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Poucas horas antes da missa começar, recebi um pedido para ir até o confessionário, e pelo que me disseram, aparentemente a coisa estava feia. Entrei na cabine e esperei sentado pacientemente no banco esquerdo. Notei que a pessoa anônima estava de joelhos do outro lado, provavelmente rezando.

-Podemos começar? - Perguntei baixinho. - Fiquei pronta quando quiser.

-Papa... Sou uma Irmã que faz parte da comunidade, e tem algo que está me consumindo por dias.

-Em que posso te ajudar, Irmã?

-Sei que o Todo Poderoso não permite isso dentro de sua casa mas... estou consumida pelo ódio e inveja. Há uma moça dentro da comunidade que está me causando esses sentimentos ruins, tento fazer de tudo para que Deus me perdoe mas parece que Ele decidiu me castigar por causa disso.

Eu fiquei lá, boquiaberto, tentando digerir a informação. Uma das Irmãs estava com ódio de Marianna? Inveja? Aquilo era um tanto quanto chocante pra mim, talvez eu podia estar errado mas eu tinha 100% de certeza que era ela. Engoli a poça de saliva que estava se formando dentro de minha boca e procurei por palavras.

-Mas o que te faz acreditar que você tem ódio por ela? - Perguntei.

A pessoa anônima demorou a responder.

-Sei que ela fará coisas pecaminosas dentro de nossa catedral, Deus está observando ela. - Deixei um sorriso de lado escapar ao ouvir aquilo. - Muitas outras Irmãs também parecem não gostar dela.

-Só porque ela é jovem?

-Por isso mesmo. Não duvido que ela deve ter feito coisas piores. Acha que tem como me livrar disso, Papa?

-Vou ser um mensageiro de Deus. O que Ele me falar, vou repassar a mensagem para você. - Me assegurei de que eu não estivesse falando besteira. - Ele só te perdoará se rezarmos juntos. Podemos...?

Pelos pequenos buracos em formato de losango, pude notar que ela assentiu e juntou as mais com seu terço na mão. Começamos com um Pai Nosso e depois um Ave Maria. Eu ainda estava inconformado sobre a tal confissão, sendo que Marianna havia me contado sobre isso anteriormente então não sabia o porquê do choque.

-Muito obrigada, Papa. Não faz ideia do quanto vai me ajudar.

-Não se preocupe, tenho certeza que Ele vai te escutar, ok? - Juntei os lábios e dei um sorriso amarelo.

Sem dizer mais nada, a pessoa saiu do confessionário, me deixando sozinho ali com meus pensamentos e perguntas sobre o grande ódio que todas tinham por Marianna. Parecia idiotice alguém não gostar dela por ser jovem, é como se elas estivessem sido desatualizadas. Me levantei do banco de madeira e fui procurar por minha grande amada. Andando por alguns minutos, a encontrei sentada sozinha nos bancos de madeira da basílica, rezando um terço.

-Mari? Está muito ocupada?

-Ah, oi Terzo. - Um pequeno sorriso surgiu em seu rosto. - Na verdade não.

-Preciso conversar com você. - Tentei não preocupá-la, mas não queria deixar de tratar o assunto com seriedade.

-É o vibrador? Posso tirá-lo se quiser. - A Irmã falou lentamente.

-Não, não. Não é nada disso. - Me sentei ao seu lado, passando o braço em volta de seus ombros. - Sei que seria extremamente errado falar isso publicamente mas... Recebi uma confissão de uma das Irmãs da comunidade. Infelizmente aquilo que você disse foi confirmado.

A moça de olhos verdes e franja me encarou, parecendo estar totalmente confusa e perdida.

-Elas realmente te odeiam, simplesmente por inveja. Muitas delas sentem repulso por você, e é algo que infelizmente não posso mudar. Marianna, se alguma coisa acontecer... - Fui interrompido.

-Papa, isso é um problema meu. Se eu comecei, eu preciso terminar. - Ela pegou em minha mão livre e a apertou ligeiramente. - Fico agradecida que esteja preocupado, mas... eu consigo fazer isso, ok?

Pude sentir a tranquilidade no olhar dela, mesmo não sendo com palavras, senti que ela estava querendo me tranquilizar sobre o assunto. De alguma forma, aquilo acalmou meu coração turbulento. Mari me puxou para um abraço e enterrou o nariz em meu pescoço, me confortando com o cheiro de seu perfume natural: leve, mas ao mesmo tempo intenso.

Baixinho como um sussurro, a escutei dizer ao pé de meu ouvido um:

-Te amo, Terzo.

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Pecado DesejadoWhere stories live. Discover now