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Despertei às exatas cinco da manhã com a ajuda do alarme do celular. Maiara sempre me dizia que começar o dia com o toque de "I'm gonna getcha good" da Shania Twain era a coisa mais anormal de se fazer, mas depois de meses usando essa música como despertador eu não sei se conseguiria acordar com qualquer outra diferente.

Ontem quando conversei com ela e minha mãe depois do jantar contei sobre a minha chefe, a Srta. Marília, ou Marília Mendonça, mas não mencionei o quanto ela era bonita ou a forma como ela havia me tratado quando a vi em seu escritório.

Estou tentando ignorar esse aspecto da personalidade dela pois não gosto de pensar que ela é rude. Talvez eu é quem seja rude, no final das contas... Vai ver Marília é uma mulher tímida que prefere se isolar, e eu, uma bisbilhoteira inconveniente que a deixei desconfortável com a minha presença.

Mas como eu poderia evitar? Acabo de chegar nesse lugar e tenho tantas perguntas... É, mas se contente em se distrair fazendo-as para Eduardo e Naiara e não para a sua chefe, Carla Maraisa!

Meu uniforme de trabalho já me esperava, pendurado no gancho na parede; Antes de dormir o engomei para que ficasse "apresentável" no dia seguinte, mas dificilmente irei me acostumar a usar preto todos os dias... Quer dizer, onde estão as minhas estampas floridas?!

A mansão parecia ainda mais silenciosa pela manhã. Eu conseguia ouvir pássaros cantarem um pouco longe dalí e o barulho do aquecedor que ficava na sala; Era como um chiado quase imperceptível, mas agora eu o ouvia muito bem.

Credo! É melhor eu começar o meu trabalho antes que eu acabe ficando com medo...

Separei os materiais que iria precisar para limpar a cozinha — pois Eduardo me instruiu a seguir à risca o que havia escrito na lista — e tirei tudo o que poderia me atrapalhar da frente para enfim dar início ao meu trabalho.

Naiara era uma cozinheira muito organizada; Diferente do resto da casa, não havia quase nenhum resquício de poeira na cozinha. Os armários estavam limpos e a dispensa e geladeira bem organizadas.

Terminei bem a tempo da Naiara chegar e começar a preparar o café da manhã, cantarolando uma música em espanhol que com toda certeza era da abertura de alguma novela mexicana.

Seis e quarenta e quatro. — Disse distraidamente enquanto encarava o relógio na parede da cozinha.

— Está com fome, menina? — Despertei com a voz de Naiara.

— Ah, não... — Respondi, sorrindo para ela — Na verdade, eu estava pensando no quão louco é eu estar aqui, em Boston. Talvez por eu nunca ter ido pra tão longe antes mas... — Suspirei, compartilhando meus pensamentos com ela — Quando saí da aeroporto e vi todos aqueles prédios e carros pra todos os lados eu tive a certeza de que eu deveria mesmo estar aqui... Você não acha isso estranho? — Naiara riu, balançando a cabeça.

— Não é estranho. — Ela respondeu depois de um tempo enquanto cortava as fatias do pão de forma profissional e precisa — Você sentiu que esse é o seu lugar, o seu destino... Essas coisas aí! — Descartou as explicações — Mas você ainda não viu nada de Boston, menina. Precisa andar mais.

— É... Pensei nisso, também. Eu poderia sair se eu quisesse, não é? Quer dizer, até agora sempre terminei o meu serviço antes do tempo e depois não há mais nada pra fazer além de ficar no quarto. É aconchegante, mas fico claustrofóbica se encarar aquelas paredes brancas por muito tempo...

— É claro que você pode sair, Maraisa! — Naiara parecia se divertir com tudo o que eu dizia — Afinal você não está presa aqui, ou acha que deve ficar vinte e quatro horas dentro dessa mansão? Até eu enlouqueceria. — Naiara começou a preparar a bandeja, mas dessa vez vi que ela estava colocando tudo em dobro.

Srta. Marília | Malila [EM REVISÃO]Where stories live. Discover now