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26.

EVANGELINE

ESTOU na enfermaria há muito tempo, não sei quanto. Me localizo sentada numa cadeira ao lado da maca do leito de Kenji, ele ainda não tinha acordado.
Passo as mãos pelo meu cabelo, cansada e preocupada. Eu achei que as coisas aqui no Ponto Ômega seriam mais fáceis, mas tudo estava uma bagunça o tempo todo.

Era a guerra, afinal.

Não precisamos fazer nada, nada para morrer.
Podemos nos esconder em um armário embaixo da escada pela vida toda e ela ainda assim vai nos encontrar. A morte aparecerá usando uma capa invisível e sacudirá uma varinha mágica e nos varrerá para longe quando menos esperarmos. Apagará todos os traços da nossa existência nesta Terra e fará todo o trabalho de graça. Não pedirá nada em troca. Fará uma reverência em nosso funeral e aceitará os louvores por um trabalho bem feito e, depois, desaparecerá.
Viver é mais complexo. Tem uma coisa que sempre precisamos fazer.
Respirar.
Inspirar e expirar, todo santo dia, a toda hora, minuto e momento devemos respirar. Mesmo enquanto planejamos asfixiar nossas esperanças e nossos sonhos, ainda assim respiramos. Mesmo enquanto murchamos e vendemos nossa dignidade para o homem da esquina, nós respiramos. Respiramos quando estamos errados, respiramos quando estamos certos, respiramos mesmo quando escorregamos, cedo demais, para o túmulo. Não podemos não fazer.
Então, respiro.
Conto todos os degraus que subi em direção ao laço da forca pendurado no teto da minha existência e conto quantas vezes fui idiota e fico sem números.

Kenji quase morreu hoje.
E estou parada aqui. Olhando para ele.

Ele mal está respirando e estou implorando. Implorando a ele para fazer a única coisa que importa. A única coisa que importa. Preciso que ele se segure, mas ele não está ouvindo. Ele não pode me ouvir e preciso que ele fique bem. Preciso que ele sobreviva. Preciso que ele respire.
Preciso dele.

Castle não tinha muito mais a dizer.
Todos estavam parados em volta dele, alguns apertados dentro da ala médica, outros em pé do outro lado do vidro, observando em silêncio. Castle fez um pequeno discurso sobre como precisamos nos unir, como somos uma família e, se não tivermos uns aos outros, o que teremos então? Ele disse que estamos todos assustados, é claro, mas agora é a hora de apoiarmos uns aos outros.
Agora é a hora de nos juntarmos e nos defendermos. Agora é a hora, ele disse, de recuperarmos nosso mundo.

- Agora é a hora de vivermos - ele falou. - Adiaremos a partida amanhã apenas o suficiente para que todos tenham um último café da manhã juntos. Não podemos ir para a batalha divididos - ele comunicou. - Temos de ter fé em nós mesmos e uns nos outros. Tirem um tempo a mais pela manhã para ficarem em paz com vocês mesmos. Depois do café da manhã, partiremos. Como um só.

- E o Kenji? - James pergunta, sentado no meu colo.

Ele estava parado ali com os punhos cerrados, marcas de lágrimas em seu rosto, o lábio inferior tremendo enquanto lutava para esconder a dor em sua voz.
Meu coração se parte bem no meio.

- O que quer dizer? - Castle questionou.

- Ele lutará amanhã? - James quis saber, fungando as últimas lágrimas, com os punhos começando a tremer. - Ele quer lutar amanhã. Ele me disse que quer lutar amanhã.

Sinto minha garganta se fechando.
O rosto de Castle ganhou vincos ao se franzir. Ele demorou um pouco para responder.

- Eu... eu temo que Kenji não poderá ir conosco amanhã. Mas, talvez - ele disse - talvez você possa ficar e fazer companhia a ele?

James não respondeu. Ele apenas encarou Castle. Depois, encarou Kenji. Piscou várias vezes antes de subir na cama de Kenji. Encolheu-se ao lado dele e logo caiu no sono.
Todos viram isso como uma deixa para saírem.
Bem, todos menos eu, Juliette, Adam, Castle e as meninas. Acho interessante todos se referirem a Sonya e Sara como "as meninas", como se fossem as únicas meninas do lugar todo. Não são. Nem sei como elas ganharam esse apelido e, embora uma parte de mim queira saber, outra parte está exausta demais para perguntar.
Enrolo-me em meu assento e olho para Kenji, que está lutando para inspirar e expirar. Apoio a cabeça sobre o punho, enfrentando o sono que está se tecendo na minha consciência. Não mereço dormir. Eu deveria ficar aqui a noite inteira e cuidar dele. E eu ficaria, se pudesse tocar nele sem destruir sua vida.

Bad Word [Kenji Kishimoto]Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin