capítulo 1

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   Pensar que com todos os adjetivos, explicações e reféns do amor, ainda é difícil pensar, como um sentimento desdobra tantas barreiras em nossas vidas? Um sentimento inexplicado mesmo sendo explicado diversas vezes por bilhares de pessoas que passam anos estudando sobre isso. O amor é diferente em cada situação, amar alguém de sua família é diferente do amar alguém que você sente uma atração. O amor é sacana, nos pega de surpresa e nos torna refém dele. E quando acaba o amor, sentimos a morte.

Tessa, aos dezenove anos
Segunda-feira.

   Se começa mais um semestre na faculdade, os corredores nesses dias permanecem uma correria. Uma maldita correria. Muitas pessoas desistem quando chegam nesta parte, outras se matriculam quando tudo está no finalzinho. Quando o sinal bate, todas as cadeiras estão completas, meus olhos se reviram em sinal de ódio. Há uma cadeira vaga na sexta fileira, não muito longe do palco onde o professor explica sua aula. Com muita dificuldade estou sentada, ao lado de um garoto que não vale o tempo que iria levar para avaliar se era bonito. Minha bolsa se abre sobre a mesa pequena, com apenas um caderno de trinta matérias e uma caneta de cinco cores, é o suficiente, o único orçamento que cabe em meu bolso.

-  Tu es magnifique dans cette robe bleue 

   Por pequenos segundos minha atenção estava no garoto sentado ao meu lado, com olhos pretos e pescoço tatuado. Ele certamente não sabia falar inglês, e se soubesse estava apenas brincando com a minha cara. Não fazia o menor sentido, não entendia muito bem francês.

-  Desculpe - Ele riu mordendo a tampa de sua caneta azul, combinava com meu vestido azul marinho - Eu disse que a aula está chata. Qual seu nome?

   A sua voz saía em quase um sussurro, pois o som da voz do homem alto e com barba branca no centro da sala era a única que se ouvia altamente, se ele visse alguém o atrapalhando, com seu humor de meia categoria, não ousaria colocar para fora. Mas antes ele iria pedir para quem seja lá o calouro se apresentar com nome e idade, causando vergonha e trauma para sempre em sua memória.

   O garoto ao meu lado vestia uma camiseta preta simples, em uma calça jeans azul e sapato de marca. Todo aquele visual devia ter custado caro, a pensar que sendo tão estiloso, muitas garotas já teriam caído em seu encanto. Seus olhos pretos ainda chamavam atenção, mesmo quase se fechando naturalmente. Merda, aquilo era tão atraente que causava-me calafrios na barriga.

   Ele havia desistido de tentar chamar minha atenção na terceira ou quarta aula quando me deitei sobre a mesa com as pálpebras pesadas de tanto sono, havia passado a noite passada inteira limpando a casa de papai. 

   Morar com Papa era na maioria do tempo bom, mas muito arriscado, ele sempre comprava todas as coisas que pedia sem nenhum esforço, Papai cuidava ao máximo de mim e do meu irmão mais novo Jeff. Mesmo mexendo com coisas ilícitas, aquele era seu único meio de nos dar a vida que merecíamos. Como ele havia prometido. Nós conquistaríamos a porra do mundo.

-  Sembri patético quando fissi i miei seni - Indaguei sem olhar em seu rosto. Papai havia me ensinado italiano aos meus doze anos. Disse que um dia iria ser necessário. - Eu disse que me chamo Tessa.

  O garoto riu ajeitando a bolsa em suas costas largas.

-  Não estou olhando seus seios. - Ele continuou, vendo que minha atenção agora estava no seu maldito lindo rosto. Porra, quantos idiomas esse garoto sabe? - Me chamo Conrad.

-  Você é um babaca, Conrad.

- É um prazer conhecer você também

  Ele ficava extremamente atraente quando colocava a mão no bolso de sua calça, enquanto desviava os olhos para as últimas garotas que saíam da sala. Ele era um babaca. Um miserável babaca. Um maldito babaca.

abyss of your eyes {em andamento}Where stories live. Discover now