12 de maio; 2018

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"está em casa?"
Meu celular vibrou pela manhã.

Percy já sabia a resposta.
"to"

"chego aí em meia hora"
Reviro os olhos assim que leio.

"não te convidei"

"não precisa"
Sorrio com isso.

Percy manda:
"esteja vestida quando eu chegar, pelo menos"

Digito de volta, entrando na brincadeira:
"você adoraria me ver pelada"

"verdade"
Coro e desligo o celular.


Quando estou colocando meus cookies no forno, a campainha toca. Retiro as luvas e corro para abrir.

Percy estava com sua câmera pendurada no pescoço. Ele sacudiu os cabelos que estavam molhados, me molhando também. Percebi que chovia.

- O que você está assando?

- Olá, Perseu Jackson. -fecho a porta depois que ele entra.- Boa tarde para você também.

- Cookies? -perguntou enquanto ia até a cozinha.- Cookies!

- Não são azuis.

- Nisso você pecou. -ele sorri.- E na parte de ser sem glúten.

Mostro a língua para ele e vou até a bancada, pegando as luvas para guardar.

- Por quê da câmera?

- Não sei. -Percy a tira do pescoço e apoia no balcão.- Aonde vamos?

- Aonde vamos? -pego duas canecas no armário.- Chocolate quente?

- Preciso te mostrar uma coisa. -ele diz acenando com a cabeça, confirmando minha pergunta.

- Mal posso esperar. -sorrio sarcástica.

- Vou subir e arrumar seus remédios, por enquanto que você faz isso. -diz e desaparece pela porta.

- Percy! -grito, mas não adianta.


Quando descemos, Percy corre até parar ao lado do carro, levando meus remédios. Demoro um pouco para assimilar o quê vejo. Um carro novo.

Novo é eufemismo, na verdade.

O carro é evidentemente usado e antigo. Uma picape azul. Arranhões e amassados mapeiam toda sua parte traseira.

- Azul. -óbvio.

- Azul. -Percy concorda.

- Eu adorei. -paro ao lado da porta do passageiro. Percy me observa do outro lado.- Aonde vamos?

- Achei que nunca fosse perguntar, sabidinha. -ele sorri e pula dentro do carro. Faço o mesmo.


- Não achei que ainda existisse árvores em Nova York. -digo ao desafivelar meu cinto.

Percy já está lá fora, mexendo na mala do carro.

- Estamos no limite de Nova York, na verdade. -diz.

- É o quê? -grito e paro ao seu lado.- Você ficou maluco? Eu não avisei a minha mãe. Não avisei a Thalia. -olho meu celular.- Aqui nem sequer pega sinal! As coisas de limpar meu cateter! Eu...

- Annie, ei! -Percy segura meus ombros. Minha visão estava embaçada.- Eu avisei a Thalia, ela vai avisar a sua mãe. -ele aponta a ecobag com a cabeça.- Eu peguei tudo, Annie. Tudo.

Deixo que ele me abrace. Quando me acalmo, Percy me solta. Limpa meus olhos e volta a remexer as bolsas.

Só então olho ao redor. Árvores cercam o "campo" onde estamos. Percebo também que o sol está se pondo atrás das montanhas altas que parecem estar a quilômetros de distância. E, mesmo assim, tão perto.

- Quantas horas ficamos no carro?

- Eu fiquei por quase três. -Percy joga uns cobertores em cima do carro.- Você ficou por dez minutos. Dormiu todo o resto.

Consigo soltar um risinho. Percy estende a mão. Deixo que me ajude a subir na parte traseira do veículo.


Conversamos e observamos o pôr do sol por um tempo. Só percebi como estava faminta quando Percy abre um pote com os meus cookies.

Ele bate em minha mão antes que possa chegar perto dele.

- Nada disso, senhorita. -e me entrega uma garrafinha de água.- Tome. -Percy coloca quatro comprimidos em minha mão.
Sorrio e bebo os remédios.

Faço uma careta assim que eles encostam em minha língua.

- Eca.

- É tão ruim assim? -ele pega a garrafa de volta e examina.

- Queria que não fosse. -pego um cookie e me deito novamente.- Eu tomo remédios desde que me lembro.

- Quando tudo começou?

Eu amo o fato de que Percy nunca parece perceber que são perguntas indelicadas. E ele nunca se desculpa. Gosto disso.

- Desde sempre. -suspiro.- Mas as cirurgias foram aos sete.

- Que droga. -diz.

- Pois é.

- Quando minha mãe começou a cuidar de você?

- Logo depois da quarta cirurgia. -digo.- Eu tinha 13 anos. Eu estava muito mal por não poder ir pra escola, então ela me levou cookies azuis e disse que ela e você tinham feito.

- Você já me conhecia antes de me conhecer. -ele diz.

Estico minha mão para pegar outro cookie no exato momento que Percy o faz. Me sento abruptamente com o toque.

- Tudo bem? -ele pergunta.

Olho para trás. Agora Percy estava sentado.

- Tudo. Eu só... -nada. Eu não sei porque me assustei. O toque dele já é tão comum. Talvez seja exatamente por isso.- Eu precisava esticar melhor o pescoço.

- Quer que eu te ajude? Sei um ótimo jeito.

Antes que eu respondesse meu falso e educado "NÃO!", os dedos de Percy roçam levemente minha nuca, afastando meus cabelos da região. Minha respiração sai entrecortada.

Sinto o calor do rosto de Percy próximo ao meu pescoço.

- Você está bem? -ele pergunta.

Não.

- Sim.

- Tá. -ele afasta o rosto do meu e envolve meu pescoço em suas mãos.- Pronta? Um. Dois...

- Para!

Percy solta meu pescoço imediatamente. Me afasto alguns centímetros, quase saindo do carro.

- Annie, tem certeza que você está bem? -ele inclina levemente a cabeça.

Minhas mãos estão soando. Normalmente, eu costumo ser ótima em lidar com qualquer situação. Mas eu apenas disparo:

- Eu quero te beijar.

Percy fica em silêncio. Começo a me desesperar. Estraguei tudo. Ele é a única pessoa, tirando a Thalia, que eu tinha, mesmo sabendo de tudo, e eu estraguei tudo! Idiota, Annabeth Chase. Você é idiota.

Ele provavelmente deve gostar de alguma menina da sala dele. Alguma que não esteja morrendo. Que possa correr com ele na praia. Ou que saiba tirar foto tão bem quanto ele. Ou que saiba cantar. Ou que possa comer os malditos cookies com glúten. Ou...

- Eu também.

Oi?

- Faz muito tempo. -Percy ainda me encara. Ele nem pisca.

The Life We Want (won't) Wait For usWhere stories live. Discover now