"Fada quebrada é levada à tribunal, o estado de seu corpo ainda não foi divulgado" — Jornal 'Vozes da Corte'❖
Diferentemente de todo luxo que compunha Âmbar em suas cortes de Ouro e Prata, a corte de Bronze era modesta. Sua população era composta por servos, mercadores humildes, engraxadores e todos os feéricos que a realeza tentava ao máximo esconder, em sua maioria, estavam os chamados "vira-latas", feéricos mestiços, sem uma espécie definida. Entre todos esses feéricos, estava Mabella.
Filha de uma dama da corte, uma fada que não podia voar, uma mulher que não se importava com as regras, de classe inferior, rebelde, ajudante em um bordel, e nas horas vagas inventora. Ela era tudo que a realeza mais odiava em uma pessoa só. Alguém que não sabia reconhecer seu próprio lugar.
Não que representasse alguma ameaça. Mabella morava o mais afastado possível da corte de Bronze sem sair dela, quase adentrando a floresta desmatada. Sua casinha havia sido erguida sobre a grama seca, próxima a um pequeno riacho poluído com as sujeiras da cidade. Havia escolhido aquele lugar justamente por ser um dos raros que não havia sido tomado pela civilização e desmatamento. A casa havia sido construída com várias peças de metal díspares e bugigangas encontradas pela rua. Sem um formato específico e, se ela fosse honesta, bem torta. Haviam várias chaminés de tamanhos diferentes, e manchas de ferrugem ou óleo seco para toda parte. Por dentro, era ainda mais estranha.
Haviam dois andares e cada um deles tinha apenas um cômodo: A sala, onde ela se encontrava, no térreo e o quarto acima, ligados por uma escada em espiral, feita por um grosso cano velho com degraus feitos de peças de metal aleatórias. Os móveis eram desiguais e usados, alguns com marcas de queimado em alguns pontos.
— Vamos, vamos. Só mais um pouco... — A fada implorava erguida por uma enorme escada, enquanto apertava o parafuso de uma grande estrutura de metal velho. — Só mais um pouco e... Pronto!
Ela sorriu, apertando o botão da grande lata velha que estava no meio de sua sala. Por um momento, Mabella sorriu feliz, certa de que funcionaria. Então houve uma explosão, responsável por arremessá-la no sofá, que amorteceu sua queda. Uma fumaça preta inundou o cômodo, enquanto sua invenção emitia um som estranho, como gato esganiçado furioso.
Ela tossiu e tentou respirar, falhando miseravelmente. Com as pernas bambas, ela correu até a janela improvisada com pedaços de madeiras, usando toda sua força para abri-la.
Lutou para que o ar voltasse para seus pulmões, sem prestar atenção no menino parado em frente a sua janela, com um semblante divertido. Era um garoto que aparentava ter menos que 15 anos, de cabelos castanhos, olhos da mesma cor, uma boina bege, que combinava perfeitamente com seu macacão puído e bolsa, quase cheia de tantos jornais. Penas de águia desciam pelas laterais de seus braços até o chão, e ele não usava sapatos, deixando à mostra seus pé de ave, com garras longas e três dedos. Ele era uma harpia.
— Bom dia, Jonas! — Ela cumprimentou com um sorriso no rosto, enquanto com um lenço que encontrou no bolso da calça, tentava tirar a marca que a fumaça preta causou em seu rosto.
— Qual a invenção do dia? — Ele perguntou divertido.
— Um fervedor automático de água — Mabella explicou, dando espaço para que ele pudesse ver pelo vão da janela, a lataria que se assemelhava a um enorme bule de chá.
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Crônicas de Ouro e Prata: As correntes de Âmbar
RomanceDizem que a beleza modesta, longe dos olhos de qualquer um, é aquela mais linda. Um pensamento que não se encaixa no Reino de Âmbar. Um reino onde o que é bonito deve ser coberto por luxo, tornando-se deslumbrante. Ouro, riqueza, nobreza, eventos so...