Quando sob a primeira estrela [O HOBBIT]

XVI. Descendo a cidade dos Orcs

A Companhia de Escudo de Carvalho e as Faradrim tinham decidido unir forças de maneira temporária. Com a humana e sua loba caçando quase todas as noites, eles tinham muito mais fartura na estrada, e Thorin bem sabia a diferença que um estômago cheio fazia no moral da equipe. Claro, não era fácil conviver com elfas — ele dentre todos os anões tinha motivos o suficiente para odiá-las —, mas faria isso por seus amigos e seus sobrinhos. Fili parecia ter se tornado amigo de algumas delas, fazendo uma ponte de camaradagem entre os dois grupos. Além disso, o Bolseiro do Condado sempre parava para conversar com sua amiga de sorriso endiabrado, Keena Bolger. A jovem mulher era quase tão propensa a apostas e pegadinhas quanto Fili e Kili, então os três imediatamente tomaram gosto pela companhia uns dos outros.

Além de tudo, navegar pelos ermos estava se mostrando mais fácil com a hábil Dewriel dando sugestões pelo caminho, e a Srta. Elysant tinha a capacidade de se movimentar de acordo com as estrelas. Em conjunto com Balin, se tornaram praticamente uma bússola com vários braços e pernas.

Elysant colocou um pedaço de tecido confortável sobre as costas de Zira, arrumando alguns suprimentos na mochila lateral da loba. Não pretendia se afastar por mais que algumas horas; na verdade seus planos incluíam estar de volta no acampamento antes do pôr do Sol. Mas nenhum cuidado é pouco nos Ermos, então ela prepara-se como todos os dias. Limpa suas facas e espadas, prende sua armadura de couro leve nos pulsos e tornozelos e espera que, com alguma sorte, consiga encontrar o que procura.

O vento leva seus cabelos em sua corrente aérea, fazendo uma cachoeira de ébano movimentar-se atrás de si. Sempre gostou de trançá-los, isso trazia boas lembranças de sua mãe e seu pai. Eles lhe ensinaram padrões complicados e simples, mas igualmente belos, e olhar-se no espelho enquanto cuidava de seus cabelos a deixava mais conectada com a família. No momento, haviam apenas duas pequenas tranças laterais para tirar o cabelo do rosto e cobrir as orelhas geladas, mas ela tinha planos de algo mais refinado quando estivesse em um lugar mais seguro.

Zira soltou um ganido baixo, alertando-a de uma nova presença. Olhando para o lado, ela apertou os lábios um no outro ao se deparar com Fili, um dos membros da Companhia e sobrinho de ninguém menos que Thorin Escudo de Carvalho. O sol nascente refletia em seus cabelos dourados, e ela viu algumas tranças de padrão anão nas madeixas do mesmo. Eram bonitas de um jeito bruto, apesar do sorriso dócil do loiro.

— Srta. Elysant — cumprimentou, curvando-se rapidamente. Ele viu a falta de resposta negativa como um bom sinal. — Que bom vê-la novamente, acredito que nos despedimos de maneira brusca da última vez.

— Sr. Fili, olá novamente — devolveu ela, baixando os olhos sob os cílios grossos, seguida de uma tentativa de sorriso tímido. Zira emitiu um pequeno rosnado em direção ao anão, e a mulher a interrompeu antes que a loba chegasse mais perto. — Ele é amigo, minha pequena. É um anão gentil, não é um dos malvados.

— Você crê que ela a entende? — Fili tentou inútilmente fazer carinho na pelagem sedosa da loba, mas ela logo se afastou com o que parecia ser uma bufada esnobe. Maiar, até mesmo a lupina não queria sua companhia?