Um Chamado Silencioso

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Assim que o despertador tocou naquela segunda-feira, eu tive a sensação de que havia dormido somente cinco minutos, levantei-me arrastando o meu corpo até o banheiro. Observei minhas olheiras fundas no espelho, muito corretivo para ajeitar isso. A semana havia passado rápido demais ou fui eu que mal pude descansar esses dias? Eu me perguntei enquanto pegava o estojo de maquiagem.

― Com certeza a última opção ― eu me respondi ao segurar o pincel.

Após me arrumar, eu preparei um café e me sentei na banqueta para tomá-lo. Eu mastigava um pão com manteiga e geleia despreocupada, até que percebi estar esquecendo de uma coisa. Apanhei o meu celular para efetuar uma ligação.

― Oi Mai, caso eu não consiga falar com vocês, quero relembrar que hoje é a minha viagem. Então nos vemos na volta, ok? ― Como ela não atendeu, achei melhor enviar um recado.

Antes que as suas preocupações se tornassem exageradas, eu me adiantei. Eu também telefonei para a Annie, nós conversamos animadas sobre a nova coleção do seu "ateliê". Ela estava muito empolgada com a criação das roupas, mas notei uma exaustão em sua fala. Depois de uns dez minutos, nós nos despedimos, eu olhei o meu relógio de pulso e ao verificar o meu atraso, bebi o resto do café de uma só vez. Rapidamente, escovei os dentes e chamei um carro por aplicativo.

Cheguei ao escritório em torno das oito horas, como eu não podia desperdiçar nenhum segundo, logo que passei pela minha secretária pedi para ela me trazer todos os relatórios que eu deveria revisar na parte da manhã. Quando eu me dei conta, já era a hora do almoço, decidi comer apenas um lanche para não demorar muito. Entretanto, a minha paz não durou nem um instante.

― Você achou mesmo que a gente ia deixar você ir embora assim... ― a Mai abriu a porta enquanto falava e parou de repente ao avistar as minhas mãos. ― O que é isso? Seu almoço é um lanche?

Eu ergui os olhos, desviando a minha atenção da leitura dos papéis. Com a boca meia aberta para morder o primeiro pedaço, eu fui pega no flagra.

― Meninas, eu não posso sair daqui agora. ― Suspirei. ― Tenho tanta coisa para fazer.

― De jeito nenhum ― minha prima disse ao balançar a cabeça. ― As refeições são muito importantes, necessitamos de todos os nutrientes para não adoecer.

Virei o corpo para observar a Annie e juntei as mãos como se suplicasse por uma ajuda.

― Tá bom ― a loira pronunciou para mim. ― Por que não trazemos algo para a Dul? Ela come aqui.

― E ela vai ficar enfurnada nessa sala de novo? Aposto que a semana inteira está sem espairecer, enfiada nesse lugar.

A Mai possuía toda a razão quanto a isso, mas escolhi não dizer nada, pois eu realmente queria almoçar o mais rápido possível.

― Então, vamos encontrar um meio-termo ― a Annie comentou. ― Que tal a gente descer e procurar um restaurante pela redondeza e aí a Mai nos conta sobre um paciente gato que deu em cima dela. ― A loira levantou as sobrancelhas, sugestiva.

― Ele não era meu paciente. A filha dele sim.

― Que seja. ― A Annie  ergueu os ombros.

― Mas seria esquisito se fosse um garotinho de cinco anos ― eu declarei. ― Ok, vocês venceram. Só meia hora e no restaurante aqui da empresa. ― Apontei para a minha prima.

― Fechado!

No final das contas, confesso que uma distração a essa altura foi muito bom, as duas conseguiram por um curto período me entreter com suas histórias. Na metade da tarde eu acabei precisando resolver um imprevisto. Despacharam algumas correspondências para o endereço errado e agora eu e a minha secretária estávamos corrigindo o "estrago".

Lembranças de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora