Derrotando o Inimigo

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O caminho de volta para o acampamento era longo. Mas agora, com a espada de sangue, eu poderia quebrar a Gema do Caos presente na armadura de Aspargo.

Entretanto, nenhuma dessas coisas pareciam importar para Brilhantus, pois tudo o que saía de sua boca dizia respeito ao treinamento especial ministrado a mim todas as vezes que parávamos para descansar.

— Irálites ensinou-lhe a lutar com o corpo, Serênia ensinou-lhe a lutar com a alma. Mas já está na hora de você aprender a lutar com o coração.

Fiz uma cara de que nada entendi.

— A Magia do Coração é aquela que todos conhecem e admiram. Muitos a chamam somente de magia. Eu vou lhe mostrar que a Magia do Coração é muito mais do que bolas de fogo e invocações de raios vindos do céu. Você conhece a magia da luz cegante?

— Luzir?

— Se já conhece a magia, então se levante. Ponha-se em postura de batalha e tente lançá-la.

Levantei, estiquei um dos braços, e gritei:

— Luzir!

Nada aconteceu.

— Foi o que pensei. Seu coração, mesmo depois de todo esse tempo, continua bloqueado.

Mais uma vez nada entendi.

— Feche os olhos. Quero que imagine seus pais.

Meus olhos arregalaram-se no instante em que ouvi aquelas palavras. Ninguém nunca tinha pedido para que eu relembrasse o pior dia da minha vida.

— Não se preocupe, meu filho. Eu estarei com você — disse Brilhantus posicionando-se ao meu lado e segurando uma de minhas mãos.

A presença de meu pai acalmou meu coração. Consegui fechar os olhos.

No começo, tudo era trevas. Até que os rostos distorcidos de meus pais surgiram diante de mim. Os sorrisos de ambos abraçaram meu coração como uma leve brisa de verão.

Entretanto, tudo gradativamente escureceu. Com a escuridão, vieram gritos horripilantes que trouxeram uma atmosfera de caos.

Eu não via, mas podia sentir os habitantes da vila em que nasci morrendo um após o outro.

Uma lágrima começou a brotar de mim.

— Deixe que esse sentimento percorra seu coração. Não o afaste, apenas o aceite — dizia Brilhantus.

Mas a visão da morte dos meus pais quase fez meu coração explodir. Em um grito, quis abrir os olhos.

— Não, Turin, não fuja! Ou você continuará fugindo para sempre! Eles se foram, mas eu estou aqui! — gritava o velho mago.

Com aquelas palavras, a morte deu lugar à vida, e a vida deu lugar às lembranças.

Todos os bons momentos que passei em companhia dos meus amigos da Resistência, povoaram meu coração.

A minha mão se fechou, começou a tremer. Uma onda de vida viajou do meu coração até minha mão direita, que se estendeu de palma aberta para frente.

Meus olhos se abriram, contemplando a Existência.

Minha voz vibrou, e de minha garganta saiu um estrondoso "Luzir".

A esfera de luz que saiu de minha mão transformou-se em uma flecha de luz, que ao atingir a árvore logo a frente, fez com que a mesma tombasse, assim como o meu corpo.

Exausto, ouvia Brilhantus dizer:

— Parabéns, meu filho, o seu coração está liberto. Mas quando estiver diante de Aspargo, prestes a destruir sua Gema do Caos, não se esqueça de que fazer magia não é derrotar o inimigo, mas sim derrotar a si mesmo.

Turin e o Cristal de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora