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EVANGELINE

DUAS semanas se passam.
Juliette quebrou o chão de concreto ontem, eu ainda não sabia o que isso significava.

Eu e Kishimoto estávamos deitados na cama quando de repente um alarme está martelando através das paredes. O quarto dispara um sinal sonoro barulhento e Kishimoto endurece, recua; seu rosto entra em colapso.

- Este é um "código sete". Todos os soldados devem se apresentar ao Quadrante imediatamente. Este é um "código sete". Todos os soldados devem se apresentar ao Quadrante imediatamente. Este é um "código sete". Todos os soldados devem se apresentar ao Quadra...

Kishimoto está de pé e me puxando para cima e a voz ainda está gritando ordens por meio de um sistema de alto-falantes instalado no edifício.

- Houve uma violação - diz ele, sua voz quebrada e em sopro, seus olhos lançando-se entre mim e a porta. - Jesus, não posso simplesmente deixá-la aqui...

- Vá... - digo a ele. - Você tem de ir... ficarei bem...

Passos retumbam pelos corredores e os soldados gritam tão alto uns com os outros que posso ouvi-los através das paredes.

- Mas--

- Kishimoto. - interrompi - Você tem um trabalho, droga. E eu preciso encontrar meu primo e Juliette. Eu fui treinada com Warner, sei me virar, acredite em mim.

Kishimoto me olhou uma última vez, então ele me puxou pela cintura e me deu um beijo no topo da cabeça.

- Se cuide.

Assim que ele saiu do quarto eu peguei uma arma que eu tinha escondida no fundo falso do armário e sai do quarto, soldados andavam por todos os lados e supus que Aaron estaria no quarto de Juliette, então fui pra lá. Corri o mais rápido que pude, evitando trombar com soldados e empregados do setor 45.
Ao chegar no quarto de Juliette, assim que abri a porta escutei o barulho de vidro se estilhaçando e o barulho de milhões de alarmes soaram, fazendo minha cabeça girar. No chão do quarto, perto da janela com o vidro quebrado, estava Aaron, sua testa estava sangrando e eu não demoro muito tempo para assimilar o que tinha acabado de acontecer.

Juliette fugira.

***

Analisei o livro em minhas mãos, 1984.
Depois do fiasco de hoje de manhã, Aaron ficou bem ocupado. Ele cuidou do machucado e agora está juntando soldados para ir atrás de Juliette, que por acaso fugiu com o soldado Kent, por quem estava apaixonada.
Como eu disse, a vida nunca para de nos surpreender.

Abri o livro. Juliette tinha deixado uma carta para mim, eu não sei onde ela arranjou lápis e papel, provavelmente com Kent, mas estava feliz por ela ter me considerado o suficiente para não sair sem mais nem menos. Aaron não sabia da carta, e eu não iria contar, ele estava instável demais, obcecado demais pelo poder de Juliette.
Eu sabia que ele queria estudar os poderes dela para ajudar tia Leila, só que isso estava indo longe demais, ele estava aterrorizando a pobre garota.

Soltei um suspiro, eu poderia pensar nisso depois. Abri a carta de Juliette, analisando sua caligrafia para decorá-la, e comecei a ler.

"Cara Evie,
Sinto muito por deixá-la aí, se eu pudesse, te tiraria desse inferno e te levaria comigo. Não sei se você vai chegar a receber essa carta, mas espero que receba.
Você foi uma ótima companhia, a luz na escuridão, uma amiga, quem sabe em uma outra vida nós possamos continuar nossa amizade. Sei que não gosta de besteira sentimental então não vou me estender.
Com amor,
Juliette."

Respirei fundo, processando o conteúdo da carta. Juliette realmente me considerava uma amiga, eu não tinha uma amiga de verdade desde Nazeera.
Ah... Nazeera, eu sentia falta dela. Sentia muita falta.

Coisas assim me faziam pensar na minha vida, não fazia sentido Anderson me manter por perto, eu era apenas sobrinha da esposa que ele nem gostava. Eu não era parecida com Aaron, o que não fazia sentido, e nunca achei nada semelhante entre mim e tia Leila, por mais que eu gostasse daquela mulher não achava similaridade em nossas aparências.
Suspirei, rolando na cama. Minha cabeça estava à um milhão por hora.

Warner tinha sumido, eu não o via desde que Juliette fugira. Estava revistando todos os soldados, em busca de alguém que soubesse do paradeiro de Juliette e Kent.
Eu sentia falta dele, então resolvi levantar a bunda da cama e sair do quarto.

Eu estava prestes a tocar na porta do escritório de quando escutei uma voz familiar, então coloquei a orelha perto da porta para poder escutar melhor.

- Eu juro que não sei de nada, cara! - disse Kishimoto.

- Quanto mais rápido você falar, melhor vai ser para você. - escuto a voz de Aaron.

Um barulho diferente, parecido com de soco, soa pela porta.
Meus joelhos ficam fracos e meu estômago embrulha, o que eles estavam fazendo com Kishimoto? Eu precisava tirá-lo de lá.

Peguei meu telefone e mandei uma mensagem para Warner, sabendo que ele iria até meu quarto imediatamente se fosse uma emergência.
Dito e feito, me escondi enquanto ele saía de seu escritório seguido de dois guardas em direção ao meu quarto e assim que eles sumiram de vista eu peguei a chave reserva escondida no batente da porta e abri.

Lá dentro estava Kishimoto. Ele estava de joelhos, suas mãos amarradas nas costas e cabelo pingando de suor, seu rosto estava todo machucado. Seu olhar se encontrou com o meu, cheio de dor e fúria.

- Você sabia disso?

- Não! - prometi, me aproximando dele rapidamente para libertá-lo da corda - Claro que não, eu acabei de chega, vim falar com Aaron quando escutei sua voz.

Kishimoto franziu o cenho.

- É impossível escutar por aquela porta, ela é muito grossa.

Dei de ombros, desfazendo o último nó.

- Sempre tive boa audição.

Kishimoto massageou os punhos e se levantou.

- Vamos te tirar daqui. - falei.

- Venha comigo. - ele chamou - Eles vão te matar se descobrirem o que fez.

Eu duvidava que Aaroon deixasse que seus soldados encostassem um dedo em mim, mas ao ver o estado em que Kishimoto estava, eu me perguntei até onde meu primo iria. Nada me segurava naquele lugar além de Aaron, e eu precisava garantir que Kishimoto chegaria onde quer que ele tivesse em mente vivo.

Talvez uma aventura seria interessante.

- Certo, para onde vamos?

Kishimoto deu um sorriso, um sorriso tão sinistro que quase me fez arrepender do que eu estava fazendo.

Bad Word [Kenji Kishimoto]Where stories live. Discover now