COVARDE

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Da sua cabine, o porteiro testemunhou o momento exato em que um belo jovem emergiu quase nu de um dos apartamentos. Em qualquer outro lugar, isso seria estranho, mas ali, naquele condomínio de jovens privilegiados, era quase banal.

Tay vestiu o sobretudo enquanto aguardava o amigo, a quem enviara uma mensagem. Quando o amigo chegou, Tay não disse uma palavra. Entrou no carro e permaneceu em silêncio. Mas a raiva fervilhava em seu peito e ele desabafou, contando tudo o que acontecera.

-Ainda bem que a cueca eu comprei com o meu dinheiro - disse ele, amargamente.

O amigo sorriu cúmplice, mas sabia que Tay estava iniciando o doloroso processo de sofrer por amor.

Quando Tay cruzou o limiar de sua casa, um santuário de elegância e requinte, estava aparentemente calmo. A residência era um espetáculo de arte e bom gosto, com obras de mestres renomados adornando as paredes e peças de mobiliário que eram verdadeiras joias de design. Cada canto da casa exalava uma beleza sofisticada, um reflexo direto do gosto refinado de Tay.

Mas, sob a superfície tranquila, um turbilhão de emoções fervilhava. A partir daquele dia, a paz que ele conhecia se transformou em um tormento incessante. Time, em sua desesperada tentativa de reparar o irreparável, inundou a vida de Tay com seus pedidos de desculpas.

Ligações intermináveis, mensagens constantes, presentes extravagantes aparecendo na porta de sua casa. Time implorou, de joelhos, por uma segunda chance, sua voz se desmanchando em súplicas e promessas vazias.

Mas a pessoa que Tay mais ansiava por ouvir, Macau, permaneceu em silêncio. Não houve ligações, nem mensagens, apenas um vazio ensurdecedor que parecia ecoar na alma de Tay.

No sétimo dia, como uma sombra que surge ao cair da noite, Macau finalmente apareceu. Mas sua presença, em vez de ser um bálsamo para a dor de Tay, apenas agravou a ferida.

- Tay, por favor, me entenda - implorou Macau, a voz carregada de uma mistura de culpa e medo. - Time é meu amigo. Ele está desolado, transtornado. Eu... eu não posso assumir um relacionamento agora.

A ironia do sétimo dia não passou despercebida por Tay. Na tradição bíblica, o sétimo dia é o dia do descanso, o fim da criação. Para Tay, no entanto, marcou o fim de algo muito diferente. O sétimo dia, o dia em que Macau finalmente apareceu, simbolizava a morte de suas esperanças e sentimentos. Era como se os sentimentos que ele nutria por Macau tivessem sido enterrados, deixando para trás apenas uma dor surda e um vazio insuportável.

- Claro que eu entendo - disse Tay, a voz carregada de uma amargura que cortava como vidro quebrado. - Eu até estou lendo seu pensamento. Você quer que a gente se encontre às escondidas, não é? Até a poeira baixar.

- Sim, você leu meus pensamentos - admitiu Macau, incapaz de encarar Tay.

Tay se aproximou de Macau, seus movimentos carregados de uma sensualidade amarga.

- Então agora leia meus lábios - disse ele, a voz baixa, mas firme. - "O amor não suporta gente covarde, não". Quero que você suma da minha frente.

- Tay... - começou Macau, mas Tay o interrompeu.

- O que, Macau? O que? Você ficou atrás de mim. Você! Eu te perguntei. Eu estava disposto a sacrificar minha liberdade por você. Eu segurei meus problemas, mas você não segurou os seus. Agora sou eu que digo, eu não divido. Não quero ninguém morno.

- Tay...

- Saia! Se me vê, mude de calçada. O boato que dizem por aí é verdadeiro: As vadias são as mais rancorosas.

