58- Calmaria antes da tempestade

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Kanya abriu os olhos devagar, estava sonolenta ainda, se mexeu na cama estranha para ela, o quarto grande. Olhou ao redor se lembrando que não estava na própria casa, ao voltar noite passada Bean insistiu em que ela ficasse com ele mais uma noite, não fizeram mais nada, apenas dormiram um abraçado ao outro.

Ela não conseguia administrar tudo aquilo e talvez Bean também não conseguisse, talvez se eles fossem cada um para suas casas aquela magia terminaria e tudo voltaria a ser como antes. Ela não queria pensar assim, mas o medo era grande. Sabia agora que tipo de pessoa Bean era e que negócios ele tinha, e isso era motivo suficiente pra alguém como ela não se envolver tanto assim. Mas estava totalmente envolvida.

Se espreguiçou na cama ainda, e logo olhou para o braço, já não estava mais com a mesma faixa do dia anterior, quem teria feito um novo curativo? Bean? Só estavam ela e Bean ali, e alguns subordinados. Kanya sorriu.

Queria saber onde ele tinha ido pra lhe agradecer por estar sendo gentil.  Imagina que é difícil pra ele expressar gentileza, sabe que no dia a dia é um homem que vive para os seus negócios e é objetivo em tudo. Apesar de saber que é dócil principalmente com quem trabalha com ele. Mas já viu como ele fica quando o mostro toma conta do seu coração. Não quer nunca mais despertar a ira dele.

Seu telefone está na cabeceira e não para de vibrar. Não é o alarme,  parece mensagens.
Pega o aparelho e se senta na cama de Bean

Achou que tudo finalmente ficaria bem, que esse era o começo de uma nova fase na sua vida. Que agora tinha a oportunidade de finalmente se desvencilhar do passado. Mas não,  aquelas mensagens provam que não.

É sua mãe.

" Prem responda a mamãe, estou muito preocupada "

"Filho a mãe não teve culpa do que aconteceu, me perdoe, me diga se está bem?"

"Seu pai está bebendo mais a cada dia, estou muito preocupada com isso"

Mas a última mensagem foi oque quebrou kanya de vez.

"Filho, a mãe deseja sua felicidade, seja como homem ou como mulher, sabe que é difícil para mim aceitar. Mas aos poucos posso entender. Se alguma coisa acontecer com a mamãe e não tivermos mais a chance de falar, só queria que soubesse. Kanya a mamãe te ama."

Ela sentiu o rosto quente e as lágrimas se formando nos olhos, mas não ia mais chorar. Sabia do que se tratava as mensagens da mãe. Seu pai devia estar sendo violento com ela.

A mãe estava com medo de algo pior lhe acontecer. Kanya sabia que era por sua causa, por que o pai descobriu que elas se falavam e encontravam secretamente esses anos todos.

O que tinha que fazer era o mesmo que fez ao tomar coragem e enfrentar Bean.
Mas com Bean era certo, um mafioso, uma bala na testa e tudo estaria acabado.

Mas com o pai era diferente, iria lá e ouviria muitos desaforos, seria humilhada, com certeza apanharia, e não tinha certeza se o pai ia parar como da última vez quando foi longe de mais.

Mas tinha que salvar sua mãe. Elas tinham parentes não muito distante, se conseguisse mandar a mãe para lá os parentes iriam proteger e cuidar dela, aquele lado da família nunca gostou de seu pai. O problema era tirar a mãe de casa. Não queria envolver a polícia. Pensou em contar para Bean, mas ele a aceitou como uma mulher, aquela era a vida dela como Prem. Não tinha certeza se ele queria saber sobre esse tipo de coisas também,  não podia arriscar deixá-lo bravo novamente.

Tinha que ser corajosa de novo, como Bean que fazia qualquer coisa por sua "família", matava ou morria. Mesmo que sua família fosse a própria máfia.  Mas conseguia comparar isso a mãe. Sua mãe agora tinha aceitado ele finalmente. Era a única da família que o aceitou.

Estava imersa nesses pensamentos quando um homem bonito e muito bem vestido entrou no quarto, ele caminhou até ela sorrindo e era como o sol, brilhava e aquecia sua vida aquela presença.
Bean se inclinou para ela na cama e a beijou nos lábios, kanya o envolveu pelo pescoço fazendo com que Bean sentasse a cama com ela, e não parou de beija-lo, calmamente a princípio e depois cada vez mais forte, até perder o fôlego, até machucar de leve os lábios de ambos.

-Ei, calma... - Ele se afastou devagar- Não que eu não goste assim, mas você não parece bem princesa...

Kanya não queria mentir pra ele, mas também não queria entrar em detalhes.

- Recebi mensagem da minha família, fiquei um pouco preocupada.
- O que tem de errado?
- Não precisa se preocupar, é um assunto antigo, coisa da minha família, eu posso lidar com isso.
- Certeza?
- Sim, vou resolver isso hoje ainda.
- Hoje tenho alguns negócios para resolver também. Você vai voltar pra mim aqui a noite?

Kanya imagina se o pai vai aceitar o diálogo ou vai partir pra agressão. Tem medo da segunda possibilidade lhe afastar de Bean para sempre...
Ela o abraça com força.

- Vou fazer de tudo pra voltar a te ver essa noite.
- Está me deixando preocupado, não está mentindo sobre nada dessa vez não é? Se eu ficar bravo novamente...

Bean não termina a frase. Mas isso faz ela sorrir feliz, por que o mesmo homem que a ameaça é o homem que acaricia suas costas levemente pra acalmá-la.

- Sem mentiras. Tem realmente um problema acontecendo lá com meus familiares, vou resolver e depois volto correndo pra você.

Bean não quer forçar Kanya a falar. Recebeu o relatório de seus subordinados enquanto estavam no resort, na noite em que foi andar no lago pra aliviar a mente de tudo que descobriu.

O nome verdadeiro dela, onde nasceu, estudou, trabalhou. O histórico médico, eram muitos. Sobre as agressões, um dos subordinados foi ao hospital que a atendeu a pouco tempo, o médico sinalizou a preocupação com a paciente de que o próprio pai tinha feito aquilo com ela.

Bean espera que essas coisas que ela precisa resolver em casa não envolvam seu pai.

- Se eu tiver qualquer contra tempo e não puder vir hj a noite, ainda teremos amanhã, depois e depois e depois.

Kanya sorri pra ele pra tentar aliviar a tensão.
Essa frase que diz, não sabe se vai ser verdade ou uma mentira. Tudo depende de como vão se desenrolar as coisas com seu pai.

Um lado seu sabe que ele nunca vai ceder. Outro lado seu reza pra ele ceder.

- Nunca uma mulher ficou tão linda na minha camisa antes.

Bean toca de leve a coxa nua dela. Kanya usou uma camisa dele para dormir. Mesmo ela não sendo pequena as camisas dele eram grandes para o seu corpo.

- Isso é coisa que se diga? Você já dormiu com tantas mulheres assim.?

Bean acaba rindo. Tem vontade de continuar subindo a mão até a bunda dela, mas se contém, tem alguns negócios urgentes pra resolver.

- Não precisa ter ciúmes, não posso prometer ser um homem bom, eu sou uma pessoa má . Mas posso prometer ser só seu.
- Essa promessa basta...

Kanya o puxa para um último beijo. Imaginando se vai mesmo ser o último ou se ainda vai poder desfrutar por muito tempo dessa felicidade e desse relacionamento improvável.

Depois dele sair, ela toma banho se troca e pega sua coisas para deixar no próprio apartamento. Logo no começo da tarde está a caminho da casa que achou que nunca mais iria ver na vida.

Uma mão aperta contra o peito com força.

"Bean eu vou voltar, tenho que conseguir voltar, espere por mim"

Nos pertencemos ( NUMBER 2 )Onde histórias criam vida. Descubra agora