Prólogo

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Caminho quase me arrastando pela avenida principal da cidade.

Não acredito que fui assaltada.

Estou a meia hora andando sem rumo, sem saber o que fazer ou decidir. Como se já não bastasse eu ter perdido meu emprego semana passada, agora estou correndo o risco de perder um teto para morar também, já que o dinheiro do aluguel se foi.

Avisto a padaria da dona Joelma e suspiro aliviada.

O único lugar onde sou recebida com carinho e respeito, pois nessa cidade pequena as pessoas só sabem julgar e destilar veneno em cima de mim.

Odeio ser conhecida e odeio saber que minha história de vida está na boca de todo mundo.

Marilu: a órfã.

Sério, se fossem fazer um filme meu tenho certeza que o  cinema lotava, pois o povo gosta de ver a desgraça alheia e minha vida toda só tem sido uma ladeira abaixo.

Abandonada, rejeitada, excluída e julgada.

Essa sou eu, muito prazer!

Abro a porta da padaria e entro com tudo, mas de repente eu tropeço e vou ao chão, abraçando o azulejo de mármore brilhoso e batendo meus dentes com força, fazendo meus ouvidos zumbirem como se tivessem sinos ecoando dentro deles.

- Jesus amado, Marilu! - Dona Joelma corre até mim - Você está bem? Se machucou?

Será que não seria melhor eu ficar no chão mesmo? Quem sabe assim eu sou sugada pelo piso e deixo de passar tantos perrengues e vergonha nessa vida cruel.

- Marilu? Está me ouvindo?

- Estou sim, dona Joelma - Me viro devagar e sento no chão, olhando para os meus pés e vendo o cabrecho da havaiana quebrada.

E é porque eu tinha colocado um prego antes para fazer ela tentar durar mais tempo.

A Mag que me ensinou esse truque, ela ficou uma semana no orfanato antes de ser adotada, tinha 12 anos e veio do Brasil, era uma menina linda e foi minha única amiga, bem que ela dizia que alegria de pobre dura pouco, aprendi muitos costumes  engraçados com ela. Foi ela que me deu a havaiana também, a bichinha já estava fininha, foi uma guerreira.

- Meu chinelo quebrou - Digo e dona Joelma me ajuda a levantar.

- Vem, eu vou te emprestar o meu.

Me sento em uma das mesas encostada na parede que estava vaga e espero ela voltar, já que entrou na portinha que dava nos fundos da padaria.

Sempre tinha o jornal do dia em cima da mesa, o marido da dona Joelma trabalhava com isso e ela fazia questão de distribuir nas mesas para alguns clientes que gostavam de ler as notícias pela manhã.

Pego o papel dobrado e abro na página de emprego, quem sabe ali eu não encontrava a minha esperança, mesmo ela já estando quase indo embora do meu corpo.

É difícil achar emprego quando não se é qualificada, e mais difícil ainda quando as pessoas te conhecem e fazem de tudo para ficar longe de você. Já fiz várias entrevistas e até agora nada, tenho certeza que vou virar pedinte.

- Procurando emprego, minha filha? - Uma senhorinha para na minha frente, ela estava segurando uma bengala e parecia ser rica, já que estava vestida com roupas de marca boa, cabelos arrumados, maquiagem leve e muitas joias.

- Sim, mas está difícil- Ela puxa a cadeira e senta na minha frente, até me espanto, pois as pessoas dessa cidade nem querem olhar na minha cara.

- Você acharia estranho se eu te oferecesse um? - Diz sorridente.

Querido Fazendeiro - LIVRO 2 ( MULHERES QUE AMAM )Onde histórias criam vida. Descubra agora