8. Cedro, bergamota, hortelã e scones

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   Como de costume, ele abriu a cortina e deixou o sol matinal aquecer seu rosto — ou tentar, pelo menos. Quanto mais perto do Natal, mais frio ficava. Snow ouviu Baz se virando nas cobertas da cama ao lado; ele sempre reclamava quando o Escolhido afastava as cortinas pela manhã. "Isso é porque ele é um vampiro, Penny!", afirmou certa vez, quando discutia sobre isso com a amiga. "Ou porque ele é uma pessoa normal e a claridade incomoda os olhos quando ele está dormindo", foi a resposta dela.

   Simon ainda tinha certeza que havia alguma relação com o vampirismo e esperava que um dia, ao ser banhado pelos raios de sol, Basil começasse a fumegar e virasse cinzas, então ele finalmente teria uma prova concreta para suas acusações.

   Olhando para o topo da cabeça e cabelos pretos de Baz espalhados no travesseiro — que era o que estava visível, agora que ele tinha puxado o cobertor até em cima —, Simon decidiu que não era aquele o dia em que queria expor o colega de quarto e fazê-lo ser condenado à morte. Puxou novamente a cortina, impedindo o sol de entrar, antes de ir se trocar e descer para o café da manhã.

   Simon gostava de chegar cedo no refeitório para pegar os scones recém saídos do forno, mas não foi isso que encontrou quando pisou lá. Alguns alunos também já estavam de pé — a pixie que divide o quarto com Penélope, um menino do primeiro ano que uma vez veio dizer que seus pais odiavam Simon e, em seguida, pediu um autógrafo, e um cara do time de futebol, foram os que ele reconheceu —, e todos pareciam meio aturdidos.

— O que foi? — perguntou para o mais próximo.

— Tem um bicho na cozinha.

— Um bicho? — Simon preparou o punho.

— É. Não vi o que era, mas correu lá pra dentro. A cozinheira está lá.

— Na justiça. Na coragem. Na defesa dos fracos... — ele murmurou o encantamento, invocando a Espada dos Magos.

— Acho que já foram chamar o Mago — disse Trixie, a colega de quarto da Penny.

— O Mago não está na escola agora — ele havia lhe dito que voltaria de uma missão à noite. Simon perguntou se precisaria ir junto, mas o diretor negou, informando que levaria alguns de seus homens, apenas.

   Dentro da cozinha, a mulher empunhava um objeto que o garoto identificou como uma colher. Ele se questionou se aquele era seu instrumento mágico ou só algo aleatório que ela estava tentando usar para se defender. Na frente dela, um bicho esquisito parecia bem infezado.

   Era como um lagarto Normal, do tamanho de um gato, mas tinha seis patas ao invés de quatro, e era reluzente como uma panela de aço inox recém lavada. Simon tinha lembranças de ter estudado o animal em alguma aula, mas não lembrava o nome.

— Srta. Pritchard — a mulher quase pulou de susto, mas não se virou para ver quem era, mantendo o bicho em sua mira.

— Vá para fora, eu dou um jeito nele — mas ela não parecia muito certa disso.

— Eu acho melhor—

   O lagarto fez um barulho ameaçador, mostrando os dentes pontiagudos, aparentemente se preparando para um ataque. Com agilidade, Simon se pôs na frente da cozinheira e aplicou um único golpe certeiro, cortando-o ao meio. O garoto esperou por alguns segundos antes de baixar a guarda (seres mágicos muitas vezes vêm com alguma surpresinha; certa vez ele picou um animal em pedacinhos e cada pedacinho explodiu como pequenas bombas). O bicho permaneceu imóvel.

— Simon Snow! — a cozinheira disse, feliz. — Obrigada, Escolhido! Eu me sairia melhor numa luta com uma aranha-labareda do que um lagarto de cozinha. Morgana sabe o meu pavor. Obrigada!

— De nada — era sempre um momento sem graça esse dos agradecimentos. Sua barriga roncou alto, deixando a situação ainda mais constrangedora.

— Você gosta de scones com manteiga, certo? — ele sorriu e saiu da cozinha com uma cesta gigante de scones quentes e um tablete inteiro de manteiga.

   Enquanto levava o amontoado de scones fumegantes para a Casa dos Mímicos, onde estariam sãos e salvos para ele comer mais tarde, pensou em como aquele dia tinha tudo para ser uma maravilha. Não eram sete e meia da manhã e ele já tinha matado algo e recebido scones como recompensa. E ainda tem o calendário, lembrou, vibrando com a expectativa de tirar um doce da caixa.

   Assim que abriu a porta do quarto, foi tomado pelo aroma de cedro e bergamota dos produtos de beleza de Baz, que estava ajeitando os cabelos daquele jeito ridículo em frente ao espelho.

— Você assaltou a cozinha, Snow? — o deboche de Baz não iria afetá-lo, estava de bom humor.

— A Cozinheira Pritchard me deu.

— Parabéns, Escolhido, todos te adoram — Simon ignorou a ironia ácida dele. Deixou a cesta sobre a cama e pegou dois scones, mordendo um deles.

— Quer?

— Não, obrigado.

— Estão quentinhos, aproveita.

— Estou bem, Snow.

— Tem manteiga, olha. Você já comeu com manteiga? É uma delícia e—

— Snow.

— ...juro. Toma, come um — Simon andou até ele e estava perto o suficiente para lhe estender o scone inteiro. Levou o bolinho para perto do rosto do outro como quem oferece uma mordida. — Vai, eu fecho o olho se você quiser. Sei que não gosta de comer na frente dos outros — Baz apenas o encarou, completamente neutro, como sempre fazia. Simon fechou os olhos — Anda, pega.

   Por um segundo nada aconteceu, então Snow sentiu Baz se aproximar, e segurar seu punho, afastando-o para o lado, ignorando o scone. Baz respirou, expelindo o ar de forma pesada perto do rosto de Simon, que engoliu em seco.

— Eu disse que não, obrigado, Snow — seu hálito era pura hortelã.

   Cedro, bergamota, hortelã e scones; Simon podia jurar que salivou, mas não teve muito tempo para bater o martelo, porque Baz passou por ele, esbarrando propositalmente em seu ombro e quase o derrubando. Com isso, ele finalmente abriu os olhos, a tempo de ver o outro sair quase correndo do dormitório.

   Antes de descer mais uma vez, Simon abriu o dia oito do calendário advento. Eram balas de caramelo. Quando pôs uma na boca, podia jurar que tinha gosto de bergamota. 

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⏰ Última atualização: Jan 07, 2023 ⏰

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Boas festas, SimonOnde histórias criam vida. Descubra agora