Capítulo Sessenta

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— Como estão as coisas? — Sussurrou para Érico.

Lipe dormia no meio deles.

— Com Bico, quero dizer.

— Foi ótimo.

— Ele está aqui?

Érico deu uma risadinha abafada.

— Não. Estamos só nós.

Joaquim achou aquilo um alívio divino.

Depois que Koper e Agário foram embora, ele precisou encontrar tempo para ficar a sós com os meninos, mas Aloísio puxou Lipe para uma conversa nos mínimos detalhes sobre o voo nos balões de ar quente, e Érico estava do lado de fora até uma garoa começar e ele ser forçado a entrar. Joaquim tomou banho e esperou os dois na cama.

— Quer conversa?

— Não estamos fazendo isso neste instante?

Joaquim revirou os olhos, porém estava muito escuro para que Érico pudesse ver. Se visse, sorriria daquele jeito fofo que Joaquim adora.

— Acho que devemos aproveitar estarmos aqui. Em Sinka. Podemos... — Podemos ser nós mesmos. Sem temor. As palavras ficaram presas na sua garganta, pois doía, de certa forma, dizer aquilo. Doía saber que tinha de aproveitar apenas um momento e não uma vida inteira, como seria o planejado.

— Eu sei. Aproveitaremos. Mas não paro de pensar no que estar por vir. Teremos que lutar.

— Estaremos juntos.

— Eu sei — repetiu.

— O que quer fazer amanhã?

— Podemos dormir o dia inteiro — gemeu —, eu adoraria.

Joaquim riu com vontade. Lipe se mexeu no meio deles e se encolheu.

A sua risada cessou.

— Podemos ir a alguma padaria ou teatro. Fazer algo completamente normal. Para variar.

Érico bocejou e disse que sim, tudo bem.

— Boa noite — acrescentou.

— Boa noite — Joaquim respondeu. Ele tocou no colar, que quando conferiu pela última vez, ainda estava com as gravuras em cada uma das três partes em que se abria. Aquilo se tornara motivo para ele ter esperança de que ficariam bem.

A coroa, a flecha e faca.

Antes do meio-dia, eles haviam experimentado diversos bolos. Érico gostara do de abacaxi, Lipe adorou o de chocolate e Joaquim se deliciou com um de laranja. A proprietária da padaria havia feito com que eles se sentassem em uma mesa longa, com diversos pedaços de tortas e sobremesas, havia um bolo de fubá que Joaquim jurou que era sua comida preferida para sempre. Eles usaram as moedas que ganharam em Mifram para pagarem a moça gentil de bochechas rosadas da padaria.

— A rainha deve se orgulhar de suas receitas — comentou com a mulher. Que desmanchou seu sorriso por um leve momento antes de assentir.

— Sim, ela... Adora. Obrigado.

Após a comilança eles foram para perto da mina, onde alguns homens trabalhavam.

— Parece perigoso — Lipe dissera.

— Todas as joias que eu tinha vieram dali — Érico murmurou, parecia reflexivo. Então ele estremeceu de repente. — Aonde vamos agora?

Eles não tinham muita opção durante o dia, pois o teatro só abriria à noite.

— Podemos nadar ou finalmente dar um sermão em Tayson.

— Ou —Lipe disse — podemos fazer a coisa mais normal neste momento e ir até ali.

Coroa, Flechas e Correntes (Romance Gay)Where stories live. Discover now