Burocracia Ipeirana

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A porta da lojinha se abriu e Arturo deslizou para dentro como um bandido fugindo da polícia. Lá fora o sol já tinha se escondido indo iluminar outros países. Era começo de noite e com isso o ar frio vinha trazendo um sereno fraco.

Lá dentro Jasper sentado no balcão esperava por ele, brincando com dados de vidro flutuantes entre os dedos.

— Com toda certeza levou seu tempo...

— Nem todo mundo se teletransporta de um lado para o outro! — Arturo respondeu para ele com certa rudeza, avançando contra o homem em roupas estranhas. Então olhou para Dilma e parou. — Oi.

— Vai precisar disso. — Jasper enfiou a mão no bolso e tirou um colar com algo parecido com uma pedra negra presa como pingente.

— Para? Quem é você? O que está acontecendo? O que foi aquilo no meu quarto? — Arturo nunca foi o tipo de rapaz que tomava a dianteira e demandava respostas, mas aquela situação havia chegado no limite.

— Explique as coisas para ele primeiro. — Dilma disse para Jasper enquanto ia até a prateleira e pegava a lamparina e voltava para o balcão, de onde Jasper já descera. — Ele é como uma espécie de sábio, Arturo, mas você vai perceber que ele é mais irritante que um sábio deveria ser ou parecer.

— Vamos logo com isso, não posso ficar muito tempo desse lado. — Jasper esticou o braço. — Vamos, pega.

Na mão, o colar. Arturo olhou para Dilma e ela fez que sim com a cabeça. Por algum motivo que ainda lhe era desconhecido Arturo confiava em Dilma mais que confiava naquele homem estranho de roupas estranhas.

— Isso serve para anular sua presença, bloquear a sua energia, assim ninguém pode te rastrear e não ficará resíduos da sua viagem.

— Resíduos?

Jasper então deu um passo para frente e pegou o pulso de Arturo, com a outra mão em cima de seu antebraço fez um movimento como se puxando algo e um risco acinzentado saltou das suas veias para a pele, se erguendo como riscos de manchas solares na superfície do sol, retornando à sua pele, retornando para dentro do corpo dele, como minhocas parasitas feitas de plasma. Arturo recuou dois passos puxando o braço e fazendo uma cara de nojo e surpresa, ao mesmo tempo parecia em êxtase, encarava o próprio braço, então olhava para Jasper e para Dilma.

— Você é isso, todo o seu corpo está cheio disso. Quando você usa uma chave dimensional parte fica para trás, um rastro de energia, quem seguir consegue ir para o mesmo lugar que você foi, seja da origem para o destino ou do destino para a origem. O colar impede que isso aconteça.

— E por que não pode acontecer? E seu rastro...

— Que o véu se parta em dois, vamos logo. — Jasper praguejou erguendo os dados e para Arturo foi um segundo, mas para Jasper o tempo parou, ele colocou o colar no pescoço de Arturo, girou o ponteiro da lamparina e soltou o tempo ao redor deles.

— Mas o quê...

Arturo não teve tempo. As paredes se abriram, Jasper segurava o pulso do garoto com força, de forma que ele não conseguiu, embora tenha tentado, se desvencilhar.

— Se você se soltar de mim aqui, você vai ser despedaçado. — Ele avisou, mas não moveu os lábios. As palavras vinham de dentro da cabeça de Arturo, saiam direto da cabeça de Jasper.

E eles podiam se mover.

As roupas de Jasper e então as de Arturo, se apertaram em seus corpos. Ele viu a expressão do jovem de pânico quando tudo se soltou e ele usava um colete e uma capa e não a calça e camisa de antes.

As paredes se erguiam trazendo o céu ali ainda estava claro, era fim de tarde. O castelo surgiu no fim da avenida, as construções estranhas, o movimento intensificado de pessoas.

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⏰ Last updated: Mar 05, 2023 ⏰

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O Herdeiro; A ascensão das trevasWhere stories live. Discover now