Iceberg

3.5K 305 270
                                    

Carolyna POV

Se alguém me perguntar hoje, três dias depois da Priscila ter descoberto que eu a traía, como eu me sinto, eu direi sem dúvida que estou me sentindo um lixo.
Mas eu sei que ninguém além da Malu irá
perguntar, afinal, ninguém mais parece se
importar com o que estou sentindo. Minha
mãe até me ligou ontem, para saber como as coisas estavam indo, mas eu senti, pela sua voz, que ela estava decepcionada, e isso só piorou minha situação. De resto eu não falei com mais ninguém, nem mesmo Clara e Wini. Sabia que tia Adriana ainda estava brava, mas ela dava a entender que era por culpa dela própria, que, segundo ela, não impedira a estupidez desse casamento. Mas eu sabia que no fundo ela também me culpava, por ter me envolvido com Priscila enquanto mantinha um caso com João.
Por falar nessa criatura, eu não o via desde
sábado, e agradecia por isso. Segundo Malu ela havia tido uma conversa com ele no domingo, e se ele tivesse um pouco de juízo não apareceria tão cedo. Por essas e outras é que eu amo essa garota. Ela está sempre ali para me defender, mesmo que eu seja cabeça-dura e brigue com ela por isso.

O que mais tem me preocupado no momento, no entanto, é a minha relação com Priscila. Desde o sábado ela se transformou em um verdadeiro iceberg, e mal olha para a minha cara. Muito menos fala comigo. Ontem ela nem mesmo havia voltado para casa, não antes de eu dormir pelo menos, e nem ao menos avisara se acontecera alguma coisa. E esse é o verdadeiro motivo para eu estar me
sentindo um lixo. Tudo o que eu quero é o perdão dela, mas por enquanto, tudo o que consigo fazer é chorar pelo desprezo dela. Nunca antes eu tinha pensado que havia chego ao fundo do poço, mas agora, era esse o pensamento que rondava minha cabeça.
Eu desci para tomar o meu café da manhã,
encontrando, como sempre, Liz e Priscila já na cozinha.

- Bom dia. - Falei, mesmo sabendo que Priscila não me responderia e Liz usaria aquela formalidade anormal na nossa relação, mas que ela vinha adotando desde ontem, e que eu confesso, me machucava profundamente, já que ela, desde que eu era criança, foi minha amiga e confidente.

Eu me sentei e comecei a servir meu café, no entanto parei logo depois ao ouvir passos na escada. Quem mais estava aqui?
A resposta eu tive instantes depois, quando
Priscila ergueu a cabeça sorrindo e olhou em direção à escada. Eu segui seu olhar, e meu coração parou por alguns instantes. Afinal, a pessoa descendo a escada era ninguém mais, ninguém menos que Mariana.

Ela dormiu aqui? Dormiu com a Priscila? Não, não é possível. Por mais irritada que Priscila estivesse ela não traria ninguém aqui para dentro de casa. Ou traria?

- Bom dia. - Falou ela timidamente.

- Bom dia. - Respondeu Liz.

- Bom dia, Marinana. - Priscila falou. - Senta
para tomar o café.

A garota se sentou e Priscila passou a garrafa de café para ela, continuando a conversar como se eu não estivesse ali:

- Conseguiu descansar? - Perguntou. - Foi
uma noite longa. Eu não devia ter exigido
tanto de você.

Meu coração deu uma fisgada no meu peito. Elas tinham mesmo transado? E a Priscila queria me castigar a tal ponto de falar sobre isso na minha frente?

- É claro que descansei. – Mariana respondeu. - E não se culpe, eu fiquei porque quis. Você não tinha uma arma apontada para a minha cabeça.

As duas riram.

- Mesmo assim. - Continuou Priscila. - Isso não faz parte das suas atribuições.

Meu coração deu outra fisgada.

- Eu sou sua secretária. Minha atribuição é te ajudar, mesmo que a atividade em questão não faça parte diretamente das minhas funções.

Priscila terminou o seu café e falou:

The Few Things - Capri Onde histórias criam vida. Descubra agora