1. Olhar intenso

215 18 4
                                    

Prólogo

De fato, eu não estava seguindo nada bem. Romeu havia me magoado muito por ter me beijado, criado esperanças dentro de mim, e ido embora.

Eu estava me esforçando no supletivo e nos trabalhos de técnico de informática, mas isso só me distraía durante o dia. Quando a noite chegava, o silêncio me angustiava e eu não conseguia segurar as lágrimas. Eu me sentia traído, mas como Romeu poderia me trair se nunca havia me prometido nada?

A terapia com doutor Pedro estava me ajudando demais. Tanto que, em doze meses, as lembranças que eu tinha de Romeu, seus beijos, sorrisos e olhares foram ficando cada vez mais fracas.

Senti-me reerguendo novamente para conseguir seguir em frente. Rafa e Noah sempre ficavam ao meu lado e sou muito grato por isso, mas sabíamos que aquele um ano uma hora passaria e me dei conta daquela dura realidade quando vi Romeu doze meses após nossos beijos intensos.

1

Olhar intenso

De tantas pessoas no mundo, era logo ele quem estava na fila daquela cafeteria, a um ângulo de me encarar. Não conseguia acreditar.

Será que eu já estava enlouquecendo?

Há semanas, desde quando Rafa e Noah haviam me apresentado aquela cafeteria, eu passava boa parte de quase todos os meus dias nela. Ainda estava cursando o supletivo e atualizando softwares e programas para os clientes que Noah tinha arranjado para mim, então, unindo o útil ao agradável, fazia tudo isso - desde as aulas online e os serviços de técnico de informática - no meu lugar preferido, tomando meus cafés preferidos.

Todos os atendentes dali já me conheciam e, como consequência, sabiam dos meus sabores favoritos. Então, assim que eu chegava à cafeteria, eles tentavam acertar qual seria o café da vez. Muitas das vezes acertavam, o que me fazia pensar que talvez eu fosse previsível.

Não havia maneira melhor de tentar espairecer enquanto fazia as minhas obrigações. Era bom tirar os olhos da tela do notebook por alguns momentos e ver pessoas diferentes todos os dias, vivendo vidas tão distintas, dentro daquela cafeteria. Eu presenciava desde homens de terno revoltados ao celular, até casais que romantizavam um frappuccino, tomando-o com dois canudos, enquanto se olhavam profundamente.

Já eu, era o cara que estaria sempre sentado na mesa do centro, ao fundo da cafeteria, com assentos estofados, como um sofá. Eu, definitivamente, amava aquele meu cantinho.

Eram raras as vezes que Noah e Rafa iam me ver no meu "refúgio", mas quando isso acontecia, eu simplesmente amava. Sempre nos divertíamos e sorríamos muito, totalmente o contrário de como eu estava me sentindo naquele momento, encarando aquele homem que se aproximava do balcão para fazer seu pedido. Minhas mãos suavam frio e meu rosto, provavelmente, estava pálido. Não queria que ele me visse ali. Na verdade, não queria que ele me visse nunca mais. Não fazia questão alguma.

Procurei por um cardápio para esconder meu rosto atrás dele, mas tudo o que a cafeteria oferecia era um QR Code colado na mesa, que direcionava o navegador do celular para o cardápio digital.

- Merda - sussurrei para mim mesmo e fechei o notebook.

Precisava sair de mansinho. Não queria ser visto por ele nem morto, mas o universo conspirou contra mim assim que me levantei devagar. Christopher, um dos atendentes do dia, gritou meu nome, estendendo o copo de café na minha direção e eu gelei.

Meus olhos rolaram do copo na mão de Christopher para aquele que eu estava evitando e, em um movimento, seus olhos intensos estavam sobre mim. Petrifiquei. Senti o notebook quase cair da minha mão quando recebi seu sorriso malicioso. Aquilo não poderia estar acontecendo.

INTERROMPIDO - Spin-off de CORROMPIDOWhere stories live. Discover now