𝐅𝐀𝐋𝐋𝐄𝐍 𝐀𝐍𝐆𝐄𝐋𝐒, xavier thorpe.

XIII. família perfeita

se eu quebrar o vidro, então terei que voar
não há ninguém para me pegar se eu dar um mergulho
estou com medo de mudar, os dias continuam os mesmos
o mundo está girando, mas apenas em cinza

shatter me ─ lindsey stirling

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── No entanto, querida. ── Minha mãe fala depois de um tempo em silêncio. ── Nós estamos presos aqui. Depois que seu pai fugiu para encontrar minha alma e tentar me trazer de volta, as coisas complicaram um pouco. Como não havia muito o que fazer para nos conter, então fomos amaldiçoados, ficando presos em um artefato mágico. Não consigo me lembrar onde está, mas sei que é um espelho. É tudo que sabemos.

── Mas se o papai é rei do inferno, dos demônios, sei lá, por que ele não consegue tirar vocês daqui? Ele tem poder pra isso… ── Falo como se aquela fosse a solução mais óbvia do mundo.

── Não quando estamos aqui. Meus poderes são anulados quando não tenho uma fonte e esse lugar não ajuda muito. Diferente de sua mãe que está cercada das coisas que ela mais ama. ── Ele pisca e eu me permito rir ── Sim, sou eu!

Não entendo como alguém pode ser capaz de achar certo separá-los. Ainda mais separá-los de mim. Isso tudo é confuso, não sei o que sentir. Passei anos acreditando que meu pai havia ido embora somente porque não me deseja por perto, mas isso. Isso muda tudo. Ainda vou precisar de um tempo para me acostumar com a ideia de ambos estarem vivos e esperando por mim.

── Tá bom, mas recapitulando. Vocês dois, meus pais, Lúcifer e Chloe ── aponto ──, causaram uma espécie de conflito entre o céu e o inferno. Porque se estou certa, imagino que Deus, meu avô? Acho que sim, não gostou nada dessa ideia. E provavelmente me odeia também, não é? Enfim, vocês fizeram tudo isso porque se amam?

E querendo ou não sou fruto desse amor. Isso é aterrorizante. Mas até mesmo as grandes histórias de amor tem um pouco de terror. Levo a minha direita até as têmporas, fechando os olhos para não gritar com tudo aquilo. Se eu tivesse ficado no quarto dormindo nada disso teria acontecido. Respiro fundo antes de concluir meu pensamento, acho que no fundo até estou feliz.

── E agora, euzinha, Pandora, filha de vocês, também tô metida em confusão. Meu deus, isso é muito pior do que eu imaginava. Eu vou ter uma forma demoníaca também? Porque sempre ouço aquele ditado, filho de peixe, peixinho é. Isso se aplica a demônios?

Eu estou nervosa e as palavras saem disparadas dos meus lábios. Meus pais se olham e riem. Estou feliz de finalmente estar com eles, de ter uma memória boa e contente, apesar de não ser numa das melhores circunstâncias.

── Talvez você tenha, filha. Não posso te dizer com certeza. Mas sim, resumindo, é tudo isso que você falou. O amor às vezes pode fazer com que cometamos loucuras, mas quando se é pela pessoa certa, toda loucura é válida. Por vocês eu faria tudo da mesma maneira um milhão de vezes, sem mudar um pingo no i desta história.

Papai toca a mão da minha mãe, o amor deles transborda em cada canto deste lugar. Nunca imaginei que vê-los novamente seria assim. Nem esperava encontrá-los algum dia. Mas aqui, nesse exato momento, tenho certeza que se tivesse tido uma vida com eles, sem que nada fosse tirado de nós, eu os amaria tanto quanto amo agora.

── Querida, não há tempo para explicarmos tudo. Queria que fosse possível você ficar mais alguns instantes aqui conosco, mas precisamos ir também. O tempo está acabando e você precisa acordar  ── Ela olha para o meu pescoço e em seguida para a minha mão ── Seu anel, querida? Onde está?