fez isso um ano sozinho, acredito em você. - digo e brindamos.

- O ano mais difícil da minha vida.- diz irônico e eu dou risada.

- Não finja que você não gosta, você adora que ele te mima que nem um bebezinho. - digo e ele me dá tapinha no braço.

- Italiana abusada. - rimos e tomo um gole do vinho. Lavo as mãos e começo organizar tudo para janta. -  Então como foram as aulas hoje? - pergunta e eu sorrio.

- Foram ótimas as crianças estão progredindo cada dia mais. Elas pintavam bonequinhos de palitos antes e agora estão fazendo verdadeiras obras de arte. - digo sorrindo orgulhosa dos meus pequenos alunos.

Eu dava aulas de desenho para crianças de 6 a 12 anos. Eu não era formada, por isso não podia dar para turmas avançadas. Mas tinha alguns cursos que me permitiam dar aulas para os pequenos. A diretora Rose falava que eu tinha o principal, talento.
Não me achava tão boa assim, mas eu amava desenhar, desde pequena fazia isso com minha mãe.

Era nossa paixão.

- Mudando de assunto. Eu e o Blaine já decidimos o que vamos fazer no seu aniversário. - olho para ele que estava com uma cara animada.

- O aniversário é meu e vocês já decidiram? - ele concorda.

- Sim, levando em conta somos seus únicos amigos. - eu abro a boca pra falar mas ele levanta o dedo. - A senhora Rose não conta. Você precisa conhecer pessoas, sair, beijar alguém e transar um pouco. - bufo em resposta. Mas me lembro do estranho do mercado, não tão estranho pois eu sabia seu nome.

- Eu não preciso sair para conhecer pessoas, eu conheci um homem no mercado hoje. - ele me olhou com uma cara entendiada.

- Ser educada com os funcionários do mercado não é conhecer alguém amore mio. - faço uma careta.

- Péssima pronúncia. O nome dele é Norman e ele era muito atraente se você quer saber. - ele me olha sorrindo.

- Você falou com ele ? - pergunta e eu confirmo. - Trocou mais de três palavras com ele ? - concordo novamente. - Pegou o número dele? -  olho para ele com cara fechada.

- Céus, lindinha! Eu te amo mas você precisa ser mais ágil. Você encontra um cara gostoso no mercado e nem pede o número. - dou de ombros, mas concordo com ele. Norman era atraente o bastante para me deixar interessada, mas eu não tinha confiança o suficiente para sair pedindo números alheios por aí.

- Sai da minha cozinha agora e vai controlar a quantidade de sorvete que seu marido tá comendo. - ele ri e vai indo para sala.

- Você sabe que estou certo. - grita enquanto vai e eu reviro os olhos. Pior era que eu sabia mesmo.

Dou um sorriso e torço para que em algum dia eu esbarre naqueles olhos azuis mais uma vez.



AMORE DESTINATO - NORMAN REEDUS Where stories live. Discover now