E então Tay chorou. Ele, que sempre controlou suas emoções com maestria, deixou as lágrimas caírem como uma chuva torrencial. Ele chorou a noite toda, cada soluço um lembrete da traição que sofreu.

Os novinhos são os piores! Ele nunca mais esqueceria essa lição. A dor profunda, a traição crua, a desilusão amarga... Tay se sentiu completamente desolado, como se um pedaço de sua alma tivesse sido arrancado sem piedade. A traição de Macau não era apenas uma ferida, era uma cicatriz que ficaria com ele para sempre.

Algum tempo depois

Tay desembarcou de seu carro importado, cada detalhe dele irradiando luxo e sofisticação. Os sapatos de sola vermelha, a bolsa de grife pendurada casualmente no ombro, e o perfume que exalava riqueza, tudo nele gritava poder. Ele cumprimentou a equipe familiar com um sorriso cativante.

- Tay, que bom que você veio! Pode me ajudar um pouco no bar? A casa está cheia hoje - pediu um dos funcionários.

Tay acenou com a cabeça, um sorriso brincando em seus lábios. Ele adorava aquele lugar. Enquanto se movia pelo espaço, seu olhar encontrou Time, Macau e alguns outros rostos desconhecidos. Um deles tinha um sorriso particularmente intrigante.

- Olha só, achei que esse lugar fosse exclusivo. Mas pelo visto, deixam qualquer um trabalhar aqui - Time lançou a provocação na direção de Tay. Macau o observava com um olhar cheio de adoração, enquanto o estranho parecia completamente perdido.

Tay, sem perder a compostura, respondeu:

- Bem, eles te deixaram entrar, o rei dos cornos não é,? Então acho que vadia é o de menos.

- Time, vamos embora - Macau tentou intervir.

- Agora que eu não saio. Quero falar com o gerente. Quero ver como você vai manter seu estilo de vida luxuoso sem um emprego - Time rebateu.

Tay apenas sorriu, um brilho desafiador nos olhos.

- Então você está com sorte, porque você está falando com o próprio. Eu sou o dono desta boate. E eu quero que vocês se retirem.

Time ficou furioso, mas Tay apenas observou, o sorriso de satisfação nunca deixando seu rosto. Ele havia retomado o controle, e nada poderia ser mais doce.
Time estava fervendo de raiva, os olhos faiscando com um ódio que poderia incinerar o mundo inteiro. Se ele pudesse, Tay sabia que estaria morto ali mesmo.

- Aposto que você teve que se deitar com todo mundo para conseguir isso aqui - Time cuspiu as palavras.

Tay riu, um som que soava mais como um desafio do que qualquer outra coisa.

-Time, Time... Sabe, é quase trágico. Você, tão belo, se rebaixando dessa forma. Você realmente acreditou, não foi? Que tinha me conquistado, o grande sedutor. Sua reputação era algo, eu admito. E eu? Estava entediado. Então, decidi fazer de você meu projeto. Você queria alguém submisso, mas competente na cama. Alguém ingênuo o suficiente para não perceber suas constantes traições.

E aí, eu entrei em cena. Lindo, loiro e mais do que você jamais poderia manejar. E era hilário, ver você se contorcendo para inventar desculpas após cada escapada. Mas você sempre voltava para mim. Era um arranjo conveniente, e o disfarce perfeito.
- Tay...

- Ah, mas então, uma opção mais interessante entrou em cena - Tay interrompeu, um sorriso de escárnio nos lábios. - Mas você, com sua burrice crônica, só sabe me atacar. É complicado lidar com alguém como eu: livre! Eu me divirto com quem eu quero, quando eu quero. E eu me diverti, ah se me diverti, se você realmente quer saber.

Agora, dê o fora da minha vista e leve seu aprendiz junto. Ele já te contou como foi gostoso me saborear na sua ausência ? Pobre Time, sempre se achou o predador, mas sempre foi a presa.

***

VIP-Tay E Macau-Universo Kinnporsche Where stories live. Discover now