capítulo 03

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Lembrou-se de Alfonso ter dado um pequenino vaso de cristal a Diana de presente de casamento. Ela o jogara de lado sem dar-lhe valor, muito mais entusiasmada com uma toalha de mesa de linho irlandês, presente de uma amiga. Anahí não pronunciara uma palavra, mas um enfermeiro que a acompanhara ao chá de panela comentara, em voz consideravelmente alta, que Anahí deixara de adquirir um casaco de que muito necessitava para comprar aquele presente para a prima mal-agradecida. Diana ouvira o comentário, pegara o vaso e fizera mil elogios. Mas era tarde demais. Anahí mantivera a cabeça erguida; não derramara uma lágrima. Mas seus olhos estavam tão tristes...

— Você está ouvindo, Poncho? — murmurou Frederico. — Eu disse que temos de velejar um final de semana desses.

— Assim que eu tiver tempo — respondeu sem entusiasmo. Não se sentia à vontade com pessoas que, como eles, escolhiam os amigos pelo saldo bancário e posição social. Havia sido aceito por ser famoso e bem-sucedido. Mas o Alfonso Herrera que fugira do México com os pais aos 10 anos de idade não teria sido bem recebido como possível genro. Tinha certeza disso. Estranho, mas esses pensamentos vinham lhe atormentando nos últimos tempos.

Esperou apenas pelo bolo e o café servidos na louça fina e despediu-se. De fora, olhou a grande mansão de tijolos, tão insípida e fria quanto seus habitantes. O que estava acontecendo com ele para se sentir tão desconfortável com os pais de Diana, sempre tão gentis com ele depois da morte da filha?

Voltou para o apartamento em sua Mercedes prateada, seu orgulho e alegria. Não se lembrava de se sentir tão vazio desde o funeral. Devia estar excessivamente cansado e precisava de férias. Uma semana de folga, só para si, e sumir. Podia ir para as Bahamas e descansar na praia alguns dias. Talvez isso o animasse.

Olhou os lindos arranha-céus enfeitados com luzes coloridas e lembrou-se de como aquele brilho elegante costumava lembrá-lo da linda Diana. Para ele, ela era a expressão da doçura, mas lembrou-se de um dia ter chegado quando ela xingava Anahí por não ter colocado os suéteres na gaveta certa. Anahí não dissera uma palavra para se defender. Arrumara as roupas e deixara o quarto, sem olhar para Poncho.

Diana rira orgulhosa e reclamara que era difícil achar quem trabalhasse direito. Ele considerara o comentário frio em se tratando da própria prima e lhe dissera isso. Diana não lhe dera importância, mas ele passara a observar com mais atenção. A mulher e os pais tratavam Anahí mais como empregada do que como membro da família. Ela estava sempre pegando ou carregando algo para alguém, dando telefonemas, contratando bufês e conjuntos para festas, endereçando convites. Até quando estudava para as provas, as exigências de sua família não cessavam.

Alfonso chamara-lhes uma vez a atenção para o fato de que as provas exigiam muitas horas de estudo e os três o fitaram sem expressão. Nenhum deles cursara uma universidade e não faziam idéia do que ele falava. Mantiveram as obrigações de Anahí. Só quando ela saíra de casa, logo depois do casamento de Diana, os vásquez contrataram uma governanta.

Ao chegar em casa, preparou uma xícara de café, perturbado com o fato de pensar tanto em Anahí e, principalmente, no aniversário do tio. Frederico e Elsa vázquez haviam dado outras festas, mas Anahí raramente era incluída nas comemorações. Era como se não existisse, até precisarem de algo que só ela podia fazer como cuidar de Diana quando ela tinha gripes, resfriados e indisposições.

Aquilo o fez lembrar-se da pneumonia de Diana e da negligência de Anahí. Voltou a ficar com raiva. Apesar dos defeitos da mulher, ele a amava perdidamente. Embora Anahí tivesse sido maltratada pela tia, tio e prima, isso não justificava ter deixado Diana morrer. Ele se apiedava por não ter recebido amor, mas sentia apenas desprezo quando se lembrava de que a mulher morrera por culpa dela.

A paciente (Adaptada) ayaOù les histoires vivent. Découvrez maintenant