XVII | Olho

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"Michael", a voz de Hannah me desperta, quando estou já aos seis meses e meio. Indo para os sete.

Sinto o cheiro antes mesmo de me sentar no colchão. Minha virilha está toda molhada, mas não é água nem gozo e muito menos lubrificação.

É sangue.

Entro em pânico. Hannah está segurando meus ombros porque estou tonto, minha cabeça, o quarto inteiro girando, o mundo inteiro oscilando ao meu redor. Vejo Mildred chegando com uma bacia de água morna e toalhas, Cas correndo logo atrás, vestindo uma camisa ao entrar no quarto, colocando sapatos... Não sei o que está acontecendo.

"A van está chegando", Cas diz, enquanto Hannah tenta me manter acordado, chamando por mim. "Michael...", ele se aproxima, mas estou tocando minha virilha nua completamente suja do sangue que está saindo de mim.

Estou perdendo o filhote?

"Cas...", tento dizer qualquer coisa, mas Cas passa uma camisa pelo meu ombro, enrolando o lençol na minha cintura nua com a ajuda de Hannah e então me colocando nos braços.

"Segure a cabeça dele", Mildred sibila para a senhora Novak, que, ficando ao lado de Cas, o ajuda, meu corpo erguido no ar por ele, e a mão dela mantendo minha cabeça tonta longe das paredes. "Senhora Novak, os remédios..."

"Não se preocupe, Mildred", Hannah responde, mas sua voz está ecoando. "Cas chamou a van vermelha, nós vamos levá-lo ao médico. Ele vai ficar bem"

Enxergo o teto o tempo inteiro, sentindo Cas me puxar para mais perto, porque sou grande e pesado demais, mas ele aguenta. A mão de Hannah está na minha nuca, sustentando meu pescoço. Encosto o rosto no peito de Cas e tento sentir qualquer odor além de sangue, mas falho.

As últimas semanas, depois da viagem de Cas ao Canadá, foram difíceis. Enjoos demais, tontura demais, dores demais.

Há algo errado com o filhote.

"Michael...", ouço a voz rasgada dele me chamar. "Michael, fique comigo, fique comigo..."

Não consigo. Não consigo me manter acordado. Tudo se torna turvo. Tudo se torna escuro.

Leva muito, muito tempo.

É como estar induzido ao coma, sabe. Eu sei que estou dormindo, e não estou sonhando, mas não consigo acordar. Me sinto fraco, zonzo, não consigo abrir os olhos. Ouço ecos do que parecem vozes, passos, barulhos de estática, e sei que devo estar no hospital.

Mas o calor dele está aqui. Sem dúvida está aqui. Ele nunca sai de perto de mim.

A sensação é de.... oco. Para todos os lados, os sons e sensações trazem um intenso vazio. Fico com frio às vezes, e às vezes me sinto febril, suando estranho, como se tudo estivesse entrando em colapso dentro de mim.

Tento ocupar meus pensamentos com qualquer coisa que seja, mas nada consegue me distrair. Só tenho que não surtar, então. Manter a calma. Só estou fraco, logo vou me recuperar.

Não sei quanto tempo se passa até que eu consiga abrir os olhos. Eles pesam. Tudo pesa. Tudo dói. Meus ossos parecem feitos de geleia. Minha mente está vazia e dolorida, uma dor de cabeça terrível, um peso infinito.

Sinto os aparelhos ligados a mim, uma máscara de oxigênio no meu rosto, eletrodos, medicação intravenosa. O odor de sangue se foi, mas, apesar disso, estou muito fraco. Sinto minha pressão baixa demais e meus nervos trabalhando devagar.

"Ei", o sussurro da voz de Hannah me desperta um pouco mais. Ela está ao meu lado na cama do leito, de pé, alisando meus cabelos. "O filhote está bem, foi só um susto"

the omega's tale [destiel fanfic]Where stories live. Discover now