A Espada de Sangue

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Já cansei de contar através das estrelas quantas e quantas noites se passaram.

Nossos corpos só não estavam exaustos porque Brilhantus era um ótimo mago.

Ele materializava abrigo e comida todas as vezes que eu reclamava que estava com fome ou que precisava descansar, mesmo que isso significasse ficar sem magia nenhuma por diversas horas.

Faz tempo que já esqueci os rostos das pessoas que me deram a vida. Para mim, Brilhantus é meu verdadeiro pai. Um pai zeloso, que cuidou de mim do instante em que quase morri até o momento de agora.

Brilhantus colocou seu braço na minha frente, impedindo minha passagem, e disse:

— É aqui.

Ele abriu o saquinho onde guardava o pó de fada, e jogou boa parte dele no ar.

Uma barreira mágica fez-se presente no momento em que o pó tocou o nada.

— Vê a inscrição na barreira? É o símbolo da deusa Gênesis. Eu já fiz a minha parte, agora faça a sua: mate a barreira.

Como fiquei sem saber o que fazer, Brilhantus concluiu:

— Use a espada do deus da morte. Golpeie a barreira, e ela cairá.

Tirando a espada da bainha, ergui a mesma o mais alto que pude. Quando a espada tocou a barreira, a mesma rachou em mil pedaços. Desaparecendo logo em seguida, e permitindo a nossa passagem.

O local atrás da barreira era uma floresta afastada até mesmo da terra dos elfos.

Com dificuldade, chegamos ao centro da floresta, e avistamos uma árvore gigantesca.

Os olhos de Brilhantus brilharam, seus joelhos foram ao chão, e sua boca proferiu:

— Eu sabia! Sabia que esse velho mago não estava ficando louco! Veja, a árvore também tem a marca de Gênesis! Achamos. Este é o lugar.

Levantando do chão com minha ajuda, o velho Brilhantus somente apontou para a árvore. Nem foi preciso dizer mais nada. Afundei a lâmina em seu tronco. Mas tive que fechar os olhos por causa da luz cegante que emanou das folhas da árvore.

— Abra os olhos, Turin. Abra os olhos!

Quando o fiz, contemplei uma espécie de diamante flutuar diante de mim, como se desejasse se unir ao meu ser.

Acho que o diamante só não brilhou mais do que o olhar de meu pai, Brilhantus, ao ver o diamante fundir-se com minha espada, fazendo sua lâmina passar do tom acinzentado para um vermelho sangue da mesma intensidade que o símbolo de Gêneses que surgiu no meu braço direito.

Eu sempre fui tratado como o garoto da profecia. Mas acho que só naquele instante consegui compreender o peso daquela responsabilidade.

Turin e o Cristal de SangueWhere stories live. Discover now