O Crescimento

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— Foco.

Já é a quarta vez que Elias endireita a postura de Élio no pau de madeira fincado no montinho de areia. O garoto solta um grunhido de dor,  mas não movimenta um músculo sequer para não despertar aqueles olhos nublados do koku mais velho em sua direção. Elias Jan é um general agora, com a postura e firmeza de um, mas por consequência do destino é professor de Élio também para criá-lo o futuro rei de Clastia.

O mais novo nunca entendeu como as coisas foram programadas, já nasceu entendendo que o koku era seu professor e que todos os restos eram servos. Por muito tempo, procurou pelos seus pais no imenso castelo de ouro do deserto clastiano, uma estrutura feita de puro ouro e esmeralda residido nos jardins de água que o mundo de Tiyvatti os concebeu. Depois dos oito anos, ele desistiu, seus pais em sua cabeça provavelmente nunca chegaram a existir e sua existência pode se passar de um mistério para o mundo.

Aos 13 anos, se preocupa com seu treinamento, e em seguir sua vida como um rei. Não entende ainda seu título, mas sabe que foi honrado a essa posição de forma inesperada e que ninguém teria a chance como ele. No entanto, em momentos como agora, preso em um pedaço de madeira e expelindo suor por seus poros o que se passa na sua cabeça é a pergunta do porquê ele foi merecido a isso.

— Concentração Élio, está viajando de novo em pensamentos? — Elias ainda faz o favor de puxar a corda que segura-o, deixando com que meu pulmão e estômago sejam esmagados.

— Eu quero desistir. Eu quero sair, eu não aguento, senhor Jan. — O garoto respira fundo, sua vontade é de soltar as lágrimas que se acumulam em seus olhos, mas a dor é tanta que não encontra forças nem para chorar como uma criancinha faria.

— Tem certeza? Está batendo seu recorde, Élio. As tempestades de areia irão começar daqui a pouco e então acabaremos por aqui. — As falas do general são indutivas, incentivando o mais jovem a um limite nunca antes obtido por um soldado.

Ninguém treinado pelo homem conseguiu antes ficar tanto tempo na barra de madeira, mas Elias queria testar os limites do príncipe. Viu o garoto resistir a uma tempestade de neve nunca antes vista antes, em sua cabeça, ele sente que o garoto de pele negra retinta pode mais que qualquer um ali. Principalmente, dentro dos eixos apresentados, Elias quer que o garoto chegue em seu limite e mostre todo o seu valor quando se reerguer. Ele quer que todos os homens do ministério paguem com a língua quando ver o rei ascender.

— Senhor… — Élio não consegue responder, prefere ficar calado para que a dor diminua.

— Só mais um pouquinho, Élio, só mais um pouco. — Grita o mais velho vendo o garoto começando a ficar roxo.

Resta somente mais um segundo para o príncipe bater o próprio limite e ir para algo mais fundo, mesmo que o rapaz esteja sendo sufocado pela corda e esmagado na madeira, seu treinador precisa ser firme nesse momento e não ter piedade. O general queria abusar mais do garoto e esperar as tempestades de areia, mas era perceptível de longe que o menino iria desmaiar se passasse mais um tempo sem respirar, então mesmo não gostando da ideia, o Jan solta as cordas e escreve no quadrinho o placar atual do garoto. 6h 83 min e 33s, dois segundos a mais que anteriormente.

— Batemos o recorde ainda. Venha, pode sair. — Elias oferece seu braço para que o garoto se jogue nele e possa descansar.

— Você é malvado.

O koku mais velho como mais forte e treinado, leva o garoto no colo em meio às areias do deserto que abraçam seus pés com carinho, mas tentam lutar contra sua saída do lugar. O Jan achava bonita a relação de sua terra com o homem, via como um local que realmente ama seus filhos e que cuida deles, pois ela abraça, zela e festeja sua presença com o calor. Pode haver escassez e o excesso de calor muitas vezes não é bem vindo, mas algo dentro de Elias ainda sentia um carinho por Clastia.

Viva o Rei | livroWhere stories live. Discover now