Sonho Realizado

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Caminhei pelo jardim com o coração na boca, com a sensação de que agora era para valer. Morar juntos esse tempo havia sido apenas um teste, a partir de hoje começaria de verdade. Meus pés desaceleraram quando cheguei no lugar combinado para iniciar a marcha nupcial. Observei a Maitê parar em minha frente, seu traje azul em tom pastel era frente única todo larguinho com um cinto de brilhantes que marcava sua cintura e o cabelo estava preso em um rabo de cavalo todo alinhado, sem nenhum fio desgrenhado.

― Annie, cadê o papai? ― Minha prima olhou para a loira ao seu lado.

Anahí apontou para trás e notei seu vestido rosa, também na cor clara, esvoaçar com o movimento. Ficou decidido que as madrinhas usariam qualquer nuance desde que fosse suave, para combinar com o estilo da cerimônia. Na parte de cima ele parecia com uma capa só que possuía uma abertura para os braços e no busto se assentava ao seu corpo, já a de baixo o tecido leve caia revoado até seu sapato, com uma fenda discreta na lateral. A loira escolheu um penteado mais elaborado, uma trança vinha pelo lado de sua cabeça e se encontrava com um coque meio folgado, além de algumas mechas soltas.

― O seu pai? ― eu disse confusa, segundos depois ao me atentar em sua frase.

― Sim... Você achou mesmo que iria entrar sozinha? ― A Mai fez uma careta.

Meus olhos se encheram de lágrimas, um filme se passou em minha mente. Começou pelo momento em que fui para a casa dos meus tios, o acolhimento deles e... o Ucker. Ao conhecê-lo naquele dia no parquinho, transformou completamente a ocasião, devolveu o brilho para os meus olhos. Eu acordava cheia de esperança de que a qualquer hora a dor por perder meus pais seria fechada. Com o tempo as feridas se cicatrizaram, embora a saudade de tê-los comigo era grande, eu sabia que eles estariam sempre ao meu lado, em espírito.

― Ai, Maitê! ― Sequei uma lágrima que escorreu com o dedo. ― Você é a culpada por tudo isso aqui. ― Apontei para o meu rosto. ― E, principalmente, a carta da mamãe. ― As meninas me encararam com as testas franzidas. ― Se não fosse essa ajudinha de vocês, eu não reencontraria o Ucker. ― Sorri acanhada.

― É bom terem comprado muito lenço, hoje a gente vai se acabar de chorar ― Anahí falou com os olhos cheios de água, e nos abraçamos emocionadas.

Assim que nos separamos, um pouco recuperadas, as duas se dirigiram para suas posições e o meu tio se aproximou, estendendo o braço. Não consegui evitar que outras lágrimas rolassem pela minha bochecha. Não é que a Annie tinha razão? No instante seguinte, a música dos padrinhos tocou e eu inspirei o ar, outra vez, na tentativa de acalmar meu coração. Enquanto me movia a passos lentos, reparei a decoração, havia flores enroscadas pela ponte, alguns refletores e um tapete vermelho esticado até o deque de madeira. Mais flores enfeitavam o altar improvisado. A marcha nupcial ressoou no momento em que avistei o Christopher, com as mãos cruzadas em frente ao corpo, mexia impacientemente os dedos, seu cabelo foi aparado e um singelo topete se moldava nele. Sorri ao encará-lo e ele retribuiu o gesto. Todo o meu nervosismo anterior desapareceu, podia apostar que o dele também. Só importava nós dois agora.

Após percorremos o trajeto, meu tio beijou minha mão e me entregou para o Ucker, que encostou seus lábios na minha testa. Quando ele se afastou, entrelacei meu braço com o dele e nos viramos para a cerimônia se iniciar.

― Estamos aqui reunidos para celebrar o amor e a união desses dois jovens, Christopher e Dulce. ― Trocamos um olhar cúmplice. ― Eles escolheram um ao outro como sua família e hoje oficializarão algo que já começou ao longo desses anos. O casamento é uma caminhada ousada para um futuro desconhecido que envolve abrir mão de algumas coisas, em prol de tudo o que vocês viverão juntos. Sejam a prioridade um do outro. ― Ucker e eu nos fitamos novamente e jurei que havia estampado em seu semblante um "eu te amo". ― A partir de agora, os dois terão que pensar e agir como um casal. ― Nós sorrimos ao mesmo tempo. ― Podem trazer as alianças.

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