Era uma vez na Romênia

Capítulo 19

POV JENNA

Caso você esteja se perguntando, a resposta é sim! Sim, eu me arrependi no momento que entrei naquele carro e a deixei na calçada perto do pub, meu coração parecia diminuir à medida que nos distanciávamos, mas eu estava com tanta raiva, raiva daquela mulher, raiva da situação, raiva por ter tido minha noite estragada, raiva por saber que uma completa estranha sabia onde minha namorada morava, raiva por... Argh... respirei fundo e passei a mão no rosto. Talvez o meu pai tenha razão, eu sou a mais cabeça dura dos Ortega.

Eu já não tinha nenhum sinal de cansaço quando cheguei ao meu apartamento, muito pelo contrário, me sentia elétrica e minha cabeça começava a formar cenários que claramente eram fictícios, mas mesmo assim me incomodavam. Então eu decidi fazer o que faço de melhor: me afundar no trabalho.

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Tive exatos dois dias para criar a coreografia, na noite em que voltei do pub afastei o sofá e a mesa de centro, me dando mais espaço na sala. Peguei um caderno, uma caneta e meu computador, sentei no chão e comecei a colocar todas as ideias que vinham em minha cabeça. Eu não tenho ideia de como Wandinha dançaria, lembro de ter visto alguma cena da Lisa Loring quando criança no papel de Wednesday na série da família Addams, joguei a referência no Youtube e cliquei no primeiro vídeo, ela deslizava de um lado para o outro e movia os braços, talvez eu consiga fazer isso. Levantei e tentei reproduzir, me observava pelo reflexo da tv desligada diante de mim. Definitivamente precisamos melhorar, e acho que isso não vai ser tão simples como Tim Burton pensou.

O dia seguinte foi a mesma coisa, gravação e tentativa de criar uma coreografia, mas dessa vez as coisas já pareciam mais claras na minha cabeça. Eu tentava reproduzir danças de vídeos de péssima qualidade de reportagens sobre jovens dos anos 80 em baladas punks. Até que consegui criar uma sequência que parecia plausível na minha cabeça.

Ontem recebi uma mensagem da Emma, não nos falamos direito na gravação, na verdade quase não nos vimos.

"Eu quero conversar com você. Posso ir aí?"

Peguei o celular enquanto estava no meio da sala. Sim, a gente precisava conversar, e sim, eu precisava pedir desculpas, mas eu não conseguiria fazer isso agora.

"Eu estou ensaiando, a gravação do Rave'n é depois de amanhã"

"Quando você tiver um tempinho pra mim, você me avisa então"

Li a sua resposta e respirei fundo, deixando o celular de lado. Eu não iria argumentar sobre isso. No dia seguinte eu tive a prova do vestido e algumas cenas, Emma passou por mim conversando com Johnna e simplesmente não olhou na minha cara. Fui liberada um pouco mais cedo do que de costume, então eu tinha algumas horas a mais para ensaiar, e é isso que estou fazendo desde o momento que cheguei.

Já passava de meia noite quando tomei um copo de leite de amêndoas e comi alguns cookies de chocolate. Eu estava ansiosa e para ser bem sincera, eu também estava exausta.

Decidi passar a rotina de dança mais uma vez, mas assim que baixei meu corpo e levantei novamente com os braços pra cima, senti tudo ao meu redor girar.

- Merda – sentei no sofá e apertei os olhos.

Um calafrio me subiu a espinha e fez meu corpo todo arrepiar, arrepiar tanto que o contato do tecido da minha roupa na minha pele incomodava. O ambiente pareceu ficar mais frio, e mesmo com uma blusa de mangas compridas e calça de moletom, eu senti meu queixo bater. Olhei no relógio na parede e já era quase três da manhã. Talvez fosse cansaço, exaustão. Fui até o aquecedor e a temperatura estava normal, mas nada explicava aquele frio absurdo.

Desliguei o computador e tirei tudo do chão da sala, escovei meus dentes, mas cada minuto que passava eu me sentia pior, com mais frio e o corpo mais dolorido. Eu não estou bem. Cheguei no quarto com uma certa dificuldade, deitei na cama e parecia que meu corpo havia sido atropelado por um trator. Uma pontada no meio da minha cabeça fez irradiar uma dor absurda que me fez fechar os olhos.