Aonde Brilham As Estrelas

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— Poderia ter deixado isso passar mas não deixou. — disse Alba em um lugar de honra na mesa ao lado do rei.
— Não poderia deixar... Você não merecia o que elas fizeram. — O  rei apenas falou mantendo seu olhar direcionado para os noivos que estavam vindo em direção a ele para dar as boas vindas. — Apenas aproveite a festa. Não permita que elas consigam o que queriam.
    Os dois chegaram à mesa.
— Majestade... não sabíamos que viria, e uma honra recebê-lo e também a sua acompanhante. — Disse o noivo gentilmente. O rei virou-se para a Alba por alguns instantes como se quisesse dizer algo más voltando sua atenção para os noivos disse.
— Não pretendia... mas algo me fez mudar de idéia. Desejo que sejam muito felizes.
   Ela encarou discretamente a Balduíno sabendo que o algo ao que ele se referiu era ela.
— O mesmo desejo a vocês, majestade. — disse o casal.
    O rei e Alba se entreolharam no mesmo instante em que os noivos pronunciaram aquelas palavras. Eles se deram conta de que os donos da festa haviam achado que eles eram um casal. Alba se surpreendeu por que ele não explicou que ela somente estava o acompanhando e sim preferiu fazer somente um gesto em agradecimento. Sibylla estava sentada ao lado e ouviu toda a conversa ao ver a reação de seu irmão, ela disfarçou um sorriso e compartilhou algo ao ouvido de Tiberias.
  Uma música se iniciou preenchendo todo o salão. Alba viu o rei se levantar primeiro que os outros anfitriões da mesa. Pois ele iria pronunciar algumas palavras em agradecimento aos noivos. Más Alba levantou-se também.
— Gostaria de dançar?— Disse ela ao estender sua mão para ele.
— Milady, o certo não deveria ser que eu a convidasse para dançar? — Ela deu de ombros. — Tem certeza? não acha desconfortável para a senhorita? — continuou ele.
   Alba somente deu um sorriso travesso, pegou em sua mão e o levou para o meio do pátio. A música tinha a melodia mais doce que Alba já havia ouvido e era tão envolvente. Ela apoiou uma de suas mãos no ombro dele, e o rei a  conduziu pelo salão, porque para alguns como Sibylla ,era bom ver que o rei estava presente na festa mas para outros era arriscado que aquela jovem ficasse tão próxima dele… pois não se podia esquecer o detalhe de sua doença.
   Alba fechou os olhos e esqueceu que haviam outras pessoas no salão, ele ficou observando os passos dela ficarem mais lentos. Ela fechou os olhos e encostou sua cabeça no rei, eles deveriam dançar a uma distância regular e segura entre dois, mas ela não respeitou a regra.
— Não acha que está se aproximando muito?
— Se está me dizendo isso por causa do que tem, não precisa se preocupar eu não me preocupo e não tenho medo, - espantosamente o rei preferiu não observá-la -  então se eu que sou sua acompanhante não tenho nenhuma reclamação acho que a opinião dos outros não importa. - continuou ele - cada um julga como quer mas nenhum deles pode mudar os fatos, majestade.
— Não sei se foi certo aceitar esse convite para dançar, as pessoas a julgam por estar tão próxima de mim, viu que os noivos acabaram confundindo o nosso real motivo pelo qual estamos aqui...
— Se arrependeu de ter me trazido aqui? — Perguntou ela ao encará-lo de forma surpresa.
— Jamais milady, está sendo um prazer tê-la como minha acompanhante. Sua companhia tem me trazido paz...— Ele deixou escapar. Ela deu um pequeno sorriso e voltou a encostar se no rei.
— Como poderia me importar já lhe disse... não está sendo desconfortável para mim, afinal eu o convidei.
       Após dançarem um pouco, ele parou e voltou à mesa, Alba o acompanhou e sentou-se a seu lado.
— Está tudo bem? — perguntou ela preocupada.
— Sim...— Ele parou um pouco. — Deve lembrar que minha saúde já não é tão resistente como há alguns anos atrás. Mas o que está fazendo aqui? Deve se divertir e chamar outro acompanhante...— continuou ele.
— Milord...eu estou acompanhando a vós e assim continuarei fazendo. Pois está me proporcionando um momento maravilhoso e que guardarei comigo. Eu não trocaria sua companhia por nem pelo cavalheiro mas gentil, desta festa, pois para mim esse cavalheiro e você...
— Você é muito boa Alba, não merece que a tratem assim,só não entendo porque não as acusou, não denuncia para Sibylla o que elas fizeram!
— Por mais que tenha doído,elas não fazem isso porque sentem ciúmes, mas sim porque não conseguem se igualar ao que elas acham correto.
     A festa se prolonga até altas horas e os dois decidem voltar mais cedo para casa.
— Tiberias, onde está Gui? — perguntou Sibylla.
— Não faço ideia onde pode ter ido...deseja que eu o procure?
— Não...eu só achei estranho ele ter desaparecido assim.
    Alba surge do meio dos convidados acompanhada do rei.
— Vamos retornar ao palácio...está ficando tarde!
— Mas já, meu irmão? — Replicou Sibylla.
— Se desejar pode permanecer, mas estou indo e Alba também...
— Ainda precisará de mim esta noite senhora?— Perguntou Alba.
— Pensando bem… — Sibylla sorriu para o irmão. — Não! Aproveite o fim de noite. Amanhã lhe darei o dia para descansar e se quiser visitar seu irmão...tem minha permissão.— O rei percebeu o olhar de desconfiança da irmã seguido de um sorriso enigmático.
     Ao chegarem de volta do casamento, os dois caminhavam pelo corredor em direção ao pátio principal.
— E então, o que achou desta noite milady? — Disse ele parando para pegar uma tocha presa na parede por uma base de metal  para iluminar o corredor.
— Inacreditável...tenho a impressão de estar em um  sonho do qual não queria acordar. — Ela deixou uma graciosa e doce gargalhada escapar.
— Fico feliz que tenha gostado…
— Perdoe-me perguntar, mas quem cuida da organização de seus aposentos, quem traz aquelas flores para lá?
— Uma serva! Ela mantém o quarto limpo e todas as coisas em ordem...
— Aquelas flores não combinam... — Parando no meio do corredor ela apontou  indignada para um arranjo a sua frente. — Não acredito que ela as arrancou somente para usá-las inadequadamente. — Alba exclama com um tom irritado.
— Eu não sabia que tinha gosto por decoração e muito menos que soubesse como...
— Organizar arranjos e decorar ambientes, eu cresci na França, minha babá me ensinou tudo sobre decoração. Ela trabalhou para a nobreza francesa mas teve que afastar-se por causa de Georgina...— Interrompeu Alba.
        Os dois chegaram à porta dos aposentos dela. A jovem notou como ele parecia cansado.
— Está entregue milady... espero revê-la em algum outro momento mais oportuno...
— Obrigada por essa adorável noite, majestade. — Ela o abraçou e por acaso uma das fitas que prendiam a tiara a seus cabelos acabou se enroscando em uma renda da túnica do rei, e ela não percebeu. Em um movimento rápido Alba tirou rapidamente a máscara dele e lhe deu um beijo no rosto, a menina não pôde ver sua face nitidamente já que a luz da tocha estava sendo quase apagada pelo vento que entrava pelas arcadas do pátio. Depois colocou-a ligeiramente a máscara no mesmo lugar. O rei ficou paralisado enquanto ela entrava no quarto e fechava a porta. O perfume da garota ainda estava em sua túnica e ele pela primeira vez ficou totalmente desorientado, não sabia que reação expressar diante daquela expressão de carinho, feita por uma menina que deveria tê-lo respeitando e não ter tocado em sua máscara muito menos beijado sua face... Enquanto o rei se contradiz na frente do aposento dela, a mesma se atirou na cama sorrindo sem motivo, com mil cenas passando pela sua cabeça e tocando os lábios com a mão lembrando-se do beijo que ela havia se atrevido a dar nele, a voz dele entoando em seus ouvidos. Ela adormeceu pensando nele ou melhor não iria conseguir pensar em outra coisa a não ser nos lindos olhos dele que traziam consigo a imensidão azul do mar.
    Mais tarde, no dia seguinte, dentro dos aposentos do rei, Tiberias estava contando sobre as pessoas que estavam comentando pela visita inesperada do rei...
— Os nobres não conseguem acreditar que dançou com uma dama de companhia de sua irmã!
— Ha... Meu caro conde e amigo, Tiberia, eu ainda estou tentando me acostumar a essa ideia.
— Alba é uma boa menina, sua companhia tem lhe feito bem! Parece mais desperto tem tido mais ânimo. Sinceramente não esperava que aceitasse o convite.
— Ela conseguiu despertar algo em mim, no meu interior que ninguém mais conseguiu… — Ele expressou com admiração. — Sabe ela é  tão cativante… — Disse Balduíno voltando-se para o conde.
— Tão... atraente — Disse Tiberias com um sorriso que de certa forma pareceu inadequado para o rei.
— É claro que sim ...— Ele fez uma pausa para pensar bem no que iria dizer — Como para qualquer um que a conheça! Ela não é uma garota comum. — Continuou o rei.
— Mas não acha que ela é um pouco inconsequente...?
— Sim! Mas isso é algo que está fazendo um pouco de falta, é a ousadia que ela possui. Esta menina conseguiu me cativar assim que olhei nos seus olhos e pude apreciar o tom gelo de sua cor. — Indagou Balduíno.
— Está se interessando por ela majestade! — Afirmou Tiberias. —  Isso para mim está claro.
— Por favor, realmente acha que posso estar interessado nela? Sabe muito bem que minha doença não permite que eu me envolva com ninguém. — Balduíno manteve seus olhos presos à planta que desenhava. — A última coisa que quero é contaminar aquela jovem.
— Majestade, está sendo racional demais, se realmente estiver nutrindo sentimentos por ela?
— Impossível.
— Ela parece não se preocupar nem um pouco com esse detalhe.
— Tiberia…
    De repente vem a cena do beijo que ela lhe deu e ele trata de esquecer, antes que Tiberias notasse.
— Eu só a vi duas vezes é...
— Duas? Achei que aquela fosse a primeira vez, espere… então no dia em que Sibylla me pediu para ajudar a procurar a dama de companhia dela era aqui que a mesma estava?— Interrompeu o conde  incrédulo.
— Sim, ela estava aqui,a menina acabou se perdendo e eu a ajudei a voltar...isso não significa que eu esteja realmente sentindo algo por ela. — O rei estava desconfortável com o assunto. — Estou me sentindo cansado, podemos continuar amanhã?
— Claro majestade! — O conde pegou alguns documentos sobre a mesa e saiu.
     Na manhã seguinte... Alba foi ao jardim atrás de flores para um arranjo, ela estava sozinha quando de repente alguém se aproxima.
— Mais o que temos aqui...uma pequena ninfa decidiu sair dos bosques e nos agraciar com sua beleza! — Ela virou se rapidamente e tomou um grande susto que a fez derrubar as flores, era Gui o marido de Sibylla que finalmente tinha tido a oportunidade de ficar a sós com Alba.— Me disseram que era de grande beleza a irmã de Ibelin,achei que haviam exagerado mas tenho certeza que economizaram elogios pois é mais bela pessoalmente!
     Alba recolhe as flores e sai sem dizer nada mais para a infelicidade dela, ele a seguiu e a encurralou na entrada do jardim.
— Milord, deixe-me passar...tenho coisas a fazer. — Ela virou-se para tentar escapar mas ele a bloqueia com o braço.
— Onde pensa que vai? — Exclamou Gui. — Não fomos apresentados ainda. — Ele a examinou maliciosamente com o olhar. O rei havia saído de  seus aposentos naquela manhã e retornava de uma reunião de conselho, quando avistou aquela cena de uma das sacadas que ficavam de frente para o jardim. E foi imediatamente para lá.
— Me parece ser muito esperta! Sabe que futuramente um dia serei rei e assim poderíamos nos beneficiar ambos com isso.
— O que está querendo insinuar ou dar a entender com isso? — perguntou ela assustada quando ele removeu de seu ombro uma mecha de cabelo que insistia em soltar se do penteado.
— O que você está pensando agora...— ele se aproxima mais e mais dela até que os dois estejam a uma distância considerada inadequada, ela se encolhia para longe dele. Mas por sorte uma voz ecoa no pátio de arcadas imponentes e antigas.
— Gui! o que faz aqui? — Perguntou o rei ao se aproximar de forma cautelosa com um olhar de repreensão.
— Eu estava dando as boas vindas a filha de Godfrey, é  irmã do Barão de Ibelin...e você o que faz aqui?
— Essa é a forma correta para se dirigir a seu rei, Gui?
— Perdoe-me… majestade! O que devo a honra de sua presença neste recinto?
— O castelo é meu, e passeio por onde bem entender, — Ele cruzou as mãos atrás de suas costas com um olhar zombeteiro. — E não tente mudar de assunto o que acabei de presenciar não foi uma apresentação muito menos boas vindas...peço que me explique o que desejava fazer com a senhorita
— Ora meu cunhado, não estávamos fazendo nada de mais! não é mesmo Alba? — Ele a obrigou discretamente a assentir.
— Espero que seja verdade. Afinal ela é filha de nobre e se a família dela vier a me reclamar por algum dano causado a ela ou saber que voltou a incomodá-la não hesitaria em dar-lhe o devido castigo.
— Claro... preciso ir ... majestade! — Ele fez uma reverência com um olhar nada bom e saiu.
— Está tudo bem? — Perguntou o rei preocupado.
— Sim majestade, foi somente um susto.
— Não está bravo comigo... por causa do que aconteceu ontem? — O rei segurou de leve em seu braço e os dois caminham de volta ao jardim.
— Por mais incrível que possa parecer não.
    Os dois seguiram juntos pelo pátio em silêncio, quando um soldado passou em um cavalo.
— Gostaria de poder sair para cavalgar um pouco sem compromissos ou sem hora para retornar. — Exclamou Alba.
— Creio que posso realizar o que deseja. — Acrescentou o rei.— Quero que conheça um lugar que tenho certeza, vai agradar você. Não posso viajar mas um passeio não é proibido.
       Em poucos minutos dois cavalos já haviam sido selados, e os dois haviam sido trajados adequadamente para esse passeio, uma guarda foi montada para acompanhá-los. O rei ajudou Alba a montar e depois montou em seu cavalo.
— Para onde vamos? Georgina deveria me acompanhar, não acha? — Perguntou ela ao puxar as rédeas para acompanhar o rei.
— Saberá quando chegarmos lá!  E não. ela não precisa te acompanhar aonde vamos não fica muito longe,agora não me faça perguntas somente me acompanhe!

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Todas as pessoas grandes foram um dia crianças – mas poucas se lembram disso.  — O Pequeno Príncipe

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O Que Há Por Trás Da Máscara /ADAPTADO/Where stories live. Discover now