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Sempre ouvi as pessoas falarem sobre o "cinza da cidade grande"; Sobre como os prédios roubam a visão do céu azul e como esse cenário parece deprimente, mas eu penso de outra forma. Gosto de imaginar que na janela de cada um desses edifícios existem pessoas trabalhando, fazendo todo o resto funcionar. É claro que não dá para comparar a visão que eu tinha todos os dias morando em Goiânia com a que eu tenho aqui em Boston, agora; são lugares completamente diferentes, só que eu consigo enxergar beleza em cada um deles.

Depois de ouvir o que ouvi no escritório da Srta. Marília eu não pude suportar ficar alí por mais tempo, e como já tinha feito o que precisava fazer pela manhã resolvi explorar um pouco do lugar onde eu estava morando. Não a rua, porquê na rua da chefe só têm mansões e mais mansões, quase umas iguais as outras... Decidi sair andando e descobrir novos lugares, sem medo de me perder.

South End. Biblioteca Pública de South End. Li o letreiro do outro lado da pista; Eu tinha chego numa área mais movimentada, mas onde não tinham tantos edifícios modernos, eram mais prédios antigos. Olhei para os lados tentando calcular a hora certa de passar e quando não havia nenhum carro próximo dei o meu primeiro passo, mas voltei imediatamente quando senti um peso em meu ombro.

Meu primeiro instinto foi pensar que minha bolsa estava sendo puxada, — porque tinha ouvido muitas histórias sobre ladrões em bairros movimentados — mas na verdade era a mão, a mão de um desconhecido que me alertava que eu não deveria estar tentando passar longe da faixa de pedestres.

— A faixa fica logo alí. — Ele apontou para o lado direito e eu segui sua mão com os olhos — Não é bom arriscar. — Completou com um sorriso e eu acenti sem dizer uma palavra. O desconhecido de olhos assustadoramente escuros ficou me analisando por um tempo, então coçou a barba rala e grisalho e estreitou o olhar em minha direção — Você está perdida?

Eu sei para onde estou indo? Não. Sei como irei voltar para a mansão? Provavelmente não. Eu estou perdida? Eu não diria isso.

— Ah, n-não! Eu estou apenas explorando. — Apertei a alça da bolsa com as duas mãos, vendo que ele estava julgando a minha roupa, mas não havia nada para ser julgado no meu vestido amarelo com estampa de flores brancas!

— Você com certeza não é de Boston, estou certo? — Perguntou, sorrindo. Olhei para os lados, então tomei coragem para responder:

— Sim. Eu não sou de Boston... — Respondi e ele sorriu mais uma vez, satisfeito.

— Claro que não... — Ele sustentou a mão no ar de forma delicada ao lado do meu rosto, mas não me tocou — As mulheres daqui não têm uma beleza tão natural, tão doce. — Senti que uma pequena mecha de meu cabelo estava sendo envolvida por ele, mas estava nervosa demais para me preocupar com isso. Eu não deveria, afinal é apenas um elogio, mas geralmente eu não sou acariciada por desconhecidos.

— Desculpa, mas eu discordo. Até agora só encontrei mulheres muito bonitas e elegantes... — Falei, lembrando da Srta. Marília e de Olívia. Foi inevitável não acabar também pensando na Olívia rindo da minha cara, da chefe agindo de forma estranha perto dela e do que elas falaram quando eu estava deixando o escritório há poucas horas atrás.

— Eu posso saber o seu nome? — Ele mudou de assunto apressadamente. Eu deveria falar o meu nome para um estranho? Que besteira! Que mal faria?

— É Maraisa. — Disse, apertando a mão que ele estendeu para mim.

— Eu sou Danilo, Danilo Gentili. Você estava indo em direção à biblioteca, certo? Eu trabalho aqui perto, quem sabe não te vejo por aí novamente... — Danilo enfiou as duas mãos nos bolsos da calça, me olhando de forma simpática e sugestiva. Eu não sabia bem o que dizer; não tinha como retribuir à sua gentileza, porque era isso que ele estava fazendo, sendo gentil, certo?

Srta. Marília | Malila [EM REVISÃO]Where stories live. Discover now