Confissões

121 16 141
                                    

Três semanas depois, ainda sentíamos o caos, o pequeno melhorou da febre, entretanto os dentes que nasciam o irritavam demais. Chorava a noite toda. Eu andava impaciente também, cheia de cansaço acumulado que nem festejei meu aniversário com o Christopher, consegui apenas almoçar com as meninas no dia. E a verdade era que Ucker e eu parecíamos mais distantes ultimamente, talvez por causa da rotina agitada. Mas, em breve, resolveria esse problema, planejei um jantar a dois, hoje à noite ele não me escapa, havia uma confissão a fazer.

― Posso servir mais? ― perguntei para o meu marido. ― Amor?

― Oi? ― Notou que eu o chamava.

― Aconteceu alguma coisa?

― Não, nada. ― Passou as mãos pelo cabelo, dando a impressão de que escondia algo.

― Christopher...

― Eu tenho que tomar uma decisão, muito difícil e não dá para adiar mais.

― Sobre o quê?

― A empresa.

― Precisa de alguma ajuda? ― Ele negou com a cabeça.

― Sei que nessas semanas as coisas não ficaram em ordem. ― Suspirou triste. ― E, como a culpa foi minha de não sairmos no seu aniversário, quero recompensá-la. ― Eu o olhei curiosa.

― E o que é?

― Uma surpresa. ― Christopher se levantou me puxando pela mão.

Ele me conduziu até a porta dos fundos, tampou meus olhos ao segurar na maçaneta e segundos depois observei o gramado. Espantada com o que me deparei, encarei o Ucker.

― Um cachorro? ― mencionei com a voz emocionada, esses hormônios.

― Seria seu presente de seis anos, né? ― Apenas concordei com um gesto.

Meus pais me dariam no próximo aniversário de tanto que insisti, mas infelizmente eles faleceram antes.

― Você é inacreditável, não creio que lembrou disso. ― Eu me aproximei dele, abraçando-o.

Então, recebi uma lambida no meu pé, como um sinal de felicitações. O filhotinho chegou perto de nós, abanando sua cola, seu pelo clarinho quase caramelo não era muito espesso e carregava um laço de presente vermelho no pescoço. Tão fofinho!

― Nossa... ― disse quando nos afastamos. ― A família vai aumentar ainda mais ― sussurrei ao mesmo tempo que tive a sensação que o mundo girava rápido demais.

― Dul, está tudo bem? ― Christopher perguntou preocupado.

― Sim, preciso confessar algo para você. ― Inspirei o ar, nervosa. ― Por isso, preparei esse jantar. ― O coitado franziu a testa sem entender. ― Eu também tenho uma surpresa ― declarei ao esfregar minhas mãos no vestido.

Em seguida me abaixei para pegar o cachorrinho no colo, enquanto acariciava seu pelo macio convidei o Ucker para entrar.

― Dulce Maria, quanto mistério! ― o Christopher comentou ansioso.

Peguei uma caixinha em cima do balcão e com as mãos trêmulas entreguei para ele.

― Eu sei que a gente não conversou direito sobre isso, aliás, nessa parte somos especialistas em apressar as coisas ― disparei a falar agoniada.

― Nós iremos ser pais novamente. ― O Ucker parecia digerir a informação ao pegar o teste de gravidez.

Afirmei em um aceno, recordando das suspeitas da Maitê sobre minha alteração de humor nos últimos dias.

― Dessa vez, eu quis contar primeiro para você. ― Seus olhos encontraram com os meus. ― Pois confesso que tenho medo, o Fernando não possui nem um ano ainda, estou cheia de dúvidas quanto aos riscos dessa gravidez.

Lembranças de VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora