capítulo: 18

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Ele negara por causa de sua saúde, não por ciúmes. Mas o motivo não lhe interessava. Ela o acusara chamando-o de desmancha-prazeres, alegando, não pela primeira vez, que ele desejava Diana e que esta nunca o aceitaria, pois tinha medo dos homens e principalmente dele. Ela nunca explicara e ele não pensara na afirmação. Até então.

Tomou seu drinque, recordando outros incidentes, outras brigas que desmentiam o casamento perfeito que tentavam mostrar ao mundo. Ela odiava seu trabalho, seu compromisso com os pacientes, suas ausências... Uma vez, batera com o telefone na cara da esposa histérica de um paciente, recusando-se a chamar Alfonso ao telefone. O homem tivera uma parada cardíaca e, felizmente, outro médico o socorrera. Isso acontecera uma semana antes de Alfonso viajar. E Diana saíra na chuva, no frio, sem casaco e com bronquite. Ele viajara para a França depois de ter pedido a Anahí para cuidar da prima. Ela concordara de boa vontade, abrindo mão de seus dias de folga. Todos pensaram que ela tivesse deixado Diana morrer. Agora, Alfonso podia aceitar a verdade. Fora uma trágica série de circunstâncias, culminando com o ataque cardíaco de Anahí. E ele e os vásquez não lhe deram chance de se defender. Durante dois longos anos, culparam-na, isolaram-na, puniram-na por um erro que não cometera. Não era de estranhar que ela recusasse seu toque, suas ofertas de ajuda. Ele errou. Como pudera ser tão crítico, tão arrogante? Como pudera desconsiderar a compaixão de Anahí e estigmatizá-la como criminosa? Ele era tão culpado quanto ela. Deixara Diana por necessidade, pois ela não podia viajar naquelas condições. Mas só agora admitia não ter desejado levá-la consigo.

Seu casamento de conto de fadas descia ladeira abaixo. Brigavam com freqüência, principalmente no dia em que viajara, e fora tomado por complexo de culpa. Ele queria um tempo só para si. Sua ausência, bem como a de Anahí, levaram Diana a morte, mas ele não conseguira admitir sua culpa ou deixar ninguém saber que seu abençoado casamento era um inferno. Agora era tarde demais. Anahí não queria saber dele. Nunca quisera. Ela o evitara constantemente durante seis anos, principalmente depois de seu casamento com Diana. Como poderia culpá-la?

Se ainda pudesse se redimir, pensou triste. Não podia apagar os últimos dois anos, mas poderia facilitar-lhe a vida. Precisava conversar com os sogros. Eles precisavam entender. Anahí sofrera uma injustiça. Agora dependia dele reparar o erro. Tomara que conseguisse!

Anahí conseguiu percorrer a unidade três vezes no dia seguinte. Christopher a apoiava. Ela riu por estar tonta, mas seguiu em frente, sorrindo para as enfermeiras. Muitos pacientes caminhavam, todos melhorando e com ar mais saudável. O estímulo de andar mantinha a válvula em bom funcionamento, ajudava a limpar os pulmões e a recuperar a força. Ela nunca duvidara de que poderia sair em poucos dias e via-se a alegria em seu rosto.
Pelo menos até ver Alfonso. O sorriso radiante se dissipou. Os olhos ficaram embaçados e ela os baixou para o chão. A mão agarrou-se ao braço de Christopher.

— Ótimo! — disse Alfonso, ignorando sua falta de ânimo. — Você precisa andar, sempre que puder. Ajuda na recuperação.

— Essa é nossa terceira volta — informou Christopher. — Ela está fazendo progressos.

— Estou vendo.

— Precisamos continuar — disse ela a Christopher — Fico tonta quando paro.

— Christopher, precisam de você no quarto 310 — chamou uma das enfermeiras. — O Sr. Sharp disse que o remédio está acabando no respirador.

Christopher odiou abandoná-la e sua expressão refletia isso.

— Pode deixar que termino a volta com ela — disse Alfonso, assumindo o lugar de Christopher. — Vá ver seu paciente.

A paciente (Adaptada) ayaWhere stories live. Discover now