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Definitivamente hospitais não estão na minha lista de locais favoritos. Principalmente quando o motivo da vinda não é algo normal, mas sim uma situação desagradável com alguém com quem me importo.

Não sei o que deu na minha cabeça quando decidi explodir... Eu só soltei. E nem sabia que sentia tudo isso até falar.

E agora aqui estou, sentado numa poltrona bege em um quarto branco com cheiro de anti séptico e álcool.

Nanami entra pela porta no momento em que ouço um suspiro por reflexo de Megumi. Ele segura uma água e uma coca diet, e me entrega o refrigerante antes de sentar no sofá.

- O médico disse que ele tem uma condição genética... Algo sobre o sangue dele. Hemofilia o nome, causa uns sangramentos internos e algumas tonturas esporadicamente. Filho, eu não sei o que vocês estavam falando, mas saiba que não foi sua culpa. Ele deve ter esquecido de se alimentar e o aumento da pressão ao te seguir fez com que o fluxo de sangue aumentasse e ele passasse mal, mas ele vai melhorar.

Assimilo por alguns minutos e abro a latinha. Meu pai pode falar o que quiser, mas a verdade é que eu fui burro. Irresponsável. Eu nunca penso antes de agir e essa é a consequência dos meus atos, machucar as pessoas que amo.

O refrigerante sua em minhas mãos e meu olhar recai sobre o menino deitado conectado a máquinas com barulhos irritantes. Ele parece tranquilo ali. Fica até mais bonito quando não está me xingando. Bonito não! Arrumadinho!

Ele me deixa confuso.

Nanami sai do quarto para atender uma ligação e fico ali, esperando.

O rosto imóvel de Fushiguro repousava numa expressão de descanso, respirando lentamente enquanto o soro pingava em sua veia.

Teoricamente ele já deveria ter acordado, mesmo fraco. Mas o doutor disse que as vezes a subida de pressão pode ter rompido alguma vaso e feito ele perder sangue internamente. Não entendi nada, mas aceitei a explicação.

E agora, vendo o subir e descer de seu peito, me sinto pior ainda. Eu nunca deveria ter falado sobre isso com ele. Deveria não ter falado com ele naquela loja e, merda, não deveria ter gostado da nossa implicância. Foi isso que acumulou e me fez gritar. Nossa, eu daria tudo pra voltar no tempo.

Lágrimas ameaçam se formar nos meus olhos e preciso fechar eles para me recompor.

Depois de umas duas respiradas fundas minhas, eu ouço um barulho.

- Argh... água - Megumi sussurra.

Passo rapidamente um copo cheio que meu pai me trouxe para ele e o ajudo a beber.

- Tu me deu mo susto, cara - digo tentando não parecer muito desesperado.

Ele esboça um sorriso e pergunta com a voz fraca o que houve. Explico. A ruga em sua testa se aprofunda.

- Hereditário... Minha avó também tem isso. Mas achei que eu não tinha - Comenta.

- Em algumas pessoas o diagnóstico é tardio. Você é o um em um milhão, gostou?

- Não realmente. Não me sinto especial.

- Você não precisa se sentir. Quer ligar para algum parente? Quer algo?

Ele se endireita o máximo que consegue na poltrona e lambe os lábios pálidos para abrir a boca e dizer mais algo, mas antes que pudesse soltar qualquer som o seu médico entra no quarto e começa a verificar varias medidas do menino.

Após ver diversas coisas, ele explicou o diagnóstico melhor do que eu jamais poderia ter falado e disse sobre a possibilidade de alta assim que os exames estabilizassem.

Ouvi um suspiro reprimido de Megumi e imaginei sua impaciência em sair daquele quarto.

Enquanto o médico fazia algumas perguntas de histórico familiar eu aproveitei para sair e arranjar algum salgadinho para comer com meu refrigerante. A máquina de guloseimas só tem algumas batatas estufadas que só vem com metade do saco cheio e o resto com ar, mas isso daria conta do meu estômago violento por algum tempo até que pudesse comer fora desse hospital.

Volto em passos lentos pelo corredor, esperando não ter ninguém no quarto além do paciente quando eu voltasse e, de fato, consegui essa proeza.

Os olhos ávidos de Fushiguro me analisavam, questionando implicitamente algo que apenas o próprio conseguia entender.

Sento na poltrona e bebo um pouco do refrigerante depois de abrir meu saquinho de salgadinho.

- O que houve? - pergunto.

- Por que você continuou aqui? Depois de me despachar, quero dizer - ele questiona, a voz ainda falhando e repuxando nas sílabas enroladas.

- Você acha que eu te largaria num hospital qualquer logo depois de te ver passar mal quando eu disse que você me deixava louco? Bom, não exatamente com essas palavras mas... Ah, você entendeu.

- Sim, - ele diz, e o semblante sério não permite falhas em sua voz quando o mesmo complementa - é exatamente isso que acho.

Eu pauso. Paro de mastigar. O olho com o cenho franzido.

- Achei que ia acordar e ver meu pai aqui. E só ele. Ou ninguém, até. Eu não esperava isso de você, nunca cogitei essa possibilidade.

- Que possibilidade, Megumi? De que eu fosse um ser humano? - me exalto um pouco mas não o suficiente para o impor medo.

- Tipo isso. Não achei que você tivesse um coração.

- Porra, emo de merda! - pego sua mão que não está ligada a um acesso e a pouso sobre o meu peito, no lado esquerdo, por dentro de minha camisa.

Seus dedos gelados fazem cócegas na minha pele quente e sinto meu mamilo enrijecer com o seu toque frio.

- Então que merda é essa? - digo, falando sobre o palpitar de meu coração sob seus dedos gélidos e finos. Ele mantém a mão ali, e mantém o olhar fixo ao meu também.

Suas olheiras profundas refletem seu cansaço e contrastam com a pele pálida de seus olhos, os quais estão vivos. Ele me olha como se apenas o encarar meus olhos mantivesse sua alma acessa e o toque continuo o esquentasse também.

Ali, perco a noção de tempo. Horas se passaram. Ou foram minutos, talvez segundos enquanto meu peito ecoava o bombeamento do meu sangue e ele apenas sentia, entendia o que eu queria dizer antes mesmo que eu dissesse.

E como eu queria poder dizer. Ter coragem pra gritar que porra, eu gosto desse menino. E não é pouco.

Minha boca seca e eu penso em algo para dizer antes que o clima ficasse estranho.

- Eu... - começo, mas antes que pudesse terminar completamente uma frase inteiramente aleatória a porta do quarto se abre com um baque surdo e um
homem do tamanho de um geladeira entra.

- Ora, o que temos aqui? - Toji Fushiguro questiona, olhando fixamente para o ponto onde a mão de seu filho encontra meu peito.

Tiro a mão dele de mim rapidamente e abaixo o olhar.

Sinto meu rosto vermelho.

Porra, precisava ser logo agora?

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oooooiiii, espero que tenham sentido saudade de mim!!! esse capítulo foi MUITO legal de escrever e apesar de não ser um dos maiores ele tem bastante desenvolvimento
espero que gostem e me digam o que acham!! beijos

Uncover • ItafushiOnde histórias criam vida. Descubra agora