Capítulo I

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Se exprimia naquele corredor abarrotado na esperança de entrar correndo na sala. Já não bastasse o atraso, seu irmão tinha que dificultar as coisas.

Sua preocupação com o caçula só se agravava. Jisoo vinha desconfiando que Jungkook estivesse se envolvendo com drogas. A pressão imposta por Jonathan Kim só piorava a situação dele. Por ser revoltado de natureza, uma mudança drástica de comportamento era temível.

O cargo de irmã mais velha nem sempre foi um privilégio. Além de ser responsável por protegê-lo, Jisoo ainda tinha que lidar com a expectativa do pai sobre ela, o qual desejava que seguisse a advocacia, mesmo caminho que o dele.

No momento em que pisou no colégio, Jungkook já tinha sumido de suas vistas. Tinha medo de procurá-lo no banheiro e encontrar o que não queria. O nervosismo piorava à medida que chegar até sua classe se tornava mais difícil.

Antes, ela precisava passar em seu armário. Veria o que fazer com Jungkook depois. Tratou de apressar, ou perderia o primeiro horário de história, lecionada por um professor ranzinza e pontual.

Guardou um livro e pegou o seu planner. Deu uma rápida folheada nas páginas com anotações embaralhadas. Logo, fechou o armário e o trancou. No momento em que fez isso, assustou-se com um cara escorado no armário ao lado.

À primeira vista, Jisoo constatou que nunca tinha o visto antes. Certamente tratava-se de um novato. Ele vestia um look descolado composto por um blazer e uma calça. Os óculos escuros ocultavam seu olhar. Os cabelos lisos e pretos encontravam-se dispersos num corte moderno e realçado.

— Ai! Você me assustou! — Levou a mão ao peito.

Era um rapaz aparentemente normal, a julgar pela pele branca e pálida. Mesmo assim, Jisoo não conseguiu resistir a um certo arrepio que congelou sua espinha.

— Maria Magdalena?! — Ele inquiriu, num tom sarcástico e acusativo.

— Como? Do que me chamou?

— Não se faça de sonsa! — Ele a puxou pelo braço, aproximando-se de seu rosto. — Sei muito bem que é cheia de joguinhos. Te conheço há séculos!

— Do que você está falando? Quem é você? — O desespero brotou em sua face.

— Por que se fingiu de morta? Por que me enganou esse tempo todo? Por que me fez acreditar que tudo tinha acabado naquela noite? — Suplicou, num tom exigente, como se estivesse magoado.

— Sinto muito, mas acho que você se enganou... Eu não sou quem está pensando! Por favor, me solta! — Ela tentou se desprender, e ele cuidava para não atrair atenções.

— Não adianta mentir! Sei muito bem que é você. Responda-me, qual é a razão de estar se camuflando?

— Eu não estou me camuflando! Já falei para me soltar se não quiser que eu grite.

— Bem que algo estava me contando que eu deveria voltar aqui — disse num tom pensativo, como se estivesse devaneando. — Não encontrei bem quem eu queria, mas alguma explicação deve ter para isso.

Então, aproximou mais o rosto dela e retirou os seus óculos escuros, revelando olhos com um negrume intenso que em um instante, alterou-se para um suave avermelhado. Que criatura era aquela capaz de modificar a coloração de suas orbes?

Por um momento, Jisoo ficou inebriada com o contraste daquelas sobrancelhas grossas e preenchidas com aquele olhar fumegante e instigador. Ele era tão belo que chegava a ser sinistro.

Desde então, lembrou-se apenas de ver aquelas pupilas se contraindo, enquanto ele proferia palavras hipnóticas.

— De agora em diante, você vai fingir que nunca me viu. Não irá se lembrar de absolutamente nada envolvendo esse episódio. Esquecerá o meu rosto e a minha voz...

Maria Magdalena | (Vsoo)Where stories live. Discover now