I. Enchanting

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Kingston, England — 1891

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Kingston, England — 1891

O barulho da porta abrindo e a brisa fria que passava pela fresta onde o pai de Emilia entrava, carregando em mãos as compras da semana, foram o suficiente para fazer Ellen, a irmã mais nova de Emilia, correr até o mais velho. Antes que o mesmo pudesse largar o saco de papel sob a mesa, a mais nova já enfiava a cabeça lá dentro, ansiosa para ver o que o pai havia trazido. —Comprou as maçãs, papai? — perguntou Ellen, sem tirar os olhos do saco.

Antes de responder, Edward trocou olhares com Emilia, que continuou sentada à sua máquina de costura, onde consertava um dos vestidos da irmã, para que a mesma pudesse usá-lo mais algumas vezes. —Eles não tinham maçãs hoje, El! — disse o mais velho. —Mas como Mia vai fazer a torta de maçã sem maçãs? — Ellen insistiu, fazendo a irmã engolir em seco. —Outro dia, meu amor! — afirmou Edward, depositando um beijo na cabeça de ambas as filhas, antes de pedir licença para checar a mãe delas, que não havia saído da cama hoje.

Emilia sabia que o pai estava mentindo, que a feira onde ele fazia as compras provavelmente estava cheia de maçãs, já que estava na época da colheita da fruta. O problema era o dinheiro, ou a falta dele, melhor dizendo. Desde a descoberta do problema de saúde da mãe, a situação financeira da família havia ficado ainda pior, já que agora, além da mais velha não poder mais trabalhar, ela também precisava de um remédio, que custava quase todo o salário do pai de Emilia, que como jardineiro, já não era muito.

Assim que terminou, Mia foi até a irmã, entregando a peça de roupa para a mais nova, que tinha no rosto uma expressão desapontada. —Porquê não vai provar o vestido e depois me ajuda com o almoço? — disse ela, dando um sorriso para a irmã, que saiu correndo para o quarto que dividia com a mais velha.

Depois de fazer o almoço, limpar a cozinha e ajudar Ellen a se arrumar para a escola, Emilia saiu de casa com um objetivo: conseguir maçãs para a irmã mais nova, que pedia por uma torta à semanas, desde que ouviu uma de suas amigas falar sobre o doce.

Enquanto Emilia caminhava pela pequena vila onde morava com os pais, ela cumprimentava cada um dos vizinhos que acenava, já que praticamente todos ali se conheciam, de uma maneira ou outra. Depois de caminhar por aproximadamente quinze minutos por um bosque, Emilia escalou uma colina pra lá de íngrime, onde finalmente avistou um campo coberto de grama, com o que pareciam ser pés de maçã bem no meio dele. Bingo!

Emilia não perdeu tempo e, depois de subir em uma macieira, cuidando para não se machucar, como já havia feito várias vezes, começou a colher as maçãs e encher a pequena cesta que havia trazido consigo. Enquanto colhia, Emilia ficou tão distraída que não ouviu o som de alguém se aproximar.

—O que está fazendo? — a voz repentina fez com que Emilia se assustaste, perdesse o balanço e quase caísse da árvore. —Meu Deus! Não sabe que não deve assustar uma pessoa que está em cima de uma árvore? Eu poderia ter caído! — exclamou a garota, ajustando o seu vestido, ainda de costas para o estranho. —Eu sinto muito, essa não foi a minha intenção! — adicionou ele. —O que estava fazendo lá em cima? — o estranho repetiu, fazendo ela perder a paciência. —O que parecia que eu estava faz—? — a frase morreu nos lábios de Emilia ao se virar, e finalmente perceber com quem estava falando.

Montado em um cavalo preto majestoso, estava o príncipe de Kingston, Thomas Holland. É claro que Mia já havia ouvido falar sobre a beleza do herdeiro ao trono do rei, mas ali, há apenas alguns passos de distância, ele parecia ainda mais lindo. Sem perder tempo, Emilia se reverenciou. —Alteza! — disse a garota, se curvando em frente ao príncipe. —Você pode se levantar. — ordenou Thomas, descendo do seu cavalo e dando alguns passos até Emilia, que sentiu as bochechas corarem com a proximidade repentina.

Ao perceber que a garota carregava consigo uma cesta, agora cheia de frutas, o príncipe ergueu uma das sobrancelhas. —Você estava roubando maçãs? — Thomas apontou para a árvore, fazendo Emilia arregalar os olhos. —Não, eu estava... colhendo maçãs. — afirmou ela. —E por acaso você tem autorização para colher as maçãs das plantações do castelo? — a pergunta fez com que Emilia arregalasse os olhos.

Ela sabia que estava encrencada, mas por algum motivo, sentiu que não precisava temer.  —Essas macieiras são suas? — Emilia perguntou, mesmo já sabendo a resposta. —Tudo o que você vê daqui até o castelo, pertence à família real. — o príncipe cruzou os braços, evidenciando ainda mais seus músculos que Mia, com certeza, não estava olhando.

Respirando fundo, ela tentou se explicar. —Bom, primeiramente, eu não sabia que essas terras pertenciam ao castelo. E também, foram só algumas maçãs, quero dizer, não é como se vocês fossem sentir falta. — Emilia sabia que havia escolhido as palavras erradas assim que viu a expressão do príncipe mudar. —Eu não deveria ter dito isso. — ela murmurou, sentindo que estava cada vez mais perto de conhecer uma das celas do castelo.

Foi só quando viu o príncipe sorrir que Emilia soltou o ar que estava segurando. —Tudo bem, você está certa. Mas tem sorte que eu lhe encontrei, caso algum dos guardas te pegasse roubando maçãs, eles não seriam tão gentis. — afirmou o moreno, sem tirar os olhos dela. —Eu sinto muito! Eu juro que não sabia que essas terras pertenciam à família real. Eu só... a minha irmã mais nova vem pedindo por uma torta há dias e, como não tínhamos as maçãs, eu... — Emilia cortou o seu monólogo ao perceber que o príncipe á encarava. —Me desculpa, você deve ter mais um milhão de coisas á fazer e eu aqui o importunando. — murmurou a garota, se sentindo uma idiota. —Não se preocupe, eu não tenho mesmo onde estar. — Thomas sorriu, dando um passo à frente.

Agora de perto, Emilia podia ver as sardas que decoravam o rosto do príncipe, assim como seus olhos, que apesar de castanhos, tinham pequenos pontos de iluminação dourados, o que os faziam parecer uma constelação de estrelas e planetas.

Thomas, por sua vez, não conseguia tirar os olhos da garota à sua frente, que mesmo em um vestido simples, e os cabelos dourados presos em uma trança bagunçada, tinha uma beleza que não se comparava à nenhuma das garotas  que ele havia conhecido.

—Como você se chama? — indagou o príncipe, que por alguma razão, sentiu que deveria saber mais sobre a garota. —Emilia, mas todo mundo me chama de Mia. — ela respondeu, colocando um fio de cabelo atrás da orelha. —Mia, eu me chamo... — as palavras do príncipe foram cortadas por alguém gritando seu nome.

De longe, outro cavalo se aproximava deles, dessa vez com um garoto loiro sobre ele. —Tom! O que está fazendo? — indagou o garoto, parando ao lado deles. —Harrison, essa é Emilia! — disse o príncipe, apontando para Mia, que novamente se curvou em reverência. —Isso não é necessário. — afirmou o garoto, continuando ao vê-la se levantar. —Eu não faço parte da realeza, sou só o assistente de ordens desse aqui. — disse Harrison, fazendo o príncipe rolar os olhos. —E melhor amigo! — adicionou Thomas, sorrindo para o amigo.

Trocando olhares entre Emilia e o amigo, Harrison coçou a garganta. —O que vocês estavam fazendo aqui? — indagou o garoto, notando a expressão apreensiva de Emilia, que parecia não tirar os olhos de Tom. —Oh, Emilia só estava... colhendo maçãs. Com a minha permissão, é claro. — o príncipe exclamou, e Harrison não pode deixar de notar a expressão de alívio de Emilia, que lançou um olhar de gratidão à Tom.

—Bom, eu tenho que voltar pra casa agora. O sol já vai se por. — disse Emilia, chamando a atenção do príncipe. —Quer que um de nós a acompanhe até a sua casa? — Tom ofereceu, mas ela logo balançou a cabeça. —Não, tudo bem! Obrigada por... ter me deixado colher as maçãs! — Mia sorriu, iluminando o olhar de Tom. —Sem problemas! — ele exclamou, também sorrindo.

Com uma última reverência, Emilia deu as costas e seguiu em direção à vila, enquanto Tom observava tudo com uma expressão que Harrison conhecia muito bem no rosto. —Nem pense nisso! — avisou o loiro. —Não sei do que está falando, Haz! — disse o príncipe, montando no seu cavalo. —Como se eu não te conhecesse. — Harrison balançou a cabeça, seguindo o amigo de volta ao castelo.

only if | tom holland Where stories live. Discover now