11 • Ela não mentiria para mim.

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14 de dezembro
Barcelona, Espanha.

ANA

6:45h

Hoje muitas portas vão ser fechadas e muitas perguntas vão ser respondidas. Chegou o dia em que todas as dúvidas serão esclarecidas e eu tirarei um peso enorme das minhas costas: o peso da mentira. E junto as consequências, e como for, eu espero saber aceitá-las. Eu poderia ter contado ao Gavi sobre a inflamação, mas eu não fiz. Eu poderia ter aceitado o tratamento do La Masia, mas eu também não fiz. Eu poderia ter desistido, mas eu não desisti. E mesmo que o final não tenha saído como o planejado, eu não posso simplesmente colocar a culpa no destino, eu poderia dizer que "o universo não conspirou ao meu favor" e eu estaria justificando uma mentira com outra. Porque o universo não escolheu por mim e portanto, ele não tem qualquer culpa sobre isso.

Da mesma forma, não devo esperar que as pessoas me entendam em um momento como esse, em um momento onde verdades serão lançadas ao ar por meio de um diagnóstico. E isso eu aprendi na faculdade: Nunca vão entender que a medicina não é feita apenas de força de vontade. E parece irônico vindo de mim, eu sei. Logo eu, que corri contra o tempo para conseguir o tratamento do hospital escola, estudando e trabalhando muito mais que o combinado. E é por isso que digo, a medicina não é feita apenas de força de vontade. Porque por mais que eu tenha feito o possível e o impossível, não foi o suficiente. Depois que o diagnóstico for dado, podem olhar e dizer: "você não fez porque você não queria de verdade". Mas fala sério! Que médica não quer curar seu paciente? Que treinador não quer escalar o seu melhor jogador? Que jogador não quer ganhar o campeonato? As pessoas realmente não fazem porque não querem?

"Não querer" é muito raso. "Não ter o universo ao meu favor" é muito compreensivo. Eu posso agora, estar aqui nessa sala, esperando que o Pablo entre por aquela porta para enfim diagnosticá-lo, sem ter certeza de nada, mas eu farei sendo a Ana que está a 3 anos estudando para isso, para não ser compreendida. Eu fiz o que eu podia, Miquel fez o que podia, e seja lá como o Gavi irá reagir, ele também, fará o que pode. Mesmo que tudo que ele possa fazer, é não me perdoar pela mentira, por mais que a reação do Gavi não seja a que eu gostaria que ele tivesse: as pessoas fazem aquilo que elas dão conta de fazer.

E pode parecer que estou tranquila com o que está prestes a suceder. Mas eu não estou - nem um pouco - eu só estou triste, com medo e diria que confortada. É difícil que a situação mude ou que o tratamento do La Masia seja mais rápido que o esperado. Eu sei que isso não vai acontecer.

Respirei fundo escutando a porta abrir. Era Frederico. Ele se aproxima de mim com um copo de água nas mãos.

- Toma um pouco de água. - me entrega um dos copos e se senta ao meu lado - Eu vi vocês juntos no close friends dele. - sorrio - Eu sinto muito por não terem aceitado. - o abracei de lado, não queria falar, só queria que a reunião acabasse logo - Miquel que vai fazer a reunião, fica tranquila você não vai precisar falar.

E eu acho que nem conseguiria. Sabe quando você sente que se abrir a boca vai chorar? Então, eu me sinto assim.

- Que bom. - comemoro.

- Eu vou lá buscar as fichas que estão faltando, eles já devem estar subindo. - Fred me explica e sai com pressa.

O La Masia está movimentado como nunca. Olhei pela janela os garotos no campo, conhecendo os novos treinos focados especialmente para a final do campeonato espanhol. A sala de entrevistas está se enchendo de jornalistas que daqui a pouco saberão a tão esperada convocação e os culers ansiosos pela postagem no Instagram, já que amanhã faltará apenas um mês para a final.

Desejo de Amor - Pablo Gavi. Onde histórias criam vida. Descubra agora