10. Nada está tão longe que não se possa alcançar

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Hey, eu sou a Gaby Ramllo e essa é uma fanfic snowbaz de natal cheia de referências à trilogia Simon Snow. Pra você que chegou aqui durante a postagem, vou soltar um capítulo por semana (se comentarem bastante posso tentar adiantar!). Espero que goste da leitura e um feliz dia de Snowbaz !! 
Não seja um leitor fantasma, comente :)


***

— Você vai abrir todos de uma vez?!
— Uma das coisas que você aprende quando se tem quatro irmãos, Simon — ela explica, enquanto empurra com o dedo uma das "portas" —, é a não ser trouxa.
  Simon sentiu a testa contrair ao tentar entender o que Penny queria dizer com aquilo, mas logo se distraiu, assistindo ao que a garota fazia. Ao fim da aula da Sra. Possivelfa, a professora distribuiu aos alunos pequenas caixas enfeitadas e cheias de portinhas numeradas; eram 10 números, ao todo, um para cada dia que restava até as férias de fim de ano.
  Penny nem ao menos esperou chegar em seu dormitório, abriu de uma vez todo o calendário advento no refeitório, assim que a aula terminou e eles foram almoçar junto de Agatha. Quando a garota de cabelo roxo acabou de arrancar todas as portas, começou então a tirar o que era para ser os presentes: os três primeiros dias foram pequenos cartões natalinos, depois apareceu um doce e as variações continuavam até o número 1.
  Simon pegou o primeiro cartão, com a ilustração de uma bola de cristal e laços, cheio de glitter dourado. Ele leu a mensagem em voz alta:
— "Nada está tão longe que não se possa alcançar".
— Podiam ter dado um livro de autoajuda logo — Penny reclamou, rabugenta, enfiando um caramelo na boca.
— Eu acho legal — Agatha retrucou, largando um cartão e já pegando outro para ler.
— Não vai abrir os seus, Si? Tem chocolate, olha — ele negou à Penélope.
— Quero abrir direito — dando de ombros, a garota recolheu o que não era de comer e jogou na lixeira mais próxima.
   A verdade é que, em dezesseis anos, Simon nunca havia recebido um calendário desses. Talvez se ele tivesse uma família, mas quando se vive pulando de orfanato em orfanato você fica feliz em receber um par de meias ou uma escova de dentes depois de mais velho. Quando criança ele lembra de ter ganhado uma bola vermelha, um carrinho com labaredas iradas, um skate, mas após os doze anos as doações são mais direcionadas para os essenciais e não para diversão. Enfim, para ele aquilo ali era novidade. Snow queria desfrutar devagar.
   Infelizmente, nada é tão simples quando Baz Pitch divide um quarto com você.   
   No fim daquela tarde, Simon retornava para Watford depois de uma de suas missões com o Mago. Foi terrível. Eles foram atacados por duendes bonitões e Snow acabou perdendo o controle e explodindo em magia, pra variar. Estava exausto e fedendo a chaminé quando subiu para o dormitório na Casa dos Mímicos. Tudo o que precisava era um banho, comida e uma boa soneca.
   Foi arrancando a roupa e tentou não esbarrar nos frascos de produtos chiques do colega de quarto, enquanto terminava de despir a última peça e se enfiava na água morna. Conforme relaxava, sentia a magia residual deixar as pontas dos dedos e se assentar no corpo outra vez.
   Ele saiu do banheiro abrindo a porta com ajuda do pé, meio de costas para o quarto, carregando suas roupas sujas, com a toalha enrolada na cintura e o cabelo gotejando. Durante o banho se lembrou do calendário advento que recebera mais cedo, e que não havia aberto o primeiro compartimento; era exatamente isso que iria fazer logo que se vestisse.
   Era o que queria fazer, mas assim que ele sacudiu a cabeça para se livrar da água que estava prestes a escorrer para o seu pescoço, uma reclamação agressiva veio de um lugar à suas costas
Snow! — ele quase deu um pulo, cerrando os punhos, preparado para se defender.
— Cristo...
— Baz — o outro "consertou". — Posso saber por que você está sacudindo o cabelo molhado no meio do quarto?
— O meio é neutro — Basil ergueu uma das sobrancelhas.
— Certo — disse, como quem anota uma informação. — E por quê, em nome de Crowley, tem um pano de chão chamuscado em cima da minha cama? — Simon levou alguns segundos para compreender que o outro se referia à camisa que ele jogou para qualquer lado antes do banho.
— Sua cama está mais perto da janela do que antes, devo ter errado a mira por causa disso — inventou e sentiu uma onda do que nomeou de "raiva" com o olhar que Baz lhe lançou.
— Você está insinuando que eu empurrei a cama para perto da janela? Para perto da sua cama, Snow?
— Eu não.
— Então arruma outra desculpa para isso aqui — ele pegou a camisa com a menor quantidade de dedos que podia —, estar na minha cama. Te dou dez segundos. Quinze, porque sei que você é devagar — nessa hora Simon se irritou.
— Cala a boca.
— Quatorze, treze — conforme contava, ele se aproximava da janela —, doze, onze — até que Simon entendeu o que ele iria fazer e foi tentar arrancar o trapo da sua mão.
— Não! Me dá isso aqui, Baz!
— Nove, oito... — ele esticava o braço para longe de Simon e a diferença de altura dos dois era suficiente para que o Escolhido não alcançasse seu alvo.
— Se você jogar—
— Se eu jogar você vai fazer o quê? Vamos Snow, me dê um soco, seja expulso — Simon queria entortar ainda mais aquele nariz, ao invés disso, subiu na cama para finalmente pegar sua camisa. O outro não largou.
— Devolve essa merda — ele puxava de um lado e Baz puxava do outro. — Cacete, Baz!
— Não quero essa coisa fedendo a cinzeiro dentro do meu dormitório.
— Nosso dormitório!
— Só até você ser expulso. O que vai acontecer em poucos minutos — eles continuavam puxando.
— Eu não vou quebrar a porra do anátema!
— Ah, eu acho que vai, sim.
— Eu não vou te machu—
   A frase de Simon se perdeu quando o tecido esturricado não aguentou e rasgou no seu último puxão.
   Por sorte, Baz foi ágil o suficiente para salvar Snow de uma queda horrorosa. Do chão, ele conseguiu segurar o outro pelo braço antes que caísse da cama de costas. Mas eles não tinham tanta sorte assim: num misto de intensidade de movimentos e instabilidade, Simon acabou tombando para frente, saltando desequilibrado para o chão, bem na direção de Basilton, que precisou espalmar as mãos em seus ombros para que a situação não ficasse ainda pior.
   Ambos respiravam ofegantes ao fim do episódio, e estavam tão próximos que quase sopravam no rosto um do outro. Passado um segundo, Simon só conseguia sentir as mãos frias de Baz Pitch em contato com sua pele nua — Snow podia jurar que o outro garoto empalideceu ainda mais quando notou aquilo também. Eles se afastaram em conjunto e, sem dizer mais nada, Basil saiu da torre.
   De alguma forma, aquilo só deixou Simon mais irritado. "Frustrado" talvez descrevesse melhor o que sentia. Queria ir atrás dele e reclamar. Xingá-lo por ter rasgado sua roupa (ainda que fosse jogar no lixo, de qualquer maneira). Queria bagunçar aquele cabelo irritantemente lambido para trás.
  Resmungou sozinho pelo quarto até finalmente estar vestido. Sentado na cama, Simon abriu o dia 10 do calendário, mesmo que já soubesse o que iria ler.
   "Nada está tão longe que não se possa alcançar".

Boas festas, SimonOnde histórias criam vida. Descubra agora