Capítulo 1: O Nascimento

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Evander Kenfi, o rei de Clastia e o grande Keki. Primogênito de Kao e com o gene keki mais forte da família, Evander tomou o trono como o predestinado para todos, e cumpriu com esse destino mediocremente. Mostrou sua força como prometeu ao seu progenitor, dominando colônias e deixando com que o mundo se curvase perante o reino de Clastia.  Não tinha quem não conhecesse e não temesse o colonizador.

O mesmo colonizador, agora está sentado em sua cadeira estofada de dourado e vermelho, paralisado, vê o fogo na clareira subindo e querendo apagar às vezes, parecendo lutar nesse frio para se manter aceso na escuridão.

Pode ser a bebida e seu corpo já está se entregando ao delírio do álcool, mas o homem se pergunta se não é hora de se apagar. Como um fogo, o homem de pele escura e com pequenas despigmentações em seu corpo, em seus 45 ciclos, observa que a glória em seu legado foi curta e o tempo amargurou como vinho. Uma hora era um azedo adocicado, mas agora se tornou tão azedo que lembra vinagre. Não desce, somente engolem, mas ninguém suporta mais.

Clastia deve entender esse sentimento quando se trata de mim, pensa Evander. Após suas conquistas, o decair não veio de fora, mas sim de dentro, inesperadamente uma crise caiu em mãos no reinado do Kenfi e agora terá que resolver isso antes que ameace todo seu legado. Uma crise como essa em que pessoas estão ao ponto de passar fome, por mais que Evander não saiba por onde começar as soluções, ele sabe as consequências. Um povo com fome, é um povo furioso.

Só que não há o que ser feito, não há dinheiro para população. Não há gastos a serem cortados para isso. Clastia está na pior crise de sua história e Evander não pode fazer nada além disso. Todos os dias, o que lhe resta é sentar em uma clareira e cantar com sua garrafa de vinho esperando por respostas ali.

— Ainda cantando o de sempre, vossa majestade? — O homem se vira para olhar a figura do guarda.

— Elias Jan, parece que se perdeu novamente em meus aposentos, uh? — Evander ri do novato guarda que começou a visitá-lo todos os dias que vinha para cá.

O Jan é um guarda de pele negra escura que começou recentemente a ser treinado pelo melhor amigo do rei, Joseph. Devidamente apresentados, não demorou para que juntamente os inconvenientes na sala secreta do rei, que antigamente se tratava de uma linda e extravagante biblioteca, acabaram unindo os dois lados. Evander acabou adotando o adolescente como sua criança e conselheiro sentimental, mesmo que nunca ouvisse nada o que todos tinham a dizer.

— Dessa vez, Joseph me mandou.

O semblante de Evander se fecha novamente. Ouvir o nome do melhor amigo nunca foi tão ruim quanto nos últimos ciclos, desde a queda de Clastia. Joseph não foi colaborador com o rei durante esses ciclos, usando de seu título de irmandade para o derrubar. Evander consegue visualizar as intenções do melhor amigo, e a decisão de apoiar a parte do conselho que torce pela abdicação de seu trono mostra o quanto seu amigo o ama. No fim, todos querem lucros por cima de sua derrota.

— Então, é melhor dar dois passos para trás e se virar até a saída rapaz. — O keki não aguentou.

— Joseph está preocupado com a vossa majestade. A reunião do conselho acontecerá hoje e se vosso rei não apresentar uma solução para os problemas, estaremos preocupados com o futuro dos Kenfi na liderança do reino… — O rei de cabelos acastanhados e ondulados esfrega sua testa e mira os olhos no armário de facas.

— Elias… me diga, rapaz. Você teria uma solução em meu lugar? — O rei se vira olhando firme para Elias.

— Vo-Vossa Majestade…

— Me diga o que pensas. Não tenha medo.

— E-Eu… eu acho que… se não temos ideias, não temos soluções, ou lutamos para encontrá-las ou somente desistimos, vossa majestade. Não há sentido martelar a mesma pedra se ela já está quebrada.

Viva o Rei | livroWhere stories live. Discover now