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Já comentei que não lido bem com pensamentos exagerados e com cabeças pensando a mil. Hoje eu não descontei em esportes.

Meu pai está sentado em minha frente, de braços cruzados.

Talvez dessa vez eu o deva chamar de Nanami, já que estamos sérios.

Olho para minhas mãos repousadas na mesa e reprimo uma risadinha quando vejo as manchas rosas nelas. Aparentemente usar luvas não mudou nada. Pelo menos meu cabelo agora está bonito.

Mas isso não importa, pois Nanami está usando a Cara Do Desorgulho e ele só a usa em situações chatas.

– Você manchou minha toalha favorita – ele diz, e sei que não devo rir, mas um ar escapa de meus lábios.

Logo fico sério novamente mas não há o que falar, ele já está irritado e isso vai só piorar se eu abrir minha boca.

– Trate de limpar sua bagunça – ele diz, suspirando.

Assim que a porta do quarto fecha eu volto a cutucar meus fios cor-de-rosa. Algo sobre eles vibrantes me deixa muito feliz. Talvez por se aproximar do tom de mamãe.

Sukuna também pintou suas madeixas e sei que ele vai ouvir de nosso pai tanto quanto eu ouvi. Ele sujou quase que o banheiro todo tentando lavar a tinta e eu sujei uma toalha. Acho que já dá para comparar a bronca.

O convenci apenas pois ele sabia que não teria paciência de o pintar sozinho e, por mais que ele prefira um tom mais avermelhado quando pintamos, não reclamou quando tasquei "bubble gum" em seu cabelo, até elogiou.

Diferentemente de mim ele não estava passando por um momento difícil, se não teria apenas destruído alguma propriedade privada.

Depois de tentar limpar meu estrago na toalha branca - e levemente falhando - decido me arrumar minimamente para ficar bonito.

Tiro uma foto boa e posto com uma legenda meio boba de new hair, new me mesmo sabendo que esse é o único cabelo que uso e a única cor que uso. Mas dá pro gasto, é só para fazer gracinha de qualquer jeito.

Sabe, o dia do cinema junto ao fora de Megumi só me deram o empurrãozinho necessário para retocar o rosa que já estava com a raiz enorme e as pontas extremamente desbotadas. Viu, uma vitória no meio de um mar de emoções negativas.

Até o ignorei na aula hoje mas o emo acabou sendo um lembrete constante depois de sentar apenas duas cadeiras na minha frente.

E pior: os cartazes do show de talentos agora se espalhavam pelos corredores sem graça e eram uma lembrança de quanta raiva tenho do menino.

Eu queria apenas ter um arzinho para respirar por fora de toda essa comoção que me deixou incomodado. Não há um momento do dia onde eu possa ter paz sem ser quando estou suando até os ossos correndo ou treinando.

Por isso, ao invés de ir para a terapia, visto minhas roupas leves e meus sapatos de corrida e vou trotando até a casa de Nobara que ficava a três quilômetros de minha casa.

Mal chego ao seu portão quando uma mensagem de meu pai avisa que teremos visitas para o jantar. Ótimo, agora posso ficar com cara de cu tendo plateia.

Toda essa situação em que me enfiei é estressante. O show. Megumi estar adentrando minha vida em uma velocidade que anos não conseguiram fazer. O fato de eu o odiar. E querer calar a boca dele seja com um soco ou com um... Ah, chega dessa porra.

Nobara está em seu quintal com uma revista em mãos quando chego. Há um cheiro forte de cigarro no ar e eu sei que ela fumou, mas não consigo ser rígido com ela.

Uncover • ItafushiOnde histórias criam vida. Descubra agora