21|Bohemian Rhapsody

254 32 75
                                    

𝑴𝒂𝒎𝒂̃𝒆!
𝑬𝒖 𝒏𝒂̃𝒐 𝒒𝒖𝒆𝒓𝒐 𝒎𝒐𝒓𝒓𝒆𝒓
𝑨̀𝒔 𝒗𝒆𝒛𝒆𝒔 𝒅𝒆𝒔𝒆𝒋𝒐 𝒒𝒖𝒆 𝒆𝒖 𝒏𝒖𝒏𝒄𝒂 𝒕𝒊𝒗𝒆𝒔𝒔𝒆 𝒏𝒂𝒔𝒄𝒊𝒅𝒐...


__♡__


Minha mãe ficou me olhando. Ela esperou para falar como se, naquele instante, lutasse para encontrar as palavras certas.

― Paul conhece você desde que você era uma garotinha, por que ele te olharia com outros olhos?

― Mãe... foi por isso que eu mudei o modo de me vestir. Você lembra? Eu costumava me vestir diferente, com roupas mais curtas e menos coloridas. Por que você acha que ele me deu as lentes de contato? Ele disse que eu ficava muito mais bonita com elas. Que ele gostava assim.

― Agora você está passando dos limites. Paul jamais faria algo com você. Desse jeito, jamais.

Comecei a chorar novamente.

― Mesmo assim você vai defendê-lo? ― Balancei a cabeça, apertando a lateral do meu corpo. ― Mesmo eu dizendo que ele é um monstro?

― Ele não é um monstro! ― ela urrou. ― Ele não é um monstro. Esse monstro... isso tudo que você está dizendo, está aí... ― Ela apontou o dedo várias vezes na minha cabeça, batendo como se seu dedo fosse enfiar algum juízo no meu cérebro ― ... na sua mente.

― Para...! ― Comecei a apertar a cabeça com as mãos enquanto chorava, minha garganta doendo.

― Sabe o que você está fazendo...? ― O rosto dela se fechou como um punho, seus olhos sombrios enquanto segurava as lágrimas. ― Ele fez tudo por você: te criou, pagou seus estudos... foi o que o seu pai nunca foi. Você acha justo tudo isso que está dizendo?

Um soluço escapou da minha garganta.

― O Paul.... Ele nunca gostou de mim porque eu me protegia dele, protegia o meu corpo. Você não entende isso? Ele sempre teve uma relação estranha comigo...

― Por sua culpa. ― O rosto da minha mãe se contorceu em uma expressão de desprezo. ― A culpa é toda sua! Quando você era pequena você era boa, alegre, uma criança gentil. Aí você cresceu, ficou assim! Você vivia arrumando motivos para brigar com ele... Ele tentava te abraçar, ele tentava falar com você, e você fugia dele.

― Porque eu tinha medo dele! ― gritei. ― Tinha medo que ele abusasse de mim. Ele era bom, no Brasil, mas depois que você se casou com ele... depois que cresci... ele batia na minha bunda pra eu sair da frente da tv, tocava... meu corpo em qualquer mínima oportunidade que tinha.

Ela me encarou, inconformada, balançava a cabeça.

― Tem alguma coisa errada com você, filha.

Fechei os olhos, apertando os ouvidos com as mãos, minha cabeça latejando de raiva e dor. De sensação de abandono. Subi na cama, em posição fetal.

Minha mãe continuava falando, mas eu não estava ouvindo mais. Olhava ao redor e não conseguia enxergar uma solução para minha vida. Era como se eu não devesse existir, como se as paredes estivessem se fechando contra mim, se aproximando cada vez mais. Deus, me faça morrer. Deus...

― Tudo isso que está dizendo do Paul é muito injusto.

Engoli seco, balançando a cabeça.

― Injusto é o que você está fazendo comigo. ― Enxuguei uma lágrima. ― Eu demorei tanto tempo pra contar pra você, pra proteger o seu casamento... e você fica do lado dele. Que espécie de mãe você é?

Em Nome do Amor  ✔(Concluída)Where stories live. Discover now