Capítulo 49

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Lorena

Como explicar o que eu sinto pela Maria Clara? Simplesmente não tem o que eu explicar, já que não sinto absolutamente nada. Só uma trouxa pra acreditar que eu ficaria 17 anos longe e voltaria por amor.

Cresci fadada a viver uma vida de merda naquela favela imunda, até eu começar a me relacionar com o Ret. Fiz o babaca ficar caidinho por mim, me dava a vida de luxo que eu queria.

Nunca sequer gostei dele, imagina amar. Apesar dele ser o melhor homem pra mim o tempo todo, me tratava como uma verdadeira rainha.

Mas eu cometi o deslize de engravidar, daí minha vida virou um inferno. Eu não podia ter aquela criança, ia acabar com meu corpo. Tentei abortar, mas por uma infelicidade não deu certo.

O Ret me fez viver o inferno de passar uma gravidez indesejada. E quando a criatura nasceu, eu tentei fazer o que planejei a gravidez inteira, matar aquela criança.

E de novo ele apareceu e acabou com os meus planos. Tive que fugir, roubei todo o dinheiro que ele guardava no quarto da Bruna, era pouco mas dava pra se manter por três meses.

Com dois meses em São Paulo, eu retomei meu corpo e minha meta era retomar meu luxo.

Comecei a frequentar lugares luxuosos, mesmo sem ter dinheiro pra pagar, e numa dessas voltas, a vida me presenteou com um velho muito rico. O cara tinha 62 anos, me proporcionava os maiores luxos, me levou pra conhecer o mundo inteiro.

Vivemos juntos por oito anos, obviamente ele foi o ser mais chifrudo do universo. Mas aos 70 anos ele infartou, eu nunca fui tão feliz ao pensar que herdaria toda aquela fortuna.

Minha felicidade durou pouco quando os filhos dele entraram na justiça contra mim e ganharam a causa. Eu saí daquele relacionamento apenas com os presentes que ele havia me dado em vida.

Por dois anos eu consegui me sustentar com isso, mas não dava mais, então tive que recorrer a única alternativa que tinha.

Me tornei prostituta, e com o tempo, fiquei conhecida como dama de luxo. Vivo essa vida há sete anos, mas cansei de tanto trabalho, quero um dinheiro mais fácil.

Então procurei saber como andava o Rio de Janeiro desde que eu fugi. Ret havia se tornado dono da Rocinha e chefe do CV, tá podre de tão rico. Pensei em usar o poder que ainda tenho sobre ele, mas isso não funcionaria, ele estava casado e com certeza me odiava com todas as forças.

Qual seria o elo mais fraco? A filha tolinha. Crescer sem mãe e de repente ganhar uma? Seria o sonho de qualquer órfão.

Foi só uma mentirinha ali, outra aqui, um carinho, que ela cedeu, tão solitária e tão fácil de ser manipulada, pensei que o Ret a criaria melhor.

E finalmente eu consegui tudo que eu queria, me infiltrar nessa família de merda, Maria desprezava o Ret pelo que ele supostamente fez comigo, tão boba.

Agora era a hora de dar o bote.

Me encontro na barreira da Rocinha, com esses vapores de merda me impedindo de entrar.

Lorena: chama o patrãozinho de vocês
Cabelinho: o que tu quer aqui? - Falou chegando.
Lorena: falar com teu patrão

Ele se afastou, falou algo no radinho e voltou.

Filha do TráficoOnde histórias criam vida. Descubra agora