XXIV | retorno

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Quando a van para diante da mansão dos Novak duas semanas depois, eu já me sinto bem melhor. Segurei Jack quase vinte e quatro horas por dia, e nós dois mudamos juntos, melhoramos. Nós dois engordamos e ficamos saudáveis outra vez. Os vestígios do parto violento são apenas uma memória ruim agora, com algumas cicatrizes para testificar.

A pele dele é rosadinha, e as bochechas são fofas. Ele gosta quando o deixo brincar com meu dedo, e sempre ri quando fico fazendo graça pra ele. Os olhos dele são verdes como os de Mary, e como os meus. A risada dele é o som mais lindo já produzido pela natureza.

Acho que, com Jack, meus instintos estão totalmente alterados. Eu tenho um filho. Sou pai de um filhote saudável. Eu, que nunca me importei com a minha própria vida, posso gerar vida.

Eu me pergunto o que eu não faria por ele, e percebo que não há nada que não faria. Eu me pergunto como eu me sentiria se ele me rejeitasse, e dói só de imaginar. 

Eu me pergunto se ele saberá quem eu sou quando estiver maior. Se se lembrará do meu cheiro. Ou se simplesmente se esquecerá de mim.

Tento não pensar na dor, porém. A dor de perder sua família é algo que eu conheço de perto. 

Sim, eu estou de volta. Mas tudo é diferente agora. Eu poderia estar mais confuso quanto minha identidade? Certamente não.

Eu fui o Dean de antes, um bom e sonhador ômega.

Eu fui Michael, um rabugento e sutilmente rebelde lacaio.

Eu fui OfCas, o ômega que se entregou ao seu senhor de corpo e alma quando era o que eu menos deveria ter feito, que amou seu senhor e foi amado por ele quando não deveria nem ter deixado que isso começasse.

E eu fui Dean novamente, parindo e lacerando minha carne no meio do nada para ter meu filhote, para lhe dar a chance de viver.

Quem eu sou agora? Não faço a mínima ideia.

Recuso a ajuda do Olho ao descer da van, pois só está sendo gentil porque pari um filhote saudável e sou algum tipo de deus aprisionado para eles. Me respeitam, mas me mantém sob correntes. A mansão dos Novak me parece diferente demais agora. É como se tivessem sido anos longe. É estranho.

Mas algo que me parece familiar é o cheiro dele. Fragmentado. Frágil. Ferido. O cheiro do meu alfa. Eu soube que Jack foi levado até os dois na recepção esta manhã, e também soube que o senhor Novak ficou mais do que feliz por eu estar retornando, mas o que isso realmente importa agora?

Nada. Porque depois disso não há um final feliz.

Cas está frágil, o que incomoda naturalmente meu ômega interior. Eu quero confortá-lo e deixa-lo melhor. Acaricia-lo. Cuidar dele. Mas, quando o vejo na entrada da mansão, ao lado de Hannah e Mildred, tudo que posso fazer é baixar os olhos sob a aba maior do uniforme de lacaio e unir as mãos diante do corpo, na postura submissa que nos é imposta.

Não sei o que aconteceu com o Dean-dos-palavrões agora. Ele se foi.

"Bendito seja o fruto...", a voz de Hannah sai dura e rígida.

Ela visitou Jack nas últimas duas semanas. Ele era levado por Kevin até ela e depois Kevin o trazia de volta, coberto do cheiro dela. Mas ainda assim, Jack não a escolheu. Então, ela impor seu domínio e posse sobre ele não adianta de muita coisa. Me pergunto onde Jack está, e meus olhos naturalmente percorrem a mansão, pensando em onde Hannah montou o quarto do seu teórico-porém-não-prático filhote.

"... que possa o Senhor abrir", é o que devo responder aos meus senhores agora que lhes dei um filhote. Em tese.

"Está tudo sob controle, senhor Novak?", o Olho pergunta a Cas, que, fora do campo de visão que a aba me impõe, está com uma respiração controlada pela boca, e com um cheiro áspero de decadência.

the omega's tale [destiel fanfic]Where stories live. Discover